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Passeio pela música

publicado: 12/08/2025 08h28, última modificação: 12/08/2025 08h28
Renato Braz combina sucessos de cantoras e homenagem a Tim Maia em show amanhã, no Sesc de João Pessoa
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Braz já ganhou na categoria de melhor cantor em prêmios da música brasileira | Foto: Divulgação

por Daniel Abath*

A trajetória de quase três décadas de Renato Braz é marcada por grandes encontros, parcerias de longas datas e um vasto repertório que passeia por nomes centrais da música popular brasileira. Dono de uma carreira discográfica que se consolidou desde o lançamento de seu primeiro CD (o homônimo Renato Braz, de 1996) — que lhe traria de saída a indicação ao Prêmio Sharp de Música Brasileira daquele ano —, o cantor, violonista e percussionista paulistano chega a João Pessoa com um espetáculo que combina dois projetos distintos: Outras Mulheres, voltado a compositoras da música popular brasileira, e Canário do Reino, prévia de seu próximo álbum em homenagem a Tim Maia. O show acontece amanhã, às 20h, no Teatro do Sesc, no Centro. Ingressos antecipados podem ser adquiridos pelo site do Sympla, custando R$ 125 (inteira) e R$ 85 (meia).

Outras Mulheres é iniciativa recente de Braz que começou a ser pensada ao lado de três cantoras de São Paulo (Karine Telles, Carla Ponsi e Beatriz Id). “Nós fizemos uma apresentação desse show e eu acabei seguindo com esse projeto, mesmo sem elas, cantando músicas dessas compositoras que fazem parte da nossa formação cultural”, explica Braz. Entre as artistas revisitadas figuram nomes como Dolores Duran, Fátima Guedes, Joyce Moreno, Simone Guimarães, Cristina Saraiva, Anastácia, Nana Caymmi, Sueli Costa, Rita Lee e Angela Ro Ro.

A escolha por esse recorte não veio por acaso. “A canção feminina é de extrema importância para a nossa formação cultural. As músicas dessas mulheres ajudaram a construir nossa identidade cultural. É muito rico esse universo e são referências obrigatórias da música”, afirma, revelando o prazer em trabalhar o atual setlist.

Ideia adormecida

O segundo eixo do espetáculo apoia-se no disco Canário do Reino, trabalho que segundo o artista vem sendo gestado há anos e deve ser lançado no próximo mês. Pronto para ir à fábrica, o álbum conta com participações de Nana Caymmi (na última gravação realizada pela cantora), da carioca Áurea Martins e de Cristovão Bastos como arranjador e pianista.

Além de convocar parcerias magistrais — o que é uma marca da produção de Renato Braz —, o álbum é dotado de importância pessoal para o músico, dado que tece homenagem àquele que representa um de seus maiores ídolos no cenário musical brasileiro. 

O cantor lembra de outro show em JP, quando foi recebido por um arco-íris | Foto: Divulgação/Vânia Toledo

“Tim Maia, para mim, é um divisor de águas”, atesta. “Na minha infância e adolescência, eu conheci a música do Tim e isso foi determinante para tudo o que veio depois. É o grande compositor popular brasileiro: cantava todo mundo, Chico Buarque, Cassiano, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano. Ele representava todas as classes, todas as vertentes da música brasileira e por isso rendi essa homenagem”, acresce, mencionando o oportuno frescor das canções em sua memória para o show. 

Muito embora seja inconteste a admiração pelo “síndico”, a proposta de um show dedicado ao ídolo ganhou fôlego após um episódio doméstico. Nasceu de uma pergunta do filho mais velho de Renato, que sabia da admiração do pai por Tim e certa vez lhe perguntou a respeito de uma canção em específico.

“Eu que sempre ostentei essa coisa de saber tudo sobre meu ídolo, de conhecer profundamente toda a sua obra, meu filho acabou me surpreendendo. Essa ideia já estava adormecida e por conta dessa pergunta do meu filho, acabei decidindo realizar esse trabalho”, relata.

Gravar o repertório de Tim Maia, no entanto, trouxe desafios inesperados. “É curioso você entrar no estúdio e não precisar decorar uma música, saber tudo de cor”, diz ele, lembrando que, muitas vezes, o produtor do álbum desligava o microfone e advertia de que a impostação de voz de Braz estava “muito Tim Maia”, clássico exemplo de casos em que a influência soa tão marcante a ponto de infundir-se em estilo.

Natural inusitado

Renato Braz começou aos 15 anos tocando bateria e cantando em casas noturnas de São Paulo. Em 1998, lançou o álbum História Antiga, seguido, entre outros, por Outro Quilombo (2001) — com o qual venceu o Prêmio Visa de Música Brasileira, em 2002; Quixote (2003) — vencendo na categoria de melhor cantor o Prêmio Visa de 2003; Por Toda a Minha Vida (2006) e Papo de Passarim (2010). Em celebração aos 50 anos de idade, lançou, em 2018, o álbum Canto Guerreiro – Levantados do Chão.

Ao longo da carreira, o multi-instrumentista acumulou colaborações com alguns de seus maiores ídolos, como Milton Nascimento, Chico Buarque e Gilberto Gil. O cantor lembra que esses encontros se deram de maneira natural. “Sou contra você abrir portas sem pedir licença. Nunca forcei barra. Quando liguei para esses artistas, já havia uma relação de trabalho e uma admiração mútua”, diz.

Entre os momentos mais memoráveis, cita a gravação conjunta de Milton e Chico para o disco Canto Guerreiro. “Mostrei para eles uma outra música, ‘Levantados do chão’. Depois de ouvir, o Chico colocou a mão na cabeça e disse: ‘Puxa vida, eu não lembrava que tinha feito essa música’. E o Milton ficou desolado no estúdio. Chico pediu para ouvir de novo e comentou: ‘Como a gente já fez coisa bonita nessa vida, né, meu parceirinho?’. Foi um dos momentos mais lindos que eu já vivi na carreira”, relembra acerca do momento ao lado dos ícones da MPB.

Para o músico, a música que faz se volta para um público bastante específico, muito embora tenha visto muitos jovens nos shows, filhos de pessoas que acompanhavam sua jornada desde os anos 1990.

Ainda tomado pelas lembranças, menciona a primeira vez que veio a João Pessoa, quando o ônibus da Nordeste, em que viajava, teve o pneu do meio furado durante um temporal. “Eu tomei um banho de chuva e ajudei o motorista a trocar o pneu. E abriu um arco-íris lindo na entrada da cidade. Nesse dia, um amigo querido, o professor Júnior, estava na plateia com os filhos vendendo meus discos. Ele se foi na pandemia, e ainda tenho vontade de fazer uma homenagem a ele”, recorda.

O artista ora lança registros pontuais de Outras Mulheres — como o single “Estrada do Sertão”, com Karine Telles e Cristovão Bastos —, mas o foco imediato é mesmo o disco em tributo a Tim Maia. No palco, Renato Braz entrelaça passado e presente, costurando um cancioneiro de vozes essenciais da música brasileira. Um encontro de histórias que continua sendo contado de maneira tão natural quanto o inusitado da vida, como quem troca um pneu no meio da estrada e segue até com um arco-íris na chegada.

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*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 12 de agosto de 2025.