Linaldo Guedes
Troque um livro de literatura por um concerto de alto nível, envolvendo a Orquestra Sinfônica da Paraíba e duas das artistas mais talentosas da terra: Cátia de França e Nathalia Bellar. A proposta é ousada. Apesar de não haver obrigatoriedade de se levar um livro para assistir ao espetáculo (a entrada é gratuita), a sugestão da Secretaria de Cultura do Estado se encaixa bem na proposta do governo de incentivar a leitura de obras literárias. O concerto será em comemoração aos 432 anos da cidade de João Pessoa, neste sábado, 5 de agosto, a partir das 20h30, no Teatro A Pedra do Reino.
O secretário de Cultura, Lau Siqueira, explica que o objetivo é estabelecer o dia 5 de agosto como uma celebração à arte paraibana. “Se por um lado, temos Cátia de França como uma das mais importantes compositoras e intérpretes da música brasileira, por outro temos o surgimento de uma jovem artista que já começa a conquistar seu público sem dever a ninguém. Claro que existem outras e outros grandes artistas, mas achamos que tanto Cátia quanto Nathalia representam muito bem duas gerações que revigoram a música na terra de grandes mestres como Jackson do Pandeiro, Sivuca, Elba Ramalho, Zé Ramalho e tantos outros”, acrescenta.
O repertório para o concerto já está definido. A primeira música a ser executada pela OSPB será “Sublime Torrão”, do compositor Genival Veloso. Depois, um pot-pourri de “À Primeira Vista” (Chico Cesar), “Admirável Gado Novo” (Zé Ramalho), “Chiclete com Banana” (Gordurinha e Almira Castilho). Logo em seguida, entra Nathalia Bellar cantando “Bolero de Bordel” (Milton Dornelas), “Alegria de Farol” (Adeildo Vieira), “Nó Cego” (Pedro Osmar) e “A Lua e Eu”, do Cassiano.
Na continuação, outro pot-pourri de músicas de festival, do maestro Rogério Duprat. Em seguida, entra Cátia de França com “Minha Vida é uma Rede”, “Panorama”, “Coito das Araras”, “Ponta do Seixas” e “Kukukaya”. A orquestra conclui com o “Bolero de Ravel”, numa menção ao Pôr do sol do Jacaré. Os arranjos das canções cantadas por Nathalia e Cátia são assinados pelo jovem arranjador paraibano Emanuel Barros.
Lau Siqueira afirma que não é uma exigência a troca de livro por ingresso. Não haverá ingresso e o acesso vai ser liberado. “Mas a Secult está sugerindo que as pessoas doem livros para os pontos de leitura e projetos de incentivo à leitura espalhados pelo estado. Temos feito um trabalho sistemático de estímulo aos inúmeros militantes do livro e da leitura que transformaram a cidade de Caiçara, por exemplo, num exemplo para o Brasil. Temos projetos de incentivo à leitura sendo desenvolvidos em Sapé, em Uiraúna, em Campina Grande, João Pessoa, em Duas Estradas, em Piancó e muitos outros municípios”, informa.
Segundo ele, de meados do ano passado para cá já foram distribuídos cerca de dez mil livros, preferencialmente onde o acesso ao livro é mais difícil, como na comunidade rural do Peixoto, há dez quilômetros de Piancó e na Escola José Pinheiro, no bairro José Pinheiro em Campina Grande. “Os livros arrecadados também serão distribuídos pelo Sistema Estadual de Bibliotecas que, apesar de ainda não existir de direito, existe de fato, fortalecendo o esforço de muitos companheiros e companheiras no acesso ao livro e a leitura no Estado”, observa.
Para o secretário, os concertos no teatro A Pedra do Reino revelam uma conquista da Paraíba. “Primeiro por estarmos constantemente celebrando Ariano Suassuna pela sua principal obra. Depois, por termos o orgulho de apresentar ao Brasil e aos países do mundo, a nossa imensa vocação artística. O estado é referência na música erudita contemporânea, a partir da Compomus. Nossos artistas do cotidiano, das lutas culturais dos anos 80 para cá, também são celebrados. Lembrar Cassiano é reconhecer que o mercado fonográfico pode tê-lo colocado no ostracismo, mas nós reconhecemos o grande artista que é”, comenta.
Sobre as cantoras
Catia de França nasceu em João Pessoa, em 1947. Sua música tem como fonte a literatura, fazendo referências à obra de Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Manoel de Barros, além do citado João Cabral de Melo Neto. O primeiro LP solo, 20 Palavras ao Redor do Sol, foi lançado em 1979. Suas canções são referências na Música Popular Brasileira, tendo sido gravadas por diversos artistas.
Nathalia Bellar canta jazz, blues, samba, pop e ritmos africanos. Começou a cantar em um grupo da igreja católica do seu bairro, onde recebeu orientações da líder do grupo sobre como se comportar em relação a sua voz. Participou de teatro, mas sua paixão é a música e nesta área vem se destacando como um dos maiores talentos da nova música paraibana. É natural de João Pessoa.