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Paraibanos comemoram recuperação de imagens do cinejornal Canal 100

publicado: 01/05/2016 00h05, última modificação: 01/05/2016 11h39
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O Canal 100 tornou-se muito conhecido pela qualidade da filmagem dos jogos de futebol com visão documental e uma narrativa dramática - Foto: Divulgação

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Guilherme Cabral

"É mais uma iniciativa da Petrobras, numa política importante de resgatar e fomentar aspectos da cultura esportiva que tem tudo a ver com a formação da nossa identidade, que é o futebol”. A declaração foi feita por Edônio Alves, professor da Universidade Federal da Paraíba, escritor, jornalista e pesquisador da relação entre o futebol e a literatura, ao comentar o patrocínio da estatal para a digitalização e a restauração de imagens de grandes lances do futebol brasileiro e outros esportes veiculadas no cinejornal Canal 100, nas maiores salas de cinema do País, no período de 1959 a 1986. Depois de exibido na ESPN de 25 a 29 de abril, o material - cenas registradas em película de 18 e 35mm, acrescidas de depoimentos atuais e que viraram 10 documentários de  22 minutos - será disseminado em outras mídias. “Achei ótimo, uma excelente ideia, pois são imagens que acompanharam toda uma geração e que também servirá para o conhecimento das que surgiram depois”, disse também o escritor Sérgio de Castro Pinto, autor do livro intitulado A Flor do Gol, lançado em 2014 e que contém, por exemplo, alguns poemas inspirados em grandes jogadores daquela época, a exemplo de Tostão e Jairzinho. Outro que também elogiou o projeto foi o membro da Academia Paraibana de Cinema (APC) e colunista sobre a Sétima Arte do jornal A União, Alex Santos. “Vivi, de fato, como exibidor e curtidor, o Canal 100 nos cinemas de meu pai”, confessou ele, que considera o programa a “era de ouro do cinejornal”.

Idealizados por Alexandre Niemeyer, filho do criador do Canal 100, Carlos Niemeyer, e desenvolvidos pela empresa Ovo em Pé, os documentários deverão ser apresentados nos cinemas, antes da exibição dos filmes em cartaz, e em monitores dispostos em locais ao ar livre; em pontos de venda, a exemplo de lojas e shopping centers. O projeto consumiu mais de dois anos de pesquisas e outros três de produção, que culminaram na captação de depoimentos de 20 ídolos do esporte, inclusive Rivellino, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Tostão, Falcão, Zico e - não poderia deixar de ser - o próprio Rei do Futebol, Pelé, que ganhou uma homenagem especial: um filme que conta a espera pelo milésimo gol do jogador, com testemunhos que revelam curiosidades sobre esse marco dessa modalidade esportiva no Brasil. Os pilotos do automobilismo Wilson e Emerson Fittipaldi também participam dos documentários, em cenas e depoimentos sobre circuitos de rua realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo.

“Antes da exibição do filme, ficávamos na expectativa para assistir ao Canal 100, que tinha imagens bonitas e faziam sucesso. Era uma época em que se jogava com romantismo e os times tinham os mesmos jogadores. Torço pelo Flamengo, embora não seja fanático, e essa prática permaneceu até Zico. Depois, começou a migração de jogadores, em busca de mais dinheiro”, lembrou o poeta Sérgio de Castro Pinto.

Já o professor e pesquisador Edônio Alves - que, em dezembro de 2015 e no último mês de janeiro, lançou no Rio de Janeiro e em João Pessoa, respectivamente, o livro, baseado em sua tese, intitulado A Esfera como Metáfora: representações do futebol no campo da literatura - comentou que, ao tomar essa iniciativa de patrocinar o projeto, a Petrobras demonstra “visão larga” para fomentar a questão da identidade do povo brasileiro, para a qual o futebol tem dado sua contribuição, ao longo do tempo.

A propósito, alguns dos títulos dos documentários patrocinados pela Petrobras são os seguintes: Reviva a Espera do Milésimo, que retrata toda a expectativa em torno do milésimo gol de Pelé; Reviva o Fla Flu Épico, sobre o famoso jogo entre Flamengo e Fluminense que, em 1963, reuniu o maior público da história do futebol no Brasil, ou seja, 177 mil pagantes, e Reviva as Feras do Saldanha, enfocando o time de ases montado pelo ex-jogador do Botafogo, técnico da Seleção Brasileira, escritor e jornalista João Saldanha para disputar a Copa do Mundo de 1970 e que incluía Carlos Alberto Torres (o capitão), Djalma Dias, Joel, Rildo, Piazza, Gerson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.

“Toda forma de resgate histórico, de preservação da memória aplaudo sem maiores reservas. Quer seja essa salvaguarda para fins privados ou às finalidades mais diversas, principalmente para fins didáticos imediatos e de conhecimento público, a quem cabe, na verdade, a perpetuação da nossa história”, disse Alex Santos a respeito do processo de digitalização e restauração do Canal 100. “Agora, com as mais variadas plataformas e tecnologias de informação, esse resgate se faz ainda mais necessário”, ressaltou ele, lembrando que esse cinejornal foi criado por Carlos Niemeyer no final dos anos 1950, numa parceria com Jean Manzon. “O Canal 100 foi um dos mais importantes da fase moderna do cinema, no Brasil. Era, também, chamado “jornal de tela” e funcionou até 1986. Nos últimos 15 anos desse período, passou a usar a técnica do filme colorido, em 35mm. Os recursos de imagem e som se ampliaram ao encanto do espectador cinematográfico”, prosseguiu o colunista de A União.

Alex guarda lembranças da época. “Quem jamais esquece aquele jogo pelo campeonato carioca de 1979, em que Roberto Dinamite, pelo Vasco, e Zico, pelo Flamengo, brilharam dentro do Maracanã? Não sem razão que, após todos esses anos de grata lembrança do Canal 100, trago comigo uma cópia, em preto & branco de 35mm, do famigerado cinejornal. Uma relíquia!...”, disse ele. “Poucos da minha geração, talvez, tenham vivido tão intensamente o lado prático do Canal 100. Digo no que tange ao fato de tê-lo manuseado, semanalmente, em um dos cinemas de meu pai, colocando-o sempre à exibição antes do filme então anunciado para aquela sessão”, garantiu, lembrando que esse programa era aguardado “com bastante ansiedade” por exibidor e espectadores. “Não raro, havia gritaria dos ansiosos espectadores na sala de projeção, quando então iniciava aquele musiquinha característica da vinheta do futebol na tela, e que algumas tevês ainda hoje usam em suas “chamadas”...”, lembrou o colunista e membro da APC.