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Palco Tabajara com rock’n’roll na veia

publicado: 28/03/2023 10h22, última modificação: 28/03/2023 10h22
Hoje, em João Pessoa, projeto apresenta pela primeira vez o encontro das bandas paraibanas Dead Nomads e Musa Junkie
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Dead Nomads fará uma retrospectiva de sua carreira, tocando músicas de álbuns como ‘Desolation’ (1998) até os mais atuais, ‘Killing Time’ (2018) e ‘Demo Years’ (2020).Foto: Rodolfo Athayde/Divulgação
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Fundada em 1995, fruto da mesma efervescência musical do Dead Nomads, a banda Musa Junkie (acima) também recordará os anos de trajetória registrados em quatro EPs. Foto: Acervo Pessoal
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por Joel Cavalcanti*

As bandas paraibanas de rock sentem a falta de palcos locais para se apresentarem. Mas nem sempre foi assim. A década de 1990 renovou o cenário musical do rock e teve por grande impulso o Nevermind (1991), segundo álbum de estúdio do Nirvana, responsável por levar ao mundo um estilo de música conhecido como o grunge. Nessa época, o rock se voltava mais para bandas alternativas com sons pesados e distorcidos, mas ainda assim bem diferente do metal. O Brasil seguiu nessa mesma esteira, e as gravadoras passaram a apostar em selos menores, que revelaram grupos como o Raimundos, Mundo Livre S/A, Chico Science e Nação Zumbi, por exemplo. O surgimento da MTV e a criação de festivais especializados na cena independente retirou várias bandas do contexto universitário e as levou para os maiores palcos e audiência do país.

Para celebrar esse período que marcou gerações e influencia até os dias atuais o cenário musical do rock que o Palco Tabajara de hoje apresenta pela primeira vez o encontro das bandas paraibanas Dead Nomads e Musa Junkie. Fundadas no contexto das calouradas da UFPB, entre 1995 e 1996, elas estarão a partir das 20h na Usina Energisa, com entrada gratuita e transmitida pela Rádio Tabajara 105,5 FM e, em vídeo, pela TV Assembleia ou através das redes sociais das emissoras. A Sala Vladimir Carvalho será uma extensão do Teatro de Arena, Cilaio Ribeiro e Espaço Mundo, tradicionais palcos de confluência das bandas da época.

Para contar essa história, Dead Nomads fará uma retrospectiva de sua carreira, tocando músicas presentes em todos os álbuns lançados, desde Desolation (1998) até os mais atuais, Killing Time (2018) e Demo Years (2020). A apresentação será fechada com os dois singles mais recentes da banda disponíveis nas plataformas de música, ‘Infinito’ e ‘Oração’. “Cada um desses discos foi uma pegada diferente em cima da vertente do punk rock e do stoner rock. Passamos por uma evolução, uma mudança natural no nosso conceito, mas sempre mantivemos a mesma chama acesa, mesmo com toda a resistência e dificuldades, principalmente com esse estilo, que não é fácil achar onde tocar”, destaca o baixista Degner Queiroz.

Dead Nomads se apresenta hoje com uma “velha-nova” formação tendo ainda Marcel Bruno (vocal), Rubem Cacho (guitarra solo), Jansen Gomes (guitarra) e Elmon Palmeira (bateria).

A banda começou fazendo covers dos Ramones, para em 1996 iniciar o trabalho autoral como Dead Nomads, banda que reflete sua música em cima das vertentes punk rock, surf music e hardcore. Um dos momentos mais marcantes do grupo se deu com o lançamento de Trincando os ossos num dia Cão (2001) e quando, antes da pandemia, chegaram a abrir o show da banda estadunidense Pennywise, referência do punk. “A gente credita essa longevidade à resistência mesmo e a gostarmos do que fazemos. Aqui no estado a predominância é por ritmos populares e o rock na Paraíba vive de ciclos, mas a gente não se preocupa muito com isso e tocamos o que gostamos”, acrescenta Degner, que prepara o lançamento da música ‘Trabalhar’, que estará presente em uma coletânea nacional de bandas do estilo punk dos anos 1960.

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Fundada em 1995, fruto da mesma efervescência musical do Dead Nomads, a banda Musa Junkie (acima) também recordará os anos de trajetória registrados em quatro EPs. Foto: Acervo Pessoal

Os integrantes do Dead Nomads e da Musa Junkie são amigos e fãs uns dos outros. Juntos eles representam parte importante da história do rock’n’roll paraibano. “Para a gente será um prazer. É uma coisa meio histórica”, destaca Edy Gonzaga, guitarrista e um dos vocalistas da banda fundada em 1995, composta ainda por Edliano Valeriano (baixo e voz), Diego Second (guitarra e voz) e Rayan Lins (bateria). Fruto da mesma efervescência musical, a Musa Junkie também recordará os anos de carreira registrados em quatro EPs. “A Musa tem a característica de ser um pop mais direto. As músicas têm por volta de três minutos, então vai dar para tocar várias delas no Palco Tabajara”, antecipa o músico.

Durante as décadas que acumulou em suas diferentes formações, o som da banda foi ganhando outros sotaques e novas texturas. “A gente tinha muito mais músicas em português, mas depois da fase do Edliano morando fora, acabou trazendo mais composições em inglês. Mudou também a questão do apuro técnico, tanto musical quanto das gravações. Evoluímos ainda nas composições porque vamos maturando melhor o que queremos e o que procuramos”, complementa Edy Gonzaga. Com seu trabalho, Musa Junkie consegue atingir espaços e públicos fora do estado. Prova disso é que os dois primeiros EPs saíram por selos potiguares e o mais recente, Done, é da Brechó Discos, da Bahia. Mas em João Pessoa a realidade é diferente.

Hoje em dia, o local de convergência do público do rock é o After Pub e o Kaos na Vila, que ocorre mensalmente na Vila do Porto trazendo nomes de fora, mas apostando em um estilo mais pesado e no metal extremo. “Para essas bandas que estão no meio termo, a gente ainda está buscando esse local, esse porto de ancoragem. A gente está retomando este cenário, que está se reorganizando. A cena alternativa ainda está engatinhando por terem fechado vários lugares”, lamenta o guitarrista do Musa Junkie, que já tocou em bandas importantes do cenário do rock local, a exemplo do Zefirina Bomba e Flávio Cavalcanti.

No momento, a banda pessoense está se preparando para gravar um novo EP. O material já está pronto e deve sair ainda neste primeiro semestre com o nome Junkie Drive - Tinitus, nome de um pedal de distorção fabricado sob medida para banda, que é a base do som do grupo. “Sempre mantivemos esse elo de composição e produzindo projetos mais alternativos. No Musa, estamos sempre pensando no próximo passo, mesmo que demore e que seja difícil”, finaliza Edy Gonzaga.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 28 de março de 2023.