por Guilherme Cabral*
A obra pintada a óleo em 1954, Circo Garcia, de autoria do artista plástico paraibano Hermano José (1922-2015), integra a mostra Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil, que acontece no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, até o dia 7 de agosto deste ano. “Os organizadores do evento gostaram muito dessa obra e o Serviço Social do Comércio se comprometeu com o transporte, o seguro e patrocinou o restauro da pintura, procedimento que foi feito em João Pessoa, o que foi muito importante porque a revitalizou e permitiu que agora esteja em bom estado de conservação para ser vista pelo público”, disse o pesquisador, produtor e gestor cultural Alexandre Santos Arantes de Souza, diretor do Museu Casa de Cultura Hermano José.
Alexandre Santos também infirmou que essa ação faz parte da programação que, em 2022, celebra o centenário do saudoso artista paraibano, que nasceu na cidade de Serraria, localizado no interior do estado.
O diretor do Museu Casa de Cultura Hermano José descreveu que a pintura Circo Garcia tem dimensões de 125 cm de largura por 96 cm de altura e retrata o interior desse tradicional circo, que é considerado o mais longevo do Brasil, pois permaneceu em atividade durante mais de 70 anos. “Essa obra de Hermano José está em exposição no Núcleo 3 da mostra do Sesc, em São Paulo, chamado Eu vou reunir, eu vou guarnecer. Essa mesma tela tem traços mais livres de Hermano José, que não faz um registro exato, mas revela as artes circenses, como malabarismo, palhaços e diversas outras expressões dessa arte circense. Hermano José fez duas obras sobre o Circo Garcia. A outra obra foi pintada em 1953 e retrata o exterior do circo e o que o rodeia, num ambiente bucólico”, revelou o pesquisador.
A obra de Hermano José se caracteriza por retratar temas da natureza e o abstrato. No entanto, na opinião do pesquisador Alexandre Santos, a tela Circo Garcia demonstra a versatilidade do pintor. “Hermano era um artista multifacetado, que inclui fases como a do meio ambiente, com temas sobre a natureza, já que era ecologista, a exemplo da barreira do Cabo Branco e de outras falésias, como as existentes no Litoral Sul, numa simbiose das artes com as causas ambientais, mas também a neoconcretista, além de gravuras e seu lado de colecionador, pois possuía coleções de arte sacra, louças israelenses, chinesas e norte-americanas, além de professor, gestor, teatrólogo, poeta e crítico de arte. E, recentemente, descobrimos sua faceta como fotógrafo amador, até então desconhecida, com registros de várias épocas, incluindo de sua cidade natal, Serraria, onde passou a infância. São fotos nas quais ainda vamos trabalhar para identificar, por exemplo, alguns locais onde foram tiradas”, afirmou ele.
O pesquisador não soube precisar se Hermano José pintou os quadros Circo Garcia em João Pessoa, durante a visita da trupe na cidade, ou no Rio de Janeiro. “Hermano se radicou na Cidade Maravilhosa em 1956, para onde foi transferido como funcionário do Banco do Brasil e lá residiu por duas décadas, mas, antes disso, ele costumava visitá-la. A obra de Hermano José foi escolhida para a exposição em São Paulo porque o Núcleo onde está é dedicado às festas, expressões e manifestações populares do Brasil e a tela registra essa expressão popular milenar que é o circo, além de Hermano José ser um artista paraibano que também representa aspectos modernistas”, comentou Alexandre Santos.
É a primeira vez que um processo de empréstimo, por meio de parceria entre instituições – ou seja, o Museu Casa de Cultura Hermano José da Universidade Federal da Paraíba, a Sala Hermano José e a Pinacoteca da Universidade Federal da Paraíba – formaliza a saída de uma obra do acervo da UFPB e foi acompanhado pela vice-reitora, Liana Filgueira, tendo o ato sido assinado pelo reitor da instituição, Valdiney Gouveia. O objetivo da mostra em São Paulo é refletir criticamente sobre o centenário da Semana de 22, repensando a centralidade do evento a partir de uma ampliação cronológica e geográfica das manifestações modernistas, propondo ao público a certeza de que a noção de arte moderna no Brasil é tão diversa quanto as múltiplas culturas, sotaques e narrativas que compõem um país de dimensão continental.
Inauguração do museu
O diretor do Museu Casa de Cultura Hermano José, Alexandre Santos, informou que a previsão de inauguração desse espaço é em julho, mês em que ele completaria 100 anos, no dia 15. “Estamos nos organizando, realizando os últimos ajustes administrativos e burocráticos, e estamos finalizando o processo de curadoria, mas a reforma do local já foi finalizada e vai funcionar na residência atelier onde Hermano José morou, no bairro do Bessa, que será Museu-Casa. Haverá galerias para exposições de curta duração como também de longa, a exemplo da que vai ser sobre a vida e obra de Hermano José”, explicou ele.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 10 de maio de 2022