por Gi Ismael*
Uma das figuras mais relevantes para as artes visuais do modernismo brasileiro era paraibana. Homem negro, jovem e de nome marcante, Tomás Santa Rosa Júnior nascia em João Pessoa no ano de 1909 e, ao mesmo tempo em que se destacou nacional e internacionalmente pelo seu trabalho nas artes cênicas e gráficas, nunca teve sua obra exposta em seu próprio Estado. A partir de hoje, a Paraíba recebe uma exposição pioneira que conta com 35 quadros e ilustrações de seu importante multi-artista, além de dezenas de livros os quais ilustrou as capas. As peças ficam expostas no Centro Cultural São Francisco até fevereiro de 2022.
Na solenidade de abertura, às 10h, a obra de Tomás Santa Rosa será discutida em mesa redonda pela professora Bernardina Freire, Doutora em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, pelo professor e artista plástico Chico Pereira e pelo designer Rildo Coelho, que obteve o título de Mestre em Ciência da Informação com estudo sobre o artista paraibano.
A mostra Santa Rosa - uma busca afetiva em sua memória é dividida em quatro categorias: ‘Pinturas’, ‘Ilustrador’, ‘Arte Invisível’ e ‘Cenógrafo’, com apresentações em texto feitas, respectivamente, pelo colecionador Gottfried Stützer Jr., pelo pesquisador Oto Dias Becker Reifschneider, pelo designer Rildo Coelho e pela professora Niuxa Dias Drago. A exposição pode ser visitada gratuitamente pelo público de segunda a segunda, das 9h às 15h. O Centro Cultural São Francisco é localizado na Ladeira São Francisco, centro de João Pessoa.
O acervo é fruto da coleção particular de Luizmar Medeiros, paraibano nascido em Santa Luzia e residente em São Paulo. “Meu interesse (pela obra de Santa Rosa) surgiu conversando com amigos em João Pessoa e em São Paulo, há 10 anos. Comecei a comprar os quadros de galerias e colecionadores do Sudeste, como hobby, e isso me fez apreciar muito o trabalho do cenógrafo e ilustrador”, contou Luizmar. Foi a partir do entusiasta que veio a iniciativa de realizar a mostra pioneira no Estado. “Santa Rosa é um dos grandes nomes da cenografia e da ilustração no Brasil e precisa ter essa importância resgatada”, disse.
Augusto Moraes, curador do Centro Cultural São Francisco, mostrou-se animado com a mostra e exaltou a importância da exposição. “Esta é a primeira vez em que a Paraíba recebe uma exposição com as obras de Santa Rosa. Quando ele morou aqui, de 1930 a 1940, fez parte de um conselho de cultura, mas ainda assim não vimos mostras com seus trabalhos”, comentou Moraes. Após a temporada em João Pessoa, a exposição parte para a cidade de São Paulo, que sediará em 2022 um grande evento em homenagem ao centenário da icônica Semana de Arte Moderna. “Dá para ter noção da importância da obra de Santa Rosa quando ela é conhecida a nível nacional e é tida como o primeiro passo para a comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922”, concluiu.
Sobre o artista
Natural de João Pessoa, Tomás Santa Rosa foi um protagonista intelectual na arte gráfica brasileira. É considerado o primeiro cenógrafo moderno do país, assumindo o cargo no espetáculo Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943. Ativista negro nascido apenas 21 anos após a abolição da escravatura, foi um dos integrantes fundadores do inovador ‘Teatro Experimental do Negro’ (TEN).
A arte de Tomás Santa Rosa percorreu, ao longo do século, alguns dos principais museus do Brasil apesar da sua repercussão ainda tímida em sua própria terra natal. Para citar alguns, no Rio de Janeiro, suas obras fizeram morada no Museu Nacional de Belas Artes, e em São Paulo, ilustrou as paredes do Museu de Arte e a Fundação Nacional da Arte. Em vida e postumamente, o trabalho de Santa Rosa destacou-se fora do país, passeando pela América do Sul (Argentina, Peru e Chile), Ásia (Índia) e Europa (Inglaterra, Portugal e Suíça).
Apesar da coincidência do nome e relevância nas artes cênicas, o título do Theatro Santa Roza, em João Pessoa, não é um tributo ao artista. “É em homenagem a Francisco da Gama Roza, o último governador do Império”, esclareceu Luizmar Medeiros.
O acadêmico Rildo Coelho destacou em seu texto de apresentação para a mostra Santa Rosa - uma busca afetiva em sua memória, que o artista foi responsável por mais de 300 capas para quase todos os grandes autores do modernismo brasileiro, “o que revela sua importância para o mercado editorial no século 20”. Na lista de contemplados, entram autores como José Lins do Rego, com quem dividiu a casa quando morava em Pernambuco, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e Graciliano Ramos.
Santa Rosa sofreu uma morte súbita em 1956, quando estava representando o Brasil na Conferência Internacional do Teatro, na Índia.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 02 de dezembro de 2021