O que um clássico conto infantil e o grupo sueco que interpreta “Mamma mia” têm em comum? Por mais associações que possam ser feitas, em se tratando deste fim de semana, na Paraíba, a resposta é uma só: dois espetáculos com esses temas serão apresentados no mesmo dia, pelos mesmos atores: A Bela e a Fera – O Musical e Abba Experience. Amanhã, o palco para ambas as peças é o Teatro Facisa, em Campina Grande, e na sexta-feira (5), as apresentações são no Teatro Paulo Pontes, no Espaço Cultural. Em ambos os casos, o infantil começa às 19h e o musical pop às 21h30.
Os bilhetes podem ser adquiridos, separadamente, na plataforma Ingresso Digital. Para A Bela e a Fera, em Campina, vão de de R$ 50 (camarote/meia) a R$ 140 (plateia/inteira); em João Pessoa, de R$ 70 (frisas/meia) a R$ 160 (plateia/inteira). Para Abba Experience, em Campina, de R$ 60 (camarote/meia) a R$ 160 (plateia/inteira); em João Pessoa, de R$ 80 (frisas/meia) a R$ 180 (plateia/ inteira).
Ambas são atrações da BRZ, produtora paulista, e contam com a direção de Bruno Rizzo. Flavia Mengar e Victor Zayah dão vida à Bela e à Fera, respectivamente, liderando um elenco de 11 artistas em cena, incluindo os bailarinos. Flávia acumula 13 anos de carreira e tem experiência em outras empreitadas do mesmo segmento. “Já participei de algumas montagens musicais como Hair — A Revolução do Amor, A Pequena Sereia, Broadway Nights e etc. Tenho, ao todo, 12 musicais no currículo”, revela.
A montagem circulou em mais de 50 cidades brasileiras e chegou a excursionar no Uruguai e na Argentina. É baseado na animação da Disney, de 1991, com todas as faixas cantadas ao vivo.
“A história segue a mesma estrutura conhecida por todos e as músicas têm as mesmas melodias, mas com outras letras, são todas ‘versionadas’”, comenta a intérprete de Bela.
E quem da plateia empolga-se mais com o musical — os mais novos ou os mais velhos? Flávia assinala que a peça se destina a todas as idades e que, por conta disso, públicos de diversas gerações conseguem conectar-se com ela, ainda que de maneiras diferentes.
“Acaba tendo um lugar muito especial dentro do coração de todos, porque está na memória afetiva das pessoas num geral e na nostalgia dos adultos. A gente vê as crianças encantadas e os adultos emocionados nos momentos principais do espetáculo”, pontua.
Mistura do Brasil com a Suécia
Já em Abba Experience, os cantores Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad, do quarteto sueco, são interpretados, nesta ordem, por Flavia Mengar, Andrey Alfaia, Ewerton Novaes e Victoria Rossi. Esta última diz ser fã do Abba por influência dos pais. “Cresci ouvindo! Depois que comecei a fazer musicais fiz parte de uma montagem de Mamma Mia! (musical baseado em canções dos artistas suecos), onde interpretei a Sophie (um dos papéis principais)”, recorda.
O leque de canções do Abba nesse musical (20, ao todo) varia das mais animadas como “Dancing queen” (1976) a baladas mais sérias como “The winner takes it all” (1980). Mantendo outras versões desse mesmo tributo no catálogo da produtora, Victoria assevera que há espaço para as músicas menos famosas.
“Numa edição repaginada do show, temos umas quatro que são bem ‘lado B’, sabe? É até engraçado quando a plateia conhece essas, tipo ‘Bang-a-boomerang’ (de 1975). A gente olha e fala: ‘Nossa, esse ai é fã mesmo!’, brinca.
O espetáculo que será apresentado em Campina e João Pessoa não conta com o conjunto de cordas — restrito à versão Experience in Concert — mas toda apresentação é realizada ao vivo pelos cantores e pela banda — esta, um dos diferenciais do evento, segundo Victoria, além do balé.
“Se não me engano somos o único tributo que viaja com um elenco de bailarinos que performa quase todas as músicas do show com a gente, trazendo um pouco do que é a mistura de show e teatro musical, que faz parte da nossa proposta”, declara.
Flávia Mengar sustenta que apesar de os dois musicais serem propostas diferentes há algo que une ambos os espetáculos. “O que podemos afirmar como um ponto de convergência é a nossa vontade de levar a cultura dos musicais e do teatro às cidades, então, tudo o que pudermos fazer para atingir os mais diferentes públicos, das mais variadas idades, estaremos nos esforçando para fazê-lo”, conclui.
Retorno com “avatares”
A trajetória meteórica do Abba — pouco mais de 10 anos se passaram entre as estreias do primeiro (em 1972) e do último single (em 1983) — foi suficiente para imortalizar o grupo na história do pop. Todavia, a derrocada dos relacionamentos dos dois casais que o formava e o consequente fim das atividades em grupo “congelaram” o legado dos artistas. O Abba voltou às paradas com o lançamento da coletânea Abba Gold – Greatest Hits, em 1992, com 14 das principais faixas do quarteto e mais de 30 milhões de cópias vendidas.
Para celebrar os 25 anos de “Waterloo”, vencedora do Festival Eurovision da Canção em 1974, o Abba e a dramaturga Catherine Johnson trouxeram a público o musical Mamma Mia!, comédia sobre uma jovem às voltas com os mistérios da mãe e a identidade do pai. O sucesso levou à grande tela — o filme homônimo, estrelado por Meryl Streep, chegou aos cinemas em 2005; uma sequência veio em 2018.
Todavia, Agnetha, Björn, Benny e Anni-frid seguiam relutantes contra as propostas de retorno. Tudo mudou em 2016, quando o projeto de um show holográfico com os artistas começou a ser pensado: os quatro teriam seus corpos escaneados por computadores e seriam transformados em “avatares virtuais”, aparentando a idade que tinham nos anos 1970. O projeto foi concluído em 2021, durante a pandemia de Covid-19 e o anúncio dos shows, em Londres, veio acompanhado de uma surpresa — o lançamento de um disco com canções inéditas, Voyage. O show continua a ser exibido até hoje na Abba Arena, situada na capital britânica.
Trilha sonora premiada
- A montagem de “A Bela e a Fera” é inspirada tanto no conto francês quanto na animação da Disney, de 1991: Flavia Mengar e Victor Zayah são os protagonistas
Já A Bela e a Fera tem origem no conto de fadas francês, de 1740. A matriz conta com algumas diferenças em relação à adaptação da Disney — ali, a protagonista tem, por exemplo, outras duas irmãs, invejosas, similares às da Cinderela. A primeira grande transposição para o cinema é o clássico francês, de 1946, dirigido por Jean Cocteau. Com o passar dos anos, outros projetos vieram à tona, a exemplo de um musical live action, de 1987, realizado por Eugene Marner.
A Disney decidiu resgatar essa história e transformá-la num longa-metragem de animação seguindo o êxito de A Pequena Sereia, de 1989. O filme baseado no texto de Gabrielle-Suzanne Barbot amealhou um público ainda maior e concorreu ao Oscar de melhor filme — feito então inédito para uma animação.
Parte desse sucesso deu-se por conta músicas compostas pela dupla Alan Menken e Howard Ashman, cuja parceria havia começado em 1979 e passado pela versão musical de A Pequena Loja dos Horrores (nos palcos, em 1982; no cinema em 1986). Ashman, no entanto, faleceu antes da estreia de A Bela e a Fera, vítima da Aids, deixando póstuma parte da trilha sonora de Alladin (1992).
A canção “Beauty and the Beast”, vencedora do Oscar, chegou às rádios em um single regravado por Celine Dion e Peabo Bryson. Quando da exibição no Brasil, essa e outras músicas foram traduzidas pelo dublador Telmo de Avelar. A animação virou musical da Broadway, em 1994, com um sucesso estrondoso. Em 2017, a Disney voltou com a história aos cinemas, com uma nova versão em live action: dirigido por Bill Condon, com Emma Watson e Dan Stevens, arrecadou US$ 1,2 bilhão de dólares nas bilheterias.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 3 de setembro de 2025.