O grupo Os Fulano completa 10 anos de carreira com o lançamento do álbum Rojão, que chega hoje nas principais plataformas de streaming com uma novidade: é o primeiro álbum visual no universo do forró pé de serra, composto de oito músicas autorais com seus respectivos clipes gravados em cenários emblemáticos das ruas de João Pessoa. Para divulgar o novo trabalho, eles planejam, este ano, uma turnê pelo Sudeste.
A ideia de lançar Rojão como álbum visual veio a partir dos primeiros contatos com a equipe que fazia a captação dos vídeos do grupo, que aceitou a sugestão e começou a produzir. “É algo que traz uma cronologia, é um filme, e nós pensamos nesse formato para ser mais atrativo, para que o público enxergue o que está sendo cantado. É mais interessante do que apenas ouvir. Ouvir dá a liberdade da interpretação mental, mas com a ideia do álbum visual se consegue enxergar direitinho o que foi produzido, pensado e planejado”, explica Betinho Lucena, voz e triângulo.
O grupo pesquisou e constatou que não há nenhum álbum visual lançado na perspectiva do forró. “Estamos sendo pioneiros nesse formato para a cultura nordestina, para o forró, especificamente”.
Rojão é um trabalho planejado e feito durante o período da pandemia. No contexto do isolamento social, o lançamento precisou ser adiado, mas ali os músicos trataram de saudade. “Acho que essa é a palavra-chave desse trabalho porque em praticamente todas as músicas colocamos um pouco disso, em algumas até muito”, comenta Lucena. A ideia é transparecer que esse período de saudade foi de muita dor por conta das perdas, das idas sem volta. “O que queremos é deixar claro que as dores causadas em cada um são feridas permanentes, mas que vão cicatrizando, e a música ajuda nesse processo”, pontua.
Das oito músicas, sete são de Lucas Dan e uma de Betinho Lucena, com arranjo compartilhado entre Os Fulano. Além da saudade, outros temas são abordados. Em ‘Toda Autoridade’, de Lucas Dan, por exemplo, o foco principal é a imagem da mãe como um ser forte. A música de Betinho Lucena, ‘De Lascar o Cano’, mistura o tema com o respeito nas relações, associado à questão do “Não é não”. A primeira música do álbum visual é ‘Pipoco do Trovão’, de Lucas Dan, e fala sobre as correrias do dia a dia e a força que o povo tem.
Sobre as outras músicas, Betinho Lucena diz que é preciso assistir e tirar as próprias conclusões. “Nós deixamos as interpretações e análises para quem for assistir e receber um aconchego e um abraço bem grande através de Rojão”.
Se, por um lado, o álbum visual passeia por esse período sombrio da pandemia, por outro, vislumbra uma pegada junina, com a alegria característica dessa época do ano. “O mês de junho, Rojão e Os Fulano têm uma conexão muito grande. Nós somos uma banda de forró e ficaria impossível trabalhar num contexto fora dessa ideia. O forró faz parte da vida da banda e da vida de cada um”, observa o músico. Mesmo fora dos palcos, o grupo tenta viver o forró na sua forma mais genuína, sempre estando perto do povo. Por isso, a conexão entre o álbum, a banda e o mês de junho é tão forte. “Esperamos que as pessoas consigam se identificar com os trabalhos produzidos agora, com as imagens que vão ser colocadas, que consigam ter essa identificação cultural, local, de amor ao seu terreiro, a tudo que é produzido não só por nós, mas tudo que é produzido aqui. Que as pessoas possam ter essa relação de identificação cultural e de representatividade”, acrescenta Betinho Lucena.
Em 10 anos de carreira, Os Fulano lançaram dois EPs, três singles e alguns clipes. “Quando olhamos para trás, vemos que a construção tem sido bonita e feita com bastante carinho. Isso tem que ser comemorado da melhor forma possível. Rojão traz um processo comemorativo para nós”.
O momento agora é de continuidade. A banda tem pensado no trabalho contínuo, sólido. O músico diz que esse momento pode ser de algumas mudanças. “Pegar o que existe de bagagem e colocar ali o que temos de aprendizado e, nesse processo de continuidade, consigamos inserir algumas coisas que temos planejado”, acrescenta.
A banda tem em mente algumas atividades para 2024, como o lançamento de músicas. Uma delas, inclusive, já está gravada com a rainha Anastácia. Além de Betinho Lucena, a banda é composta pelos músicos Lucas Dan, na voz e acordeon; Jader Finamore, voz e cavaquinho; Thiago Melo, voz e zabumba.
Cenários do cotidiano
As produções audiovisuais foram gravadas em oito cenários diferentes da cidade: Centro Histórico, rodoviária, estação de trem, Mercado Público Central, Praça da Paz, Bar do Baiano (estas duas no bairro dos Bancários), e a Granja Xanadu (no Castelo Branco), que serviu para a gravação de duas músicas. “Temos um carinho enorme por esse lugar porque boa parte d’Os Fulano já morou no bairro e temos um contato muito grande com pessoas do bairro, familiares ainda moram por lá. Nada mais justo do que gravar algo no nosso ambiente, no nosso habitat”, destaca ele.
Betinho Lucena diz que cada lugar escolhido para gravar tem valor afetivo para cada um dos músicos. “O forró tem, em sua essência, o povo. É uma música do povo, feita para o povo e pelo povo. Praça, mercado, rodoviária e bar são lugares que frequentamos e vemos o povo no seu formato do cotidiano, pegando um trem, indo ao mercado fazer sua feira e ali sabemos que o forró está presente do jeito que acreditamos, onde vemos verdade”.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa de 4 de abril de 2023.