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Os ‘dias feliz’ da vida de Adoniran

publicado: 21/03/2024 09h04, última modificação: 21/03/2024 09h04
Com o linguajar típico do compositor, ‘Saudosa Maloca’ estreia costurando as histórias de suas canções
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Gero Camilo é Mato Grosso; Paulo Miklos é Adoniran Barbosa; Gustavo Machado é Joca: personagens das histórias de canções como ‘Saudosa Maloca’, ‘Trem das onze’ e ‘Samba do Arnesto’ ganham vida | Foto: Pink Flamingo Filmes/ Divulgação

por Renato Félix*

Adoniran Barbosa, compositor, cantor, ator, símbolo de uma cidade de São Paulo de outros tempos, retratou em suas músicas personagens e cenários da capital paulista que compõem um rico quadro pendurado na parede do tempo. Cada canção como “Trem das onze”, “Samba do Arnesto”, “Tiro ao álvaro” conta uma história e várias delas foram reunidas e costuradas em Saudosa Maloca, filme que estreia hoje em João Pessoa. Na tela, o próprio Adoniran é o protagonista, ao lado de Mato Grosso e Joca, seus parceiros na letra da música-título.

Você lembra da letra: “Foi ali, seu moço, que eu, o Mato Grosso e o Joca construímos a nossa maloca”. A canção narra o lamento do trio com a derrubada do lugar onde viviam para que fosse construído um “edifício ‘arto’”. O desaparecimento de uma São Paulo “mais próxima do chão”, idílica, para dar lugar à selva de arranha-céus que é a cara da cidade hoje é o tema central do filme.

Mas, como o cancioneiro de Adoniran, o filme também é uma crônica de tipos muitas vezes engraçados e outras vezes tristes. Adoniran é vivido por Paulo Miklos, Gero Camilo é Mato Grosso e o mulherengo Joca é Gustavo Machado. Os três vivem juntos, tentando descolar algum dinheiro (sem trabalhar), enquanto não estão no bar fazendo um sambinha. A balconista é Iracema (Leilah Moreno), protagonista de sua própria canção, que sonha em ser modista.

Enquanto testemunham a vizinhança simples desaparecendo embaixo da especulação imobiliária, eles vão vivendo a vida. Joca, tendo encontros amorosos dos quais se despede dizendo que precisa voltar para casa porque a mãe, que mora no longínquo bairro de Jaçanã, não dorme enquanto ele não chegar - se perder o trem das 23h, “só amanhã de manhã”.

Em outra cena, o trio é convidado por um amigo para um samba: é o Arnesto. “Nós ‘fumo’ e não ‘encontremo’ ninguém”, diz a canção. O filme é cheio dessas expressões “adoniranianas” e momentos de humor que lembram cenas de Oscarito e Grande Otelo e outros cômicos da época.

O filme mescla a trama mais antiga com outra, com Adoniran mais velho, dividindo suas memórias com um jovem garçom - e conosco.

Filme é transposição fiel de curta do mesmo diretor

Apesar de ter Adoniran Barbosa como seu personagem principal, Saudosa Maloca não é uma biografia. É uma brincadeira com a obra do compositor, e que já havia sido feita no curta  Dá Licença de Contar, de 2015. Do mesmo diretor-roteirista, Pedro Serrano, e com os mesmos atores principais, o longa usa os mesmos diálogos e até reutiliza cenas do curta.

A ampliação da trama é maios evidente na parte “moderna” da história, aprofundando o relacionamento do músico com o jovem garçom Cícero (Sidney Santiago) e a trama própria de Iracema (que no longa é vivida por Leilah Moreno; no curta é Aisha Jambo no papel).

Pedro Serrano construiu uma carreira toda vinculada ao legado de Adoniran. Além do curta e do longa, ele dirigiu também um documentário sobre o compositor, chamado Adoniran - Meu Nome É João Rubinato (2018), agora dedicado a contar a história real do autor de “Saudosa Maloca”.

Através do link, acesse no YouTube o trailer de ‘Saudosa Maloca’

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de março 2024.