O paraibano João Lobo vive na Europa há mais de uma década: desde então, encontra por lá locais para compartilhar seus trabalhos com o público europeu, indo além dos seus espaços de exposição habituais no Brasil. Na semana passada, o artista visual recebeu, pela segunda vez, reconhecimento do Museu Nacional de Luxemburgo, país da Europa Ocidental, depois de integrar a seleção internacional do Luxembourg Art Prize. João ganhou um diploma de mérito artístico. “Apenas os artistas mais merecedores entre os participantes recebem este certificado”, diz o documento.
Cosmopolita, João Lobo nasceu em Brejo do Cruz. Anos depois, ele se formaria também em Comunicação Social, mas em Pernambuco. A partir dessa segunda graduação estreitou seus laços com a fotografia, também de forma acadêmica, com o atual doutorado em Belas Artes, na Universidade de Lisboa. “Comecei a trabalhar como fotojornalista, justamente, fazendo parte da equipe dos principais jornais da Paraíba, como O Momento e A União — nesse último, como fotógrafo de projetos especiais. Foi uma grande escola”, afirma.
A transição do fotógrafo para o artista visual começou nos anos 1980, motivada pela inquietude de João em torno de seu “compromisso tácito” de registrar a realidade e o cotidiano nas páginas do veículo para os quais trabalhou. Na época, o jornalismo era um espaço insuficiente para a sua criatividade, segundo ele. “Eu tinha muita dificuldade com relação às pautas que me passavam. Os editores exigiram uma coisa e eu trazia outra. Um colega desenhista de A União chegou a fazer uma charge me chamando de ‘fotógrafo neo-pós-concretista’”, relembra.
Imerso na arte, Lobo tem publicizado suas criações por meio de exposições e catálogos há mais de três décadas. Todavia, ele revela que seu trabalho demorou a ser reconhecido. O artista recorda a experiência com o livro Corpo e Alma, de 2000, cujas imagens tiveram recepção morna na Paraíba, mas ganharam reconhecimento em um festival argentino. “Outros fotógrafos falavam que aquilo não era fotografia. Ao mesmo tempo, os artistas visuais diziam que eu também não era artista. Mas alguns articulistas locais, como Waldemar Solha e Walter Galvão, prestaram atenção em mim. A partir daí, eu ganhei força e sedimento dentro do estado”.
Sobre o reconhecimento do Museu Nacional de Luxemburgo, João Lobo detalha que a instituição já havia lhe fornecido outra láurea, em 2022, graças a outra série, O Tempo do Movimento. “Nós estamos falando de uma zona do continente em que é muito difícil você alcançar determinados parâmetros. O nível aqui é muito elevado. Por isso, esse prêmio me traz uma satisfação muito grande”, celebra.
Ainda que tenha encontrado a legitimação necessária, ele diz que o debate em torno do seu trabalho segue válido e proveitoso. “Não sou fotógrafo, não sou artista visual, não sou cineasta. Faço algo além de tudo isso, mas que está inserido em tudo isso. Navego sem compromisso”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de dezembro de 2024.