Guilherme Cabral
“Fiquei muito surpreso. Não esperava, de modo algum, ser escolhido e, por isso, fiquei muito feliz e me sinto honrado de poder representar a América Latina, o Brasil e o Nordeste, levando o som daqui que eles ouvem e gostam”. A confissão foi feita para o jornal A União pelo jovem músico e arranjador paraibano Salomão Soares, de 25 anos de idade, ao falar sobre a seleção do seu nome, o único latino-americano, para disputar o título de melhor pianista no Montreux Jazz Festival, que será realizado na Suíça, a partir desta sexta-feira até 15 de julho.
Natural do Município de Cruz do Espírito Santo, localizado na região metropolitana de João Pessoa, mas radicado em São Paulo desde 2011, o artista, que viajou ontem para a Europa, durante a participação no concurso - que integra a programação do evento e vai ocorrer nos próximos domingo e segunda - apresentará sua composição autoral intitulada ‘Boizinho Universal’ e concorrerá com franceses, ucranianos, americanos, russos e alemães.
Além de ‘Boizinho Universal’, que compôs há dois anos e considera “música instrumental brasileira”, Salomão Soares ainda apresentará outra obra autoral, sem título mas no mesmo gênero, e, também, ‘Só Danço Samba’ (Tom Jobim) e ‘Billies Bounce’ (Charlie Parker), ambas exigências do regulamento do concurso. Ele contou que, anteriormente, havia escolhido a música ‘Lôro’, de Egberto Gismonti, mas recebeu solicitação da organização do evento para trocar por outra, por não poder mais tocá-la. Perante o público, o músico paraibano e seus competidores estarão sendo avaliados por uma banca examinadora. Cada concorrente executará, sempre em apresentação solo, duas músicas em cada dia. Quem obtiver a primeira colocação terá o direito de gravar um CD e vai embolsar 10 mil francos suíços, quantia correspondente, na moeda brasileira, a cerca de R$ 34 mil. Já os segundo e terceiro lugares receberão 5 mil e 3 mil francos suíços, respectivamente.
“Sou um defensor da música brasileira e, principalmente, da instrumental, que está se perdendo com a morte de artistas como Sivuca e Dominguinhos”, comentou Salomão Soares, que soube da existência desse concurso oferecido pelo Festival de Montreux há três anos e logo manifestou interesse em participar, o que agora está podendo fazer. Ele também confessou-se surpreso porque a edição 2017 do evento, do qual participará pela primeira vez, não se limitou apenas ao Jazz, mas abriu o leque para outros gêneros musicais.
Sobre o artista - Salomão Soares começou a tocar profissionalmente em 2004, quando tinha 14 anos de idade. No entanto, somente a partir de 2008, ele - que nasceu no Município de Cruz do Espírito Santo - passou a se dedicar aos estudos e ao desenvolvimento como instrumentista, arranjador e compositor. A consequência dessa busca pelo aprimoramento o levou a sair de João Pessoa - cidade onde estudou com Helinho Medeiros, hoje professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) - para São Paulo, Estado no qual pôde expandir suas fronteiras artísticas. Nesse sentido, sob a orientação do pianista André Marques, se formou em Piano Popular pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí.
Influência dos pais
Durante sua infância e adolescência, vividas em Cruz do Espírito Santo, Salomão Soares sempre ouviu boa música em casa, incentivado pelo próprio pai, um apaixonado pela música brasileira de Luiz Gonzaga, Paulinho da Viola e Elis Regina. Mas também da mãe, que sabia de cor, na ponta da língua, todas aquelas melodias antigas, além de dedilhar algumas delas ao violão. O jovem músico também cresceu ouvindo histórias do Sertão paraibano, tocando saxofone na banda marcial da cidade, ou então, nas festas de São João, batendo triângulo, zabumba e pandeiro.
Por ser um músico versátil, Salomão Soares transita entre as diversas linguagens da música popular. O músico já tocou - ou gravou - com diversos artistas, a exemplo de Hermeto Pascoal, Filó Machado, Gabriel Grossi, Altay Veloso e Lilian Carmona. Ele excursiona com o Rodrigo Digão Braz Trio, com quem participa de festivais pelo Brasil. No final de 2014, o grupo gravou o primeiro disco, intitulado Carvão. O pianista paraibano também produziu e arranjou, no ano passado, o álbum Casa que é mundo, da cantora conterrânea Rinah. Ele antecipou para A União que, agora, pretende lançar, durante o segundo semestre de 2017, o seu primeiro CD, ainda sem título, mas que deverá ter cerca de 10 músicas autorais.