Rodolfo Amorim - Especial para A União
"Esse era um filme que sentia: precisava fazer!”, disse o ator paraibano Kelner Macêdo, ao Jornal A União. Vindo do teatro, mas com o corpo apto ao cinema, ele participa do filme “Corpo Elétrico”, de Marcelo Caetano. O longa será exibido no Festival de Cinema de Roterdã deste ano, que vai ocorrer entre os dias 25 de janeiro e 5 de fevereiro. O convite surgiu depois que o ator participou de um teste para o filme pernambucano “Aquarius”, em 2014.
O ator interpreta Elias, um jovem nordestino de 23 anos, que vive em São Paulo, e trabalha como assistente de estilista numa confecção de roupas, no Bom Retiro. Sonhador à procura do seu lugar no mundo, Elias é cheio de questões, e luta para que a juventude sobreviva diante de tantas demandas da vida adulta. Além disso, empenha seu tempo fora da fábrica para gozar a vida pelas ruas da cidade em encontros com outros homens. “O jovem Elias é o não limite entre o corpo do trabalho e o corpo da festa, é a intersecção, o lugar de encontro. É a energia propulsora que une os corpos da fábrica e dribla o clima de rotina daquele espaço”, contou.
Nascido em Rio Tinto, cidade pequena do litoral norte do Estado, Kelner Macêdo se mudou, aos 17 anos, para João Pessoa, em busca de uma formação e de construir a própria estrada. Seu primeiro contato com arte se deu na escola, quando fazia apresentações em datas comemorativas, e depois o teatro na igreja, pois não havia cursos de teatro na cidade. Mas apesar do acesso restrito aos conteúdos de cinema e teatro, durante a infância e adolescência, Kelner sempre se identificou com o fazer do ator, que chegava até ele através da televisão na casa da avó.
Entre momentos intensos durante os ensaios, ele conta que Marcelo Caetano foi um parceiro e condutor durante todo o processo, além de lhe ter permitido um leque de possibilidades de existência na cena. “Esse filme faz parte da minha formação como ator, e acima de tudo, como humano. Acredito muito no poder dele, e desejo que todas as pessoas assistam”, pontuou. Atualmente, Kelner está no último ano do curso de teatro da Universidade federal da Paraíba (UFPB).
Experiências
Começou a ter experiência na vida de grupo com a Cia. De Teatro Encena, a quem deve, segundo ele, parte da formação. Logo depois, fez o primeiro teste para cinema, uma linguagem distante, segundo ele, mas que o excitava e excita. Posteriormente, atuou em “O vendedor de Coisa”, curta metragem de Deleon Souto. “Me abriu um novo e lindo horizonte no campo das linguagens cênicas, e que registra esse lugar insólito, desconhecido e completamente novo no meu corpo: O cinema”, disse ele sobre as artes cênicas.
Na sétima arte, trabalha desde 2013. Em 2014 fez participações nos filmes “Terceiro Prato”, de Pablo Maia e “Moído” de Torquato Joel, ambos curtas metragens. Também gravou o Episódio Piloto da série ‘Vida Bandida’, que tem direção de Marcelo Paes de Carvalho, onde viveu um dos personagens principais, e que tem previsão de filmagens da primeira temporada para o segundo semestre de 2017.
Expectativa
Sobre a exibição do filme na Holanda, o ator revela expectativas: “Já me sinto muito satisfeito e feliz de estrear o filme no Festival Internacional de Cinema de Roterdã, que é um espaço super importante para as produções do cinema mundial. Acho que vai ser um bom início para esta nossa trajetória", afirmou.
Cenário cultural na Paraíba
Sob o olhar sensível do ator para a arte paraibana, ele sente na pele, ou no corpo, falta de políticas públicas, mas reconhece a grandeza dos artistas da terra: “A Paraíba é um lugar muito potente e de artistas muito especiais, criativos, ativistas proponentes, cheios de força criadora, mas com pouco espaço de expressão dentro da cidade. O poder público não reconhece a nossa atuação, e deslegitima nossas funções. Poucos espaços públicos de arte dentro da cidade, e poucos incentivos de formação e distribuição e fomento das nossas produções artísticas. Temos um cenário cultural rico, mas deteriorado, e como se diz numa das campanhas de fomento do cinema no estado: ‘A Paraíba precisa ser assistida’”, justificou.
O filme
Corpo Elétrico é um filme sobre a passagem da juventude para a fase adulta, dos sonhos distantes para a luta por um lugar no mundo. Gravado entre março e abril de 2016, ele se passa todo em São Paulo. Primeiro longa dirigido por Marcelo Caetano e produzido pela Desbun Filmes, em parceria com a Plateau Produções e a África Filmes.
O verão está chegando e Elias tem sonhado muito com o mar. Na fábrica em que trabalha, as responsabilidades aumentam à medida em que o fim de ano se aproxima. Depois de uma noite fazendo hora extra, Elias e os operários decidem sair e tomar uma cerveja. É quando novas possibilidades de encontros surgem no horizonte de Elias. O Projeto conta com o apoio da Agência Nacional de Cinema (Ancine)/Fundo Setorial Audiovisual (FSA), Secretaria de Estado da Cultura – Programa de Fomento do Cinema Paulista e Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo.
O Festival de Roterdã
O International Film Festival Rotterdam (IFFR) (Festival Internacional de Cinema de Roterdã) é um dos maiores festivais da Europa, sendo um dos cinco maiores festivais de filmes europeus, ao lado de Cannes, Veneza, Berlim, e de Locarno. O evento é realizado anualmente em vários cinemas em Roterdã, nos Países Baixos, no fim de janeiro.
Cinema brasileiro leva 15 filmes ao Festival de Roterdã
Além do filme “Corpo Elétrico”, que está na mostra competitiva Bright Future, mais voltada para diretores em seu primeiro, ou segundo filme, outros 14 filmes brasileiros marcarão presença na edição 2017 do Festival Internacional de Cinema de Roterdã, na Holanda. A Agência Nacional do Cinema apontou que a participação brasileira será de sete longas-metragens e oito curtas, tanto nas mostras competitivas como nas não competitivas do evento.
O longa “Arábia”, de Affonso Uchoa e João Dumans, “Antônio um dois três”, de Leonardo Moura; “Pela janela”, de Caroline Leone; e “Elon não acredita na morte”, de Ricardo Alves Jr.; além da co-produção com Argentina, Chile e Palestina, “Los territorios”, dirigida pelo argentino Ivan Granovsky. “Beduíno”, de Júlio Bressane.
Na seleção da mostra Bright Future de curtas-metragens estão os brasileiros “Disseminar e reter”, de Rosa Barba; “Há terra!”, de Ana Vaz; “The flavor genome”, de Anicka Yi; e “Um campo de aviação”, de Joana Pimenta. Outras mostras de curtas selecionaram ainda “Constelações”, de Maurílio Martins; “Long Bueno”, de Abílio Dias; “As crianças fantasmas”, de João Vieira Torres; e “Kbela”, de Yasmin Thayná.