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Paraíba em música e história

publicado: 12/04/2024 09h35, última modificação: 12/04/2024 09h39
O projeto Templos de Fé e Música começa hoje em Cabedelo com palestra de Raglan Gondim e apresentação do Quinteto da Paraíba
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O Quinteto da Paraíba vai tocar composições de Villa-Lobos, Piazzolla, Gershwin e Capiba, entre outros | Fotos: Cristiana Dias/ Divulgação

por Sheila Raposo*

Paraíba, um celeiro artístico-cultural. Essa foi a bússola usada pela produtora cultural Ana Gondim para idealizar o projeto Templos de Fé e Música, que vai proporcionar uma fusão entre roda de conversa sobre patrimônio histórico arquitetônico e apresentação musical em monumentos tombados de três municípios paraibanos, a partir de hoje. A estreia será em Cabedelo, na capela da Fortaleza de Santa Catarina, com uma palestra do arquiteto e urbanista Raglan Gondim, às 16h, e um concerto com um dos mais renomados grupos de música de câmara do país, o Quinteto da Paraíba, às 18h.

De acordo com Ana, Templos de Fé e Música pretende unir educação patrimonial com música erudita, armorial e popular, utilizando, para isso, espaços tombados pelo patrimônio histórico. “Queremos despertar o sentimento de pertença e elevar a autoestima do povo paraibano por meio das nossas riquezas arquitetônicas e da música de alta qualidade que produzimos”, diz a produtora cultural.

Em Cabedelo, o Quinteto da Paraíba vai executar composições de Villa Lobos, Piazzolla, Gershwin, Mancini, Capiba, José Dantas, Antônio Nóbrega, Antônio José Madureira, Lenine, Tarcísio Burity, Bráulio Tavares e Chico César. Além desse grupo, também faz parte do projeto o Quinteto Uirapuru, que se apresentará em edições seguintes.

Voo artístico

O projeto Templos de Fé e Música produzirá, ainda, três vídeos com textos e narração da premiada escritora Maria Valéria Rezende. “Poucas regiões do Brasil contam com heranças arquitetônicas que remontam aos primeiros séculos da colonização. A Paraíba é uma delas, e nela se destacam as igrejas e capelas. Nessa herança e na riqueza visual que nos oferece, por meio da pintura e da escultura, oculta-se, porém, outra riqueza, não imediatamente perceptível: o seu papel como espaços quase únicos da vida social e artística da colônia”, salienta a escritora, em material de divulgação do evento.

Na sua fala, ela também ressalta que os templos religiosos foram, durante muito tempo, espaço privilegiado da convivência social e palco das expressões artísticas — especialmente, da música — ao longo da história colonial. “O nosso projeto nos oferece a oportunidade de desfrutar dessa herança, muito além da pedra e da madeira, experimentando, como o fizeram nossos antepassados, a harmonia entre o visual e a música”.

Com imagens e produção do grupo Geografia da Paraíba, os vídeos narrados por Maria Valéria mostrarão a viagem de um pássaro, que sobrevoará o encontro do rio Sanhauá com o mar e chegará à capela da Fortaleza de Santa Catarina, onde encontrará o Quinteto da Paraíba. Depois dessa primeira visita, ele seguirá o rio e pousará nas igrejas históricas de Nossa Senhora da Guia, em Lucena, e de Nossa Senhora da Batalha, em Cruz do Espírito Santo. “Ao final desse voo, que acontece no terceiro concerto, a equipe vai parar e construir o próximo roteiro do projeto”, antecipa Ana Gondim.

Pela Paraíba

As apresentações em Cabedelo, Lucena e Cruz do Espírito Santo fazem parte de um projeto-piloto, que posteriormente será estendido, com o mesmo formato, para outros municípios paraibanos, como Itabaiana, Taperoá, Pombal e Itaporanga. “Queremos levá-lo Paraíba adentro, mantendo viva a ideia de estimular o orgulho próprio e proporcionar lazer e cultura a outros públicos”, diz Ana Gondim.

A ideia de oferecer música instrumental àqueles que não têm acesso fácil a grupos de câmara e estimular a valorização do patrimônio histórico local não é original. Ana a realizou anteriormente, no município de Bananeiras, entre 2009 e 2010, em quatro igrejas da região. “Nessa época, trabalhávamos pelo tombamento de mais 80 prédios do município. Além de termos conseguido esse registro, a população de Bananeiras teve uma formação para a música instrumental e adquiriu um novo olhar sobre os seus monumentos”, conta.

Centro Histórico

A Fortakeza de Santa Catarina é o palco da primeira edição do projeto, que depois chega a Lucena e a Cruz do Espírito Santo | Foto: Daniell Mendes/ divulgação

Como o tema é patrimônio histórico e arquitetônico, Ana Gondim aproveita o espaço dado ao projeto para reivindicar um investimento conjunto e de peso no Centro Histórico de João Pessoa. “O nosso centro está em ruínas, é um problema muito sério. Mas não adianta apenas restaurar os prédios, é preciso ocupá-los. Por que o próprio Poder Público não ocupa os prédios que possui nessa região? Por que não há incentivo à moradia no Centro? É preciso levar vida a essa região, torná-la habitada, cheia de lojas, cafés, botecos, escolas de artes, repartições públicas funcionando, segurança, iluminação... O Centro Histórico é belíssimo e tem solução. Basta querer”, salienta. Um passo que parece ter começado a ser dado com o projeto Viva o Centro.

Incentivo

Aprovado no edital da Lei Paulo Gustavo, por meio da Secretaria de Cultura da Paraíba, Templos de Fé e Música reuniu uma equipe renomada: o artista plástico Flávio Tavares, cuja arte concebeu a identidade visual do projeto; Valeska Asfora, na produção executiva; e Killdare Araújo, na produção técnica. Toda a programação é gratuita, e o público pode acompanhar todas as etapas do projeto no perfil oficial do projeto no Instagram: @projeto.templos. Já os vídeos com Maria Valéria Rezende serão disponibilizados no canal do projeto no YouTube.

Todas as realizações de Templos de Fé e Música serão precedidas por uma roda de conversa sobre o monumento onde está acontecendo o projeto, a partir da história e das peculiaridades arquitetônicas e dos valores simbólicos de cada um. O arquiteto e urbanista Raglan Gondim participará de todas as edições, que contará também com professores e alunos da rede estadual e municipal de ensino.

Através do link, acesse o instagram do projeto

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de abril de 2024.