Documento histórico de grande relevância para o estado, o livro Governantes da Paraíba: Colônia, Império, República, que é resultado de longa pesquisa realizada pelo saudoso jornalista e historiador Hélio Nóbrega Zenaide (1926-2017), em parceria com o escritor e desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, contém um rico panorama da história política da Paraíba, ao longo das suas 440 páginas. Publicada pela Editora A União, a obra será lançada amanhã (dia 17), a partir das 16h, no Centro Cultural São Francisco, localizado no Centro Histórico de João Pessoa. O evento contará com as presenças de várias autoridades, bem como do governador da Paraíba, João Azevêdo, que contribuiu com o texto de apresentação da edição, e também da filha de Hélio Zenaide, Maria Valéria Tavares, que representará a família.
Na ocasião, haverá uma apresentação do Quinteto de Cordas do Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (Prima). Serão executadas três composições: ‘Paraíba’ (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), ‘Porta do Sol’ (Fuba) e ‘Paraíba Joia Rara’ (Ton Oliveira). “As músicas são alusivas à Paraíba”, resumiu Rainere Travassos, diretor artístico e pedagógico do programa. “Será um momento muito importante participar desse evento”, destacou ele.
No texto de apresentação, o governador João Azevêdo destacou: “A história, como toda ciência, passa por revisão dos fatos, em função de pesquisas documentais, de pesquisas arqueológicas, de novos relatos sobre os fatos ocorridos em tempos anteriores. Trazer para o público esse substancial trabalho é uma forma de estimular a civilidade, a compreensão entre as diferenças, em busca de uma sociedade melhor”.
Projeto iniciado por Hélio Zenaide, o livro relata a trajetória de todos os governantes da Paraíba, desde os seguintes períodos: colonial, passando pelo imperial e chegando ao republicano – abordando temas políticos, econômicos, bem como a Guerra dos Tabajaras e Potiguaras, além de presidentes e interventores paraibanos. Por ter convivido com muitos governadores, a obra retrata fatos e notas que só Hélio tinha ciência ou conseguiu pesquisar. O restante do trabalho, até sua conclusão, foi realizado por Marcos Cavalcanti.
A filha de Hélio Zenaide, Maria Valéria Tavares, que disponibilizou os textos e pesquisas do pai para a feitura da obra. “Esse livro tem a sua história e, durante o seu lançamento, onde representarei meus irmãos e familiares, terei oportunidade de manifestar nossos sentimentos e gratidão. Nosso sentimento maior é de gratidão a Deus pelo significado que tem para o nosso pai, hoje na ‘Pátria espiritual’, ao excelentíssimo senhor governador João Azevêdo Lins Filho e ao desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, autoridades respeitáveis do nosso estado, que somaram seus esforços aos do nosso pai, tomando decisões que tornaram possível o lançamento deste livro, entregando ao povo paraibano uma história que teve início logo após o descobrimento do Brasil, sendo nossos governantes os protagonistas, de João Tavares (1585) ao nosso governador João Azevêdo (2023)”.
Compromisso com a história
Marcos Cavalcanti justificou ter aceitado a proposta para dar continuidade ao livro de Zenaide. “Depois de uma análise profunda, gostei muito do tema que muito me apraz, por ser uma obra de história da Paraíba, e mais, a história da política paraibana do passado e, também, contemporânea. Como tive que completar a pesquisa, fazer atualização e correção gramatical e ortográfica, sem destoar do belo estilo zenaidiano de escrever, eu tornei-me coautor da obra, a minha primeira nesse estilo, entre as 35 obras que já publiquei”.
O desembargador disse achar que a Paraíba seja o primeiro estado que terá um livro institucional desse estilo, focando apenas a história dos chefes do Poder Executivo, como os tribunais têm com os perfis dos presidentes e dos desembargadores. “Esse livro foi encampado pelo governador João Azevêdo, por ser uma obra institucional, e editada pela Editora A União, a quem eu agradeço a publicação”, afirmou o magistrado, que é o presidente da Comissão de Cultura e Memória do TJPB.
Maria Valéria Tavares contou que o livro teve as suas primeiras páginas datilografadas, aproximadamente no início da década de 1990. Quando Zenaide adotou o uso de computador, todo o material foi digitalizado. “Nós, filhos, somos testemunhas dos dias, meses e anos da dedicação do nosso pai para obter a série histórica que compõe esse livro, de forma que não escapasse um governante sequer numa série temporal tão longa. Trabalhava em casa, na sua biblioteca, visitava sebos, jornais, o IHGP, etc. Escrevia por horas seguidas. Não gostava de ser interrompido. Dava impressão que sua pesquisa nunca terminava”.
A filha relatou que, em 2004, quando Hélio Zenaide soube que estava com degeneração macular, ainda não havia concluído o livro. “Ele enfrentou sua deficiência visual sem reclamações. Continuou suas pesquisas. Tinha sempre alguém para dar assistência nesse sentido, buscando o que pedia, lendo, escrevendo o que ele ditava, até deixar o texto aprovado por ele. Na sua biblioteca, lembrava de como organizara seus livros, documentos históricos, recortes, fotografias. Em 2017, quando sofreu um AVC, ele tinha concluído até o governador José Maranhão (2009). Faleceu em 18 de setembro de 2017. Sabíamos que seu trabalho não poderia ficar na gaveta. Também sabíamos da sua vontade de publicar e que, para publicação, o livro deveria ser atualizado, observado o contexto histórico”.
Maria Valéria frisou que já existia uma relação de respeito e confiança entre Zenaide e Albuquerque, desde quando presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba. “Logo, foi a Marcos Cavalcanti de Albuquerque que nós, os filhos, confiamos o trabalho realizado pelo nosso pai sobre os governantes da Paraíba. O desembargador levou um tempo para análise e decisão. Afinal, era a revisão e a complementação de um livro histórico, com perfil biográfico desde João Tavares (1585) até João Azevêdo Lins Filho (2023), deixado escrito até o governador José Maranhão (2009). Não é um livro de poucas páginas e, cada vez que nosso pai procurava orçamento para publicação, reconhecia que seria difícil conseguir publicar. Foi assim até que pessoas com sensibilidade cultural e compromisso com a história da Paraíba reconhecessem o valor do seu trabalho, tornando possível a sua publicação”, concluiu a filha de Hélio Nóbrega Zenaide.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 16 de novembro de 2023