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Com previsão para este ano, Bruno Ribeiro conta sobre a produção do livro a respeito da “barbárie de Queimadas”

Obra investiga feminicídio na PB

publicado: 11/05/2022 08h59, última modificação: 11/05/2022 08h59
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Foto: Marcinha Lima

por Guilherme Cabral*

Foi um crime muito absurdo, aterrorizante, pesado e bizarro. Fiquei com isso na cabeça, pensando em como isso pode acontecer”, confessou o escritor, tradutor e roteirista mineiro – radicado na cidade de Campina Grande – Bruno Ribeiro, referindo-se ao estupro coletivo de cinco mulheres ocorrido em 2012, no município de Queimadas, no Agreste da Paraíba, das quais duas morreram. O evento o inspirou a produzir um livro-reportagem que, em setembro de 2020, lhe tornou vendedor da primeira edição do Prêmio Todavia de Não Ficção, realizado pela editora paulista de mesmo nome. “Esse fato ficou na minha história e espero que o livro seja útil para as vítimas e que possa trazer mais dignidade para as vítimas e até justiça”, comentou o autor, que concluiu o trabalho de pesquisa da obra, já enviou o texto final e informou que a expectativa é de que seja lançada até o final deste ano.

Ribeiro iniciou o trabalho de pesquisa no dia 17 de janeiro de 2019. Conhecido como “a barbárie de Queimadas”, o crime aconteceu quando, com o intuito de “presentear” o amigo na data em que comemorava o aniversário, 10 homens praticaram o estupro coletivo contra cinco mulheres, na madrugada de 12 de fevereiro de 2012. “Quando foi divulgado o resultado, a própria Editora Todavia sugeriu que eu poderia esticar mais o livro, mergulhando mais no enredo. Então, já concluí essa pesquisa no mês passado e enviei a obra, que ainda não tem título, para a editora. O livro vai entrar em processo de edição e talvez a Todavia possa querer mais ajustes no texto e, por isso, não sei ainda quando será lançada, mas espero que isso ocorra no segundo semestre deste ano”, justificou o autor.

Em 2019, o autor entrevistou os moradores de Queimadas, testemunhas e pesquisou sobre o processo e os documentos do caso. “Então, veio a pandemia da Covid-19 e continuei esse trabalho através do WhatsApp. Depois, quando passou a haver flexibilização das medidas em relação à doença, fiz mais visitas a Queimadas para dar continuidade à pesquisa. O foco maior do livro é o estupro coletivo, mas também falo sobre outros crimes de feminicídio, mas ainda não posso falar. Será meu primeiro livro de não ficção e que enfoca um crime que marcou a cidade e trouxe consequências”, afirmou Bruno Ribeiro.

Além do prêmio da Todavia, no mesmo ano, Bruno Ribeiro também foi um dos vencedores, com o livro Porco de Raça, da primeira edição do Prêmio Machado DarkSide de Literatura, Quadrinhos e Outras Narrativas, realizado pela Darkside Books em homenagem ao escritor Machado de Assis. A obra foi lançada no final do ano passado e a repercussão tem sido positiva para o autor, com muitas críticas positivas. “É o meu primeiro romance que conseguiu furar minha bolha de leitores, pois está chegando a leitores que nunca imaginava ter, a exemplo do público que gosta de terror”, confessou ele.

Nas suas palavras, Porco de Raça trata de questões raciais em um registro violento, aterrorizante e surreal. “É a história de um professor negro que, após alguns problemas na vida, termina caindo em um ringue clandestino na cidade de Buenos Aires. Neste local, ele terá que usar uma máscara de porco e lutar com outros outsiders, como ele, para sobreviver”, resumiu Bruno Ribeiro.

O escritor confessou que é difícil transitar entre os gêneros documental e o ficcional. “A não ficção requer mais responsabilidade, pois lida com fatos e pessoas e exige mais cuidados e é artesanal. A não ficção pede muito das técnicas da ficção, porque o texto não ficcional tem uma estrutura, organização, e o de ficção permite ter mais liberdade”, analisou o autor.

Curso de Escrita Criativa

Já estão abertas as inscrições para curso sobre o tema ‘Escrita Criativa: o processo e o resultado na literatura’, que Bruno Ribeiro realizará no formato digital nos dias 23, 24, 30 e 31 deste mês e 1° de junho. A taxa custa R$ 230, o número de vagas é de até 20 alunos e os interessados podem se inscrever até a primeira data do evento, por meio do site do Sympla (www.sympla.com.br) ou pelo e-mail escritacriativacombruno@gmail.com, ou ainda pelo Instagram do autor (@brunoribeiros66).

“Eu optei pelo curso on-line, que será transmitido pelo Google Meet, para ampliar o alcance para outros estados, pois essa ferramenta permite democratizar um pouco esse conhecimento, mas tenho muita vontade de fazer esse curso presencial em Campina Grande e em João Pessoa até o final deste ano”, disse ele, que tem mestrado em Escrita Criativa na Universidad de Tres de Febrero (Untref), em Buenos Aires, Argentina.

O escritor apontou que o curso terá 10 horas de duração, com teoria e prática, além de certificado. “É direcionado para qualquer pessoa que deseja escrever, seja profissionalmente ou não, e inclusive para escritores iniciantes ou já veteranos, bem como para quem queira editar ou melhorar sua redação e criatividade. Neste curso não queremos simplesmente formar escritores, pois em tão poucos dias seria impossível. Em anos seria também. O nosso interesse é focar a ideia do resultado na literatura, construindo um texto até o final, fortalecer os alunos, entregar-lhes ferramentas, leituras e imaginários novos para que possam somá-los a suas experiências e profissões”, antecipou Bruno Ribeiro.

Ele disse que fará o intercâmbio dos textos que forem produzidos entre os participantes e que cada um poderá escolher em qual gênero vai escrever.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de maio de 2022