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Paraíba premiada

publicado: 14/06/2024 10h57, última modificação: 14/06/2024 10h57
Chico César e Roberta Miranda saem com troféus do Prêmio da Música Brasileira, entregue no Rio
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Chico César venceu pelo clipe de “Acender as velas”, com Martinho da Vila | Foto: Paolo Martinelli/ Divulgação
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Roberta Miranda foi a melhor intérprete de música sertaneja | Foto: Paolo Martinelli/ Divulgação
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por Esmejoano Lincol*

Os paraibanos Chico César e Roberta Miranda foram consagrados na 31a Edição do Prêmio da Música Brasileira (PMB), ocorrido na última quarta-feira no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Chico venceu na categoria projeto audiovisual com o clipe “Acender as velas”, dirigido por Philippe Rios, parceria do cantor com Martinho da Vila. Já Roberta foi eleita a melhor intérprete sertaneja. A banda de forró Mastruz com Leite, que tem a paraibana Roberta Felina como vocalista, concorreu como melhor grupo no segmento canção popular e sertanejo, mas foi vencida pelo É o Tchan.

Chico César ainda concorreu em outra categoria: Violivoz (Ao Vivo), disco com Geraldo Azevedo gravado na Concha Acústica de Salvador, foi indicado como melhor Projeto especial, mas perdeu para Relicário, de João Gilberto, com um registro ao vivo de 1998. O PMB deste ano homenageou Tim Maia e trouxe Chico para o seu palco, numa apresentação ao lado de Alceu Valença e Mônica Salmaso: o trio cantou um medley de canções do repertório de Tim – “Coroné Antonio Bento”, “A festa do Santo Reis” e “Canário do reino”. Roberta Miranda também foi nomeada na categoria melhor lançamento, com o compacto “Desatemos os nós”, dentro da categoria Sertanejo; ela foi preterida por Ana Castela e o álbum Boiadeira Internacional (Ao Vivo).

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Este é o sétimo troféu do Prêmio da Música Brasileira que Chico César leva para casa – o primeiro foi em 1997, como revelação masculina no segmento popular 

“Acender as velas” integra o disco Ópera Negra, lançado por Martinho no ano passado; a composição é do sambista Zé Kéti. Este é o sétimo troféu do PMB que Chico César leva para casa – o primeiro foi em 1997, como revelação masculina no segmento popular. Ele conta que o convite para participar do álbum partiu do próprio Martinho. “Neste álbum ele canta diversas situações do povo negro brasileiro. É como se ele fizesse crônicas no formato de músicas e eu fiquei muito honrado em participar”, detalha. 

Para ele, Martinho é uma referência para todos os artistas brasileiros, mas, especialmente, para aqueles que têm consciência de sua afrodescendência. “Eu sou um afrodiaspórico e Martinho foi um dos primeiros cantores a tratar desta questão, visitando a África e trazendo informações diretas da fonte. Além disso, fiquei muito feliz por estar cantando justamente uma canção de Zé Keti”, celebra. A afrodiáspora citada pelo paraibano trata da migração forçada de negros de suas terras natais, motivada sobretudo pela escravidão.

Em Violivoz (Ao Vivo), sua outra nomeação ao PMB, Chico César e Geraldo Azevedo se apresentam sozinhos, sem banda. “São dois artistas de gerações diferentes, mas temos, em comum, o fato de que o nosso trabalho parte do violão nordestino. Isso é o que nos une”, disse.

O clipe de “Acender as velas” foi dirigido pelo realizador carioca Philippe Rios. Descoberto por sua professora do jardim de infância, ele começou a trabalhar como ator mirim aos dois anos de idade. Todavia, o preconceito acabou lhe afastando da frente das câmeras.

“Minha trajetória no audiovisual ilustra o contraste social quando se fala sobre oportunidades. Decidi ir para o backstage e aprender a contar histórias. Juntei meu fascínio por cinema mudo e gibi e me dediquei bastante”, recorda.

Desde 2014 Rios está à frente de projetos audiovisuais para grandes marcas.  Foi convidado pela Sony, atual gravadora de Martinho, para dirigir dois videoclipes com músicas do repertório do Ópera Negra. Ele revela que desde a primeira audição do álbum, percebeu a potência das canções, ficando a cargo ainda do roteiro das obras. “Timbó”, faixa em que Martinho divide os vocais com o músico carioca Will Kevin, compõe a primeira parte da narrativa escrita por Philippe, que é complementada com “Acender as velas”.

“Em ‘Timbó’ vemos a construção de paternidade sadia, interrompida por uma fatalidade. ‘Acender as velas’, traz reação sobre a ausência desse pai, o descaso que arromba as casas das periferias do Brasil, a fim de gerar muitos apagamentos”, explica Philippe. O clipe premiado no PMB conta com o trabalho da bailarina Allenkr, que interpreta, adulta, a menina que aparece em “Timbó”. “Ela trabalhou muito a composição dos artistas também, sempre muito atenta sobre novas possibilidades de exaltarmos a realeza de todo nosso elenco”, detalha o diretor, que também é bailarino de formação.

Chico César escolheu seu próprio figurino para o clipe antes de o roteiro ter finalizado. A decisão foi acertada, segundo Philippe. “Martinho e Chico me acolheram de forma brilhante, ambos muito participativos, se permitiram também navegar por minhas soluções. Esse look do paraibano traz uma mensagem menos previsível, mas impactante”, assevera. Feliz com a premiação, Philippe diz que ainda não consegue mensurar o quão gratificante foi estar no palco do PMB, na quarta-feira passada. “Eu, tijucano, na edição que homenageou Tim Maia, trouxe esse prêmio para o bairro da Tijuca. Que possamos aquecer cada vez mais o mercado criativo brasileiro”, finalizou o realizador.

Recém-chegada de uma apresentação em Angola, Roberta Miranda desembarcou no Brasil direto para o palco do PMB, onde recebeu o troféu das mãos de Regina Casé, apresentadora do evento. Através de post no Instagram, a cantora pessoense agradeceu os fãs, a empresária Célia Moratori e o marqueteiro carioca Zé Maurício Machline, idealizador do Prêmio da Música Brasileira. Este foi o segundo prêmio conquistado por Roberta: o primeiro veio em 2015, na mesma categoria.

TODOS OS VENCEDORES

- MPB
Grupo: Boca Livre
Intérprete: Rosa Passos
Lançamento: Coração Bifurcado, de Jards Macalé (Produção: Jards Macalé, Romulo Fróes)

- POP ROCK
Grupo: Mombojó
Intérprete: Marisa Monte
Lançamento: Me Chama de Gato que Eu Sou Sua, de Ana Frango Elétrico (Produção: Ana Frango Elétrico)

- SAMBA
Grupo: Grupo Revelação
Intérprete: Xande de Pilares
Lançamento: Xande Canta Caetano, de Xande de Pilares (Produção: Pretinho da Serrinha)

- MÚSICA REGIONAL
Dupla: Lourenço & Lourival
Grupo: Falamansa
Intérprete: Alceu Valença
Lançamento: Dorme Pretinho, de Lia de Itamaracá (Produção: Pupillo)

- CANÇÃO POPULAR
Dupla: Maiara e Maraisa
Grupo: É o Tchan!
Intérprete/ canção popular: Gabriel Sater
Intérprete/ sertanejo: Roberta Miranda
Lançamento/ canção popular: Raiz, de João Gomes (Produão: Top Eventos)
Lançamento/sertanejo: Boiadeira Internacional (Ao Vivo), de Ana Castela (Produção: Eduardo Godoy)

- MÚSICA URBANA
Grupo: Àttooxxá
Intérprete: Iza
Lançamento: Respeita, de Jorge Aragão e Djonga (Produção: Kevin e Jorge Aragão)

- MÚSICA INSTRUMENTAL
Grupo: Choro na Rua
Solista: Armandinho Macedo
Lançamento: Encontro das Águas, de Yamandu Costa, Armandinho Macedo (Produção: Yamandu Costa, João Falcão Neto)

- CATEGORIAS ESPECIAIS
Canção: “Mistérios do nosso amor”, de Jards Macalé (Intérprete: Jards Macalé, Maria Bethânia / Compositor: Jards Macalé, Ronaldo Bastos)
Revelação: Choro na Rua
Lançamento eletrônico: Her Mind, de Urias (Produção: Maffalda, Brabo)
Lançamento em língua estrangeira: Funk Generation: A Favela Love Story, de Anitta (Produção: Brabo, Decz, Diplo, DJ Gabriel do Borel, Márcio Arantes, Ilya)
Lançamento erudito: Sinfonia dos Orixás & Pequenos Funerais Cantantes, da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Produção: Ulrich Schneider)
Projeto especial: Relicário: João Gilberto (Ao Vivo no Sesc 1998), de João Gilberto (Produção: Sesc São Paulo)
Projeto audiovisual: Acender as Velas, de Martinho da Vila, Chico César (Direção: Philippe Rios)

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de junho de 2024.