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Paraibano é protagonista do curta “Represa”, de Milena Times

publicado: 22/10/2016 00h05, última modificação: 21/10/2016 20h40
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Natural de Pombal, Formiga já atuou em diversas produções do cinema brasileiro - Foto: Edson Matos

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Thamara Duarte

Ator, diretor, autor e arte educador. Além disso, ele usa a linguagem mágica do circo para encenar o palhaço Formiguinha e para ministrar oficinas de clowns e confecção de máscaras e artes plásticas, onde usa o reciclado como matéria prima. Como se não bastasse, realiza cursos de vocal, cânticos e danças populares, além de ser cordelista. Paraibano de Pombal, desde criança Sebastião Formiga encantava os familiares e vizinhos, com suas tripulias inocentes. Mas foi somente quando veio para João Pessoa, já nos anos de 1980, que ele resolveu fazer da arte o caminho de vida. Em 1988, iniciou-se no teatro. Em 1991, já profissional, esteve no elenco de “Vento do Amanhecer em Macambira”, dirigido por Roberto Vignhat. Desde então, não parou um só instante... Sempre mantém o brilho nos olhos, quando fala da sua arte ou quando tece algum comentário acerca do que é o processo do fazer e do vivenciar artístico.

Vinte e cinco anos depois da estreia, e com incontáveis trabalhos no currículo, ele volta a sentir o gostinho da ansiedade, pela apresentação de um novo trabalho. Sebastião Formiga é protagonista de “Represa”, um curta-metragem da pernambucana Milena Times, que será exibido pelo CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte. No filme, interpreta um homem simples do povo, que trabalha à noite e vive solitário, mas que, apesar das adversidades do cotidiano, não perde a esperança de ver concretizado os seus sonhos. “Ele tem consciência da real dificuldade de viver num mundo com tantas ambições, medidas e desmedidas, mas nada lhe tira a vontade de lutar pelo que lhe parece ideal”, revela o ator.

A diretora e o ator haviam se conhecido em 2012, durante as gravações de “O Som ao Redor”. Na época, Milena atuava nos bastidores, como assistente de direção de Kleber Mendonça Filho; e Sebastião marcava presença, interpretando um papel decisivo na trama: em especial, nas últimas cenas finais. Três anos depois, eles se reecontraram para fazer “Represa”. O convite surgiu quando o assistente de direção do curta, Felipe Fernandes, o convidou para um encontro com a diretora Milena Times, em Recife, no qual conversariam sobre a arte de interpretar e como o ator via a proposta do roteiro. “Aí rolou uma sinergia incrível. Minha identificação com as situações vividas pela personagem foi imediata”, diz Formiga. “E esse momento é um dos mais incríveis no processo de criação: quando o seu estado de ser se projeta no possível estado do ser do outro. A Milena me dava um retorno com outras perguntas e provocações que me instigaram. Assim, ficamos quase uma hora de conversa, que eu nem percebi”.

Em julho de 2015, o filme foi rodado, com locações em Recife. As gravações foram concluídas em uma semana. Uns dias antes, o paraibano fez laboratório, no universo do trabalho da personagem, e participou de um ensaio geral. Só, então, soube que teria a atriz Verônica Cavalcanti como parceira de cena. “Foi uma grata surpresa, pois gosto muito do trabalho dela e da pessoa que ela é também. Já trabalhamos juntos, no teatro, algumas vezes. Eu me identifico com sua linha de trabalho, com a qualidade dialética e a contenção dos movimentos, onde o menos é mais”, comenta Formiga. “Verônica é uma profissional de primeira grandeza, made in Paraíba, que vem desenvolvendo um excelente trabalho no teatro, cinema e televisão brasileira”.

Nos bastidores do processo de criação

Instigado a lembrar os filmes que marcaram sua vida de ator, ele revela o caminho que percorreu até chegar ao cinema. Tudo começou em 1996, quando estreou no curta “O Homem de Barro”, com direção de Mauro Moreira. Nele, coincidentemente, assim como em “Represa”, de Milena Times, fazia o papel do protagonista. Particularmente nos últimos anos, foi parte do elenco de outras importantes produções nacionais, premiadas no Brasil e, também, no exterior. Esteve em “Canta Maria (Francisco Ramalho), “O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho), “Prometo um Dia Deixar Essa Cidade” (Daniel Aragão) e “Por Trás do Céu” (Caio Sóh). Agora, até o início do próximo ano, espera o lançamento de mais um longa: “O Nó do Diabo”, no qual foi dirigido por Ramon Porta Mota, Jhésus Tribuzi, Ian Abé e Gabriel Martins.

Um apaixonado, sem limites, pelo ato de interpretar, Formiga diz: “O cinema tem uma magia que supera qualquer outra arte. Ele precisa ser feito ali, no aqui e agora. Uma equipe enorme, pensando e agindo para que tudo ocorra da melhor forma possível, e, na hora do “gravando”, é com você!”. O ator enfatiza, ainda, que é fundamental que haja uma entrega absoluta à arte. “Por isso, acho fundamental que façamos um trabalho profundo, a partir de todo um entendimento possível da personagem, para fazer fluir a atmosfera circunstancial. Gosto de elencar todas as ações e reações de cada cena do roteiro, ainda no processo criativo de ensaio com o diretor(a), porque na hora temos que fluir as mínimas intenções”.

Ao dialogar com as variadas linguagens artísticas, acredita que tudo tem que ser visto com um olhar – e fazer – diferenciado. “No teatro, é mais visceral; dilatado; atemporal, enquanto que na televisão o realismo é farsesco e muito próximo do dia a dia”. Quanto ao cinema, Formiga lembra que a sétima arte “se constitui da relação dialógica de imagens e sons, seja textual ou ambiental, um complementando o outro na condução do arco dramático, sintetizando as lacunas conflituosas das personagens”.

Dos picadeiros, para aprimorar sua arte, ele busca vivenciar a entrega física e criativa do ator, extraindo o melhor do universo cênico e visual. Ao longo dos últimos trinta anos, sua trajetória tem se pautado na essência do apreender outros saberes. Nesse universo, uma experiência tem se mostrado inesquecível: o período em que conviveu com o grupo Lume, de São Paulo. Em particular, quando participou do curso “O Clown através da Máscara” e estudou com a canadense Sue Morrison. Com ela, jamais esqueceu uma lição: “A mestra me abriu para a perspectiva de um olhar interno, trabalhando a inocência e a experiência do eu cômico”, diz.

Aprender, ensinar e compartilhar são as marcas das mil “artes” do paraibano. Parafraseando a diretora Milena Times, de “Represa”, que sintetiza a ideia do filme numa frase curta – “Toda barreira tem sua fresta” –, Sebastião Formiga protagoniza uma história, artística e de vida, onde a arte não se deixa dominar pelo medo. Ao encarar novas ideias e propostas, ele está constantemente em mutação.