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Lançamentos na Livraria A União

Passeio pelas narrativas curtas contemporâneas

publicado: 03/01/2024 09h20, última modificação: 03/01/2024 09h20
Hoje, na capital, escritores Nathallia Protazio (PE) e Tônio Caetano (RS) apresentam suas coletâneas
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Tônio Caetano (esquerda) vai apresentar no evento o livro ‘Terra nos cabelos’. Nathallia Protazio (direita) trará as crônicas de ‘Pela hora da morte’, da Editora Jandaíra. - Foto: Diego Lopes/Divulgação/Acervo Pessoal
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‘Terra nos cabelos’, foi a obra vencedora do Prêmio Sesc na categoria Contos, lançada há três anos pela Record - Imagem: Record/Divulgação
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“O conto e a crônica carros-chefe das narrativas curtas tocaram e tocam corações todos os dias de quem lê” - Imagem: Jandaíra/Divulgação
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Terra nos Cabelos - Record Divulgação.jpg
Pela Hora da Morte - capa 3D.jpg

por Joel Cavalcanti*

O que tem a dizer escritores de estilos dessemelhantes e de trajetórias tão distintas sobre o panorama atual das narrativas curtas contemporâneas? Esse é um dos temas da roda de conversa com a pernambucana Nathallia Protazio, o gaúcho Tônio Caetano e o paraibano Tiago Germano, que mediará o evento que acontece hoje, às 19h, na Livraria A União, localizada no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. Com obras publicadas nos gêneros do conto e da crônica, os três escritores estreitam os laços de uma literatura que ainda busca superar barreiras sociais e territoriais.

O encontro vai aproximar os pontos de vista e as inspirações em relação ao fazer literário dos autores de Pela hora da morte (Editora Jandaíra, 160 páginas, R$ 54), livro de crônicas publicado em 2022 por Protazio; e Terra nos cabelos (Editora Record, 112 páginas, R$ 49,90), conjunto de contos vencedor do Prêmio Sesc publicado por Caetano há três anos. As duas obras são reflexo do momento de intensa transformação nesses gêneros. “Existem muitos cronistas produzindo textos buscando vencer o tempo. A crônica tinha antes aquele status do dia, do momento, e hoje a gente vê cronistas produzindo textos que se aproximam muito do conto, com essa perspectiva de vencer o tempo, de se tornar um clássico, trazendo para a crônica muito da ficção”, destaca Tônio Caetano.

O mercado editorial de grande porte nem sempre está disposto a investir na força desse movimento, por isso são as editoras de médio porte que têm dado maior espaço para a pluralidade do mercado brasileiro, como aponta Nathallia Protazio. “O conto e a crônica carros-chefe das narrativas curtas tocaram e tocam corações todos os dias de quem lê, isso inclui pessoas com poder de decisão de publicação. Se isso vai transformar o mercado desses gêneros, eu não sei. Vai depender de quanto dinheiro passa na mão desses corações tocados”, afirma a autora. “Falar de mercado editorial sendo autora é sempre um risco danado. A gente fala o que vê, vê o que mostram, mostram o que querem”.

Ambos os convidados mantêm uma amizade pessoal e literária formada em Porto Alegre e que é unida pelo ponto de vista do escritor negro. Nathallia Protazio é natural de Jupi, interior de Pernambuco, é escritora, farmacêutica e mestranda em psicologia social. Ela já publicou também Aqui dentro (Editora Venas Abiertas, 2020). Já Tônio Caetano nasceu na periferia de Porto Alegre e é especialista em Literatura Brasileira pela PUCRS, além de servidor público municipal. Ele tem publicado ainda Sobre o fundo azul da infância (Venas Abiertas, 2021), obra que levou o Prêmio Academia Rio-Grandense de Letras na categoria de Narrativa Curta.

“A nossa literatura abarca um pouco a nossa trajetória de vida, e se diferencia por aí. O que nos aproxima é o ponto de vista negro e o que nos diferencia é um pouco da nossa trajetória de vida e que isso de alguma forma, mesmo quando a gente trabalha a ficção, acaba impregnado ali também”, compara Caetano. “Entre o trabalho do Tônio e o meu, acreditarmos no mesmo tipo de mundo pro futuro e, através de diversos projetos, como o Coletivo de Escritores Negros de Porto Alegre. Não só sonharmos com este futuro, mas com cada palavra que podemos construir este futuro. Tônio é um escritor completo e eu ando criando um mundo ficcional de Nathallia Protazio, procurando minha voz narrativa”, complementa a escritora pernambucana.

Barreira cultural

Mediando o evento, Tiago Germano conheceu os convidados da noite quando fez doutorado em Escrita Criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E esse intercâmbio entre Paraíba e o público gaúcho acabou sendo uma das poucas referências que a literatura paraibana contemporânea teve para eles. “Tiago Germano e Débora Ferraz são nomes que circulam em Porto Alegre, e o crédito é todo deles. Mas de gente viva, estou em falta com os colegas paraibanos e sedenta por conhecê-los. Dos mortos, meu amado poeta, que tanto me acompanhou: Augusto dos Anjos. Genial! Além de Ariano Suassuna e José Lins do Rego, não me vem mais ninguém à mente agora”, confessa Nathallia Protazio.

Um entrave que o evento de hoje se propõe a vencer. “Parece que tem uma barreira – não sei se é São Paulo, Rio, Paraná –, não sei quem é que produz uma barreira cultural em relação à diversidade cultural aqui do Nordeste. Na literatura contemporânea a gente conhece pouco aqui de cima e talvez vocês também conheçam pouco dos escritores lá do Rio Grande do Sul. Acho que esse encontro que a gente vai ter na Livraria A União talvez seja um sintoma da contemporaneidade, algo que antes talvez não fosse possível”, conclui Tônio Caetano.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 03 de janeiro de 2024.