Tudo começou com um cachorrinho? Não exatamente. Mauricio de Sousa – O Filme conta a história do criador da Turma da Mônica desde a infância, muito antes de ter criado o Bidu, seu primeiro personagem em 1959. O filme estreia hoje em cinemas de João Pessoa e Patos, bem a tempo de celebrar os 90 anos do cartunista, que serão completados na próxima segunda (27).
As histórias da vida de Mauricio já foram contadas diversas vezes: por ele mesmo em colunas de jornal reunidas em livro nos dois volumes de Navegando nas Letras, e em uma autobiografia; e por outros artistas nps álbuns em HQ Mauricio de Sousa – Biografia em Quadrinhos ou Memórias do Mauricio. Agora chegou a vez de a história tomar a tela grande, com direção de Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado, e com Mauro Sousa, filho de Mauricio, ator e muito parecido com o pai, no papel principal.
A escolha de Mauro para o papel, além da semelhança física, é muito simbólica. Os filhos de Mauricio de Sousa (dez, no total) sempre serviram como inspiração para suas criações artísticas, a começar pela maior delas, a dentucinha Mônica, em 1963. Mauro, no caso, inspirou Nimbus, personagem lançado em 1994.
Mais do que isso, Mauro Sousa integra, desde março, a diretoria executiva do estúdio, que de Mauricio de Sousa Produções passou a ser conhecido como MSP Estúdios. A diretoria é formada também pela irmã Marina, Marcos Saraiva (neto de Mauricio, filho de Mônica) e Fábio Junqueira, há mais de 15 anos na empresa.
A missão do filme é a de contar uma história de batalha que levou Mauricio de Sousa a se tornar o mais bem sucedido artista dos quadrinhos brasileiros. O esforço foi combinado com muita estratégia para distribuir suas criações para os jornais brasileiros nos anos 1960, mesmo com pouco dinheiro para investir no negócio.
Hoje a Turma da Mônica é uma marca que já vendeu mais de um bilhão de gibis e está presente em livros, desenhos animados na TV e na internet, filmes para o cinema, peças de teatro e merchandising dos mais diversos produtos. Um patamar que coroa o sonho que Mauricio teve desde criança de ser desenhista.
O filme mostra o nascimento desse amor pelos gibis, a persistência diante do descrédito geral com sua vontade de trabalhar com desenho, os muitos nãos que recebeu no começo, seu trabalho como repórter policial para pagar as contas enquanto não pintava uma oportunidade na Folha da Manhã.
E, finalmente, os bastidores de suas primeiras e principais criações, culminando na Mônica, que surgiu quando Mauricio já publicava tiras e perguntaram por que não havia nenhuma menina em seus quadrinhos. A partir daí, o conjunto de um cachorrinho azul, um elefante verde, uma menininha dentuça, um garoto que troca os “erres” pelos “eles“ e um punhado de outros personagens foram aos poucos derrotando em popularidade todos os personagens estrangeiros nos jornais e bancas brasileiros, de Disney a super-heróis da DC e da Marvel. Nem o Super-Homem pôde com a Mônica.
Hoje é dificílimo encontrar criança ou adulto no Brasil que nunca tenha ouvido falar na Turma da Mônica. O aumento de eventos de quadrinhos e cultura pop pelo Brasil levaram o criador dos personagens a ouvir de cada vez mais pessoas como seus personagens ajudaram a alfabetizar gerações. Outros artistas dos quadrinhos nacionais o homenagearam em diversas publicações – mais uma está saindo estes dias, a coletânea MSP 90 – Mauricio de Sousa por 90 Artistas, da qual faz parte o paraibano Paulo Moreira.
Assim, o filme olha para o passado, mas o MSP Estúdios encara seu futuro, em um mundo em que as bancas de revistas, onde os quadrinhos de Mauricio reinam há 55 anos, estão desaparecendo. A herança do homem que construiu seu império partindo do lápis no papel começou a ver as histórias de seus gibis empobrecidas pelo uso pouquíssimo criativo de figuras de banco de imagens. Por outro lado, seus personagens ganharam nova vida na pele de atores em filmes para o cinema e séries para o streaming. E já sobreviveram sem grandes sobressaltos à trocas de elenco.
Mauricio de Sousa precisou equilibrar seus lados artista e empresário em sua jornada e essa é mais uma trilha que seus filhos passam a seguir.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de Outubro de 2025.

