Linduarte Noronha, realizador pernambucano-paraibano, tornou-se célebre graças ao seu trabalho como documentarista, a exemplo de Aruanda (1960), marco do Cinema Novo que retratava o cotidiano dos quilombolas de Santa Luzia, interior do estado. Mas, antes de se tornar diretor, ele esteve nas páginas de A União, diariamente, dissecando os lançamentos das salas de cinema da capital. O livro Luz, Cinefilia… Crítica! – Arqueologia e Memória do Crítico Linduarte Noronha, com organização de Lúcio Vilar, reúne alguns desses textos. A obra será lançada amanhã, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e na próxima quinta-feira (5), às 18h, na abertura do Fest Aruanda, em João Pessoa.
Luz, Cinefilia… Crítica! parte de pesquisa desenvolvida por Lúcio, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para o Departamento de Mídias Digitais (Demid) e contou com a participação do estudante Juan Vilar. A empreitada demandou três anos e utilizou como escopo o arquivo de A União; o recorte de tempo vai de 1956 a 1968. O livro, também publicado pela Editora A União, reproduz os textos selecionados, assim como traz impressa, junto a cada crítica, a página em que ele foi veiculado originalmente.
Registro
O livro, publicado pela Editora A União, reproduz os textos selecionados, assim como traz impressa, junto a cada crítica, a página em que ela foi veiculada originalmente
As críticas não dão conta apenas dos lançamentos da época — alguns deles, filmes clássicos como Luzes da Ribalta (de Charles Chaplin, 1952), a animação A Dama e o Vagabundo (de Wilfred Jackson, Clyde Geronimi e Hamilton Luske, 1955) e Vidas Secas (de Nelson Pereira dos Santos, 1963). O espaço de Linduarte no jornal também foi utilizado para tecer comentários sobre o “fazer” e o “consumir” cinema, a exemplo de “Universidade e fotograma” (texto publicado em março de 1963), sobre a produção audiovisual na UFPB, e as duas partes de “Cinema Novo” (de dezembro de 1961), dando conta do movimento do qual fez parte e que estava começando.
As apresentações do livro são feitas por Tânia Maria Queiroga Nóbrega, diretora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) e por Naná Garcez, diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC). Naná, a propósito, ressalta fala de Linduarte, que definia o cinema como “patrimônio artístico dos mais importantes”.
“[Ele] fez críticas contundentes às salas de exibição que davam pouco espaço ao cinema nacional e igualmente aos órgãos oficiais de estímulo à produção de filmes”, escreveu a gestora.
O livro conta também com um apêndice, que agrupa resenhas contemporâneas sobre os textos de Linduarte: pesquisadores, docentes e outros críticos, como os paraibanos João Batista de Brito e Fernando Trevas, lançam seus olhares sobre os temas abordados, décadas antes, pelo conterrâneo. Luz, Cinefilia… Crítica! estará disponível para venda durante sua estreia no Fest Aruanda, e, a partir da sexta-feira (6), na Livraria A União, do Espaço Cultural, em João Pessoa, pelo valor de R$ 60.
O organizador, Lúcio Vilar, destaca um dos textos que mais o surpreendeu durante a pesquisa, sobre o curta-metragem O Pátio (1959), um dos primeiros de Glauber Rocha. Ele salienta o legado de Linduarte em sua trajetória no cinema — passando da crítica para a frente das câmeras. “Esse exercício diário foi resultante da cinefilia enquanto fenômeno cultural que marcou essas décadas de forma avassaladora para suas gerações. Eis um arco que reuniu cinefilia, crítica e produção cinematográfica propriamente dita”, finaliza.
Luz, Cinefilia…Crítica! – Arqueologia e Memória do Crítico Linduarte Noronha
- De Linduarte Noronha. Organizador: Lúcio Vilar.
- Editora: A União
- 289 páginas
- Preço do livro: R$ 60
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 01 de dezembro de 2024.