Guilherme Cabral
"Me sinto muito orgulhoso e honrado. É um momento raro, porque a ópera é um tipo de espetáculo que não tem muita tradição no Brasil, que, agora, começa a despertar para isso”, confessou para o jornal A União o escritor e dramaturgo Tarcísio Pereira, referindo-se à Ópera do Mambembe Encantado, da qual é o autor do libreto e cuja estreia ocorreu ontem, na Sala Leopoldo Miguez, situada no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, abrindo a I Bienal de Ópera Atual, como parte da programação cultural de eventos de música erudita promovidos pela Funarte (Fundação Nacional de Arte), dentro dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, que ocorrerão no período de sete a 18 deste mês de setembro. "É um privilégio e uma honra muito grande”, disse, também, o maestro Eli-Eri Moura, que compôs a música. A montagem ainda será reapresentada hoje e amanhã, no mesmo local.
Protagonizada por quatro personagens principais (Carranca, Raquel Beleza, Alex Sandromagia e Ana Beleza), a trama da ópera de autoria dos dois paraibanos - Tarcísio Pereira nasceu na cidade de Pombal e Eli-Eri Moura em Campina Grande - trata de um triângulo amoroso entre um palhaço, um mágico e uma bela malabarista que trabalhavam num circo mambembe do interior do Nordeste. Trata-se de uma alegoria do conflito entre o imaginário e o real, que se desenvolve em uma fábula repleta de encantos e magias dentro do universo de opressão, preconceitos e miséria dos artistas circenses.
A trama da Ópera do Mambembe Encantado foi concebida a partir do romance Encanto Mambembe, de Tarcísio Pereira, que o adaptou para a forma de libreto. “Eu já estava reescrevendo essa obra, que é de 1992, e, ainda, é inédita, quando, por coincidência, recebi o convite do maestro Eli-Eri Moura para participar do projeto. Disse-lhe que estava realizando esse trabalho e, quando lhe apresentei, aprovou. O espetáculo, então, foi selecionado pela curadoria do evento, o que, para mim, foi uma grande alegria. É uma ópera com pompa e glamour, o que dá credibilidade à história”, contou o autor, acrescentando que espera publicar o livro - com o título original - em 2017.
Tudo começou quando o maestro Eli-Eri Moura recebeu convite do curador da Bienal, o compositor paulista - radicado no Rio de Janeiro - Mário Ferraro, que é o diretor Artístico do evento. “A princípio, o espetáculo seria minha ópera Dulcinéia e Trancoso, que estreou em 2009. Mas, percebi que ela não se encaixava no elenco atual, pois a ópera é maior e, em vez de fazer uma adaptação, preferi compor outra. Foi uma loucura, pois trabalhei pouco mais de 90 dias, tendo iniciado a partir de meados do último mês de maio”, disse o regente.
A expectativa do maestro é de que o público goste da ópera. “Agora, sou um mero espectador, pois, depois de concluída, olho a obra de longe. Ela passa a ter vida própria e você perde o controle”, comentou Eli-Eri Moura, que não esconde sua satisfação pelo fato de participarem do espetáculo os atores Homero Velho, Flávio Leite, Gabriela Gerluda e Lara Cavalcanti, os quais considera quatro dos principais cantores brasileiros. E ressaltou, ainda, outros aspectos relacionados a essa experiência. “O diretor de cena, Marcelo Gama, veio da Europa - onde esta radicado - apenas para trabalhar na Ópera do Mambembe Encantado, que tem a participação da excelente orquestra - com oito integrantes - de música de câmara contemporânea Abstrai Ensemble, grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O regente é Carlos Prazeres, maestro da Orquestra Sinfônica da Bahia e, também, diretor Musical do evento. A coreografia é de Rubem Gabira. O cenário - que é atemporal, colorido e realizado com materiais reciclados - e figurinos são criados pelo artista plástico Ricardo Cosendey”, disse Eli-Eri, acrescentando já estar mantendo os primeiros contatos para que a ópera seja apresentada em São Paulo, Salvador e Recife, mas sem nada definido. E, ao menos por enquanto, também não há previsão de ser montada na Paraíba.