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Maratona de Debates literários

Paraíba na Flip

publicado: 23/11/2023 09h05, última modificação: 23/11/2023 09h05
Confira quais são os escritores que representam o estado durante a programação da renomada Festa Literária Internacional de Paraty (RJ)
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Escritora francesa e Nobel de Literatura de 2022 Annie Ernaux, ao lado da premiada gaúcha Veronica Stigger, em um dos palcos da edição do ano passado da colonial cidade litorânea do Rio de Janeiro - Foto: Walter Craveiro/Divulgação
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João Matias - Foto: Rodolpho de Barros/Divulgação
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Bruno Ribeiro - Foto: Marcinha Lima/Divulgação
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Campinense Cristhiano Aguiar se junta aos radicados e “paraibanos de coração”: o cearense João Matias e o mineiro Bruno Ribeiro - Foto: Renato Parada/Divulgação
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por Joel Cavalcanti*

Bruno Ribeiro, Cristhiano Aguiar e João Matias. Esses são os representantes da Paraíba na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), uma das mais influentes do gênero, e que há 20 anos pauta o debate literário nacional. Devido à sua contribuição nas discussões de raça e gênero, o festival lidera uma renovação nos eventos da indústria do livro e se abre cada vez mais para programações paralelas e independentes, convertendo-se em vários encontros literários simultâneos em um só, que teve início ontem e vai até o próximo domingo (dia 26). Um sistema de organização heterogênea do qual os escritores da Paraíba contribuem para o seu processo de diversificação.

Editores, tradutores, livreiros, educadores, curadores, agentes literários, leitores e autores. Todos eles buscam um espaço nas ruas de pedra do núcleo histórico colonial da pequena cidade litorânea do Rio de Janeiro cercada por rios e montanhas. “Há uma dimensão também muito boêmia na experiência de participar da Flip. Quando se diz que é Festa Literária Internacional de Paraty, de fato a palavra festa faz sentido aqui. Para quem trabalha no mercado editorial como eu, nunca é só um evento para passear. Sempre é um evento em que, mesmo que você não queira, há contatos profissionais que acontecem”, explica o campinense Cristiano Aguiar sobre o clima diferente da Flip.

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Campinense Cristhiano Aguiar se junta aos radicados e “paraibanos de coração”: o cearense João Matias e o mineiro Bruno Ribeiro - Foto: Renato Parada/Divulgação

Serão vários os compromissos profissionais do autor premiado com o livro de contos Gótico Nordestino (Cia. das Letras, 2022). A primeira das três mesas das quais ele participa acontece hoje, às 14h, discutindo “Distopias urgentes” com a portuguesa Joana Bértholo. Ainda na programação paralela, no sábado (25), ele debate sobre crítica literária com professores e acadêmicos na mesa “Cinco Coisas Verdadeiras” Logo em seguida, às 11h, a discussão se dará sobre “Uma investigação poética: mistério, crime e realismo fantástico”, no qual o foco estará no livro anterior de Aguiar, Na outra margem, o Leviatã (Lote 42, 2018).

“No fim das contas, a programação da Flip e das casas paralelas é uma programação que você vai encontrar similares em outros estados, inclusive nos eventos literários paraibanos, por exemplo. O que diferencia é a intensidade da coisa, porque você tem muitos eventos acontecendo ao mesmo tempo. São, no mínimo, 10 eventos literários de fôlego, alguns ao mesmo tempo em um espaço muito minúsculo, então a experiência acaba sendo muito intensa”, descreve o escritor que participa da Flip desde 2018 e que este ano marca presença novamente a convite do Sesc.

Uma dessas “casas paralelas” que dão forma ao conjunto de ambiência da Flip é a Casa Gueto, que reúne 13 editoras independentes do país e onde hoje, às 14h, João Matias participa da mesa “O fortalecimento da literatura por meio da construção de coletivos” ao lado de outros quatro escritores e escritoras de diferentes selos nacionais. Matias volta à Flip depois de 11 anos, desta vez carregando pelas ruelas estreitas de Paraty seu mais novo livro de contos que se passa inteiramente em João Pessoa, As Madrinhas da Rua do Sol (Caos & Letras, 2023), obra que ele lançará durante o evento, amanhã (24).

“As expectativas são as maiores. Há um crescimento da venda de livros no mercado editorial e também a maior participação de editoras, junto à Flip, porque a própria Flip tem um espaço que editoras e sites como o Estante Virtual pegam para, em suas casas, promover eventos, encontros, lançamentos, mesas de debate, enfim. Então as expectativas são sempre as melhores possíveis”, adianta o escritor que no ano passado já havia feito sucesso com outra obra de contos, o faroeste nordestino Santos do Chão Bravo.

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João Matias - Foto: Rodolpho de Barros/Divulgação

Entre os representantes da Paraíba, quem está mais recorrente nessa maratona literária é Bruno Ribeiro. Ele participará de mesas na Casa Libre, Casa Estante Virtual, Casa Gueto e na Casa Poéticas Negras. “Enquanto homem negro, sempre penso que é importante falarmos dessa questão da negritude, mas também defendo a liberdade de escrevermos e falarmos sobre o que bem quisermos, acima de tudo”, destaca o escritor que, na quinta vez que participa da Flip, vai ser muito provocado a falar sobre questões ligadas às diferenças entre ficção e não ficção por conta da obra Era apenas um presente para o meu irmão: a Barbárie de Queimadas (Todavia, 2023).

“A Flip é um local de encontros, acima de tudo. Não só para encontrar os amigos do meio literário, mas os leitores. Esse é um local onde eu consegui consolidar cada vez mais o meu trabalho, então sempre que possível eu tento participar, tento me fazer presente”, acrescenta ele, que no ano passado foi semifinalista do Prêmio Jabuti na categoria Romance de Entretenimento com a distopia de horror Porco de Raça (Darkside, 2021). Ribeiro é mineiro e se mudou para Campina Grande em 2005. Matias fez o mesmo percurso em direção da “Rainha da Borborema” vindo do Ceará, onde nasceu. Já Aguiar saiu de Campina aos 18 anos de idade. Apesar disso, todos se consideram escritores paraibanos e produzem em suas obras literárias histórias marcadas nesse território.

O que ficou faltando na representação do estado desta vez foi um nome feminino, entre tantos que se destacam na literatura paraibana contemporânea. “É totalmente válido se questionar o porquê que muitas delas não estão circulando também nesses grandes eventos. Até porque muitas estão produzindo coisas atualmente, lançando livros e movimentando cenas literárias. É um desfalque que se vê em várias outras regiões também, principalmente daquelas que estão longe do que se chama de ‘eixo literário’. É algo que tem que ser sempre questionado, porque me parece realmente uma falta bem grave”, considera Bruno Ribeiro.

A Paraíba de escritoras teria muito a oferecer à Festa Literária de Paraty no ano em que a grande homenageada é Pagu. A diversidade de gênero é tabu mesmo na Flip.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 23 de novembro de 2023.