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no teatro pedra do reino

Passos decisivos

publicado: 02/04/2024 08h36, última modificação: 02/04/2024 08h36
Companhia Jovem da Escola Bolshoi no Brasil apresenta hoje o espetáculo ‘Uma Noite na Espanha’
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‘Carmen’, com música de Georges Bizet e coreografia de William Almeida, é um dos espetáculos através dos quais os jovens dançarinos do Bolshoi mostrarão seu talento | Foto: Divulgação

por Sheila Raposo*

A Espanha literária e andaluza aportará no Teatro Pedra do Reino, às 20h de hoje, vestida de cores fortes e sapatilhas de ponta. Quem vai trazê-la a João Pessoa é a Companhia Jovem da Escola Bolshoi, com a apresentação do balé Uma Noite na Espanha. No palco, o país ibérico será representado por trechos de clássicos da dança mundial, como Dom Quixote, Laurência, Paquita e Carmen, reunidos em um só espetáculo.

A apresentação será dividida em dois atos: no primeiro, os espectadores assistirão à passagem de Dom Quixote por um acampamento cigano, durante a busca por Dulcinea, a mulher dos seus sonhos; depois, verão a história de amor entre Laurência e Frondoso, baseada na peça Fuenteovejuna, do dramaturgo espanhol Lope de Veja; e, por fim, acompanharão a trama envolvendo Paquita, uma jovem cigana, e o conde Lucien, na Espanha ocupada pelo exército de Napoleão. O segundo ato será dedicado ao balé Carmen, drama intenso e trágico conduzido pela música de Georges Bizet, com coreografia de William Almeida.

A visita da Escola de Teatro Bolshoi a João Pessoa trouxe não somente apresentações, mas conhecimento e intercâmbio de experiências, em três dias de intensa atividade. A programação teve início ontem, com dois workshops de dança clássica para bailarinos iniciantes e intermediários, e se encerra amanhã, com uma apresentação do espetáculo apenas para alunos da rede pública de João Pessoa, como parte do projeto de formação de plateia realizado pela escola, cujo objetivo é estimular o gosto pelas artes e o hábito de frequentar o teatro.

Seleção

Única extensão da companhia russa Balé Bolshoi no mundo, a escola, que se localiza na cidade de Joinville (SC), terá um compromisso extra na capital paraibana: uma reunião com professores e diretores de escolas municipais de João Pessoa, na manhã da quinta-feira, para dar início ao processo seletivo deste ano.

“A gente começa com uma reunião motivacional, explicando sobre a Escola Bolshoi. A partir daí, a rede de ensino continua o processo seletivo, dentro das próprias escolas. Depois dessa primeira etapa, as crianças passam por mais uma seleção, desta vez, conosco”, explica Célia Campos, diretora administrativa da Escola Bolshoi.

Segundo ela, a primeira parceria entre a Escola Bolshoi e a Prefeitura de João Pessoa formou 10 profissionais da cidade. “Atualmente, estamos com 14 crianças, que entraram na Escola Bolshoi em 2022, por meio dessa parceria”, acrescenta.

Um desses bailarinos é o menino Kaio Gabriel Basílio da Luz, de 11 anos, cujo primeiro contato com a dança se deu numa dessas seleções. Em seu terceiro ano na escola, Kaio conta que teve um começo difícil, por causa da saudade de casa. “No começo, eu ligava muito para os meus pais e avós, sentia muita falta. Mas depois me adaptei”, diz ele.

Para realizar o sonho de “ser um grande bailarino e dançar nos palcos do mundo”, como ele mesmo disse, Kaio enfrenta a rotina de aulas e ensaios com prazer. “É bem cansativo, mas estou bem ansioso para a minha primeira apresentação no palco. Gosto muito de dançar”, conta.

Mudança de vida

Quem já passou pela mesma experiência de Kaio foi o bailarino e professor de dança Geovan da Conceição, que atualmente se prepara para lançar um livro autobiográfico. Na obra, ele conta como passou de um menino que morava em abrigo infantil — depois de ser resgatado da comunidade violenta em que vivia — para um cidadão pleno, com uma profissão, uma família e muitos sonhos.

Intitulado Filho da Adversidade, o livro de Geovan já está em fase de editoração, com lançamento previsto para o próximo semestre. “Meu objetivo é impactar outros jovens. Quero que eles vejam o meu exemplo e digam a si mesmos: ‘Se ele conseguiu, eu também consigo’, e encontrem forças para lutar por seus objetivos, independentemente das dificuldades. E falo isso porque tenho propriedade pra falar, sei o que eu enfrentei”, ressalta.

A ligação de Geovan com a dança começou em 2004, quando, aos 10 anos de idade, ele assistiu a uma apresentação do Bolshoi no Espaço Cultural. “Eu nunca tinha visto nada parecido, fiquei extasiado. E o desejo de ser um bailarino me tomou por completo”, lembra.

Três semanas depois desse espetáculo, ele estava fazendo os testes para a escola. Em pouco tempo, veio a confirmação: havia sido selecionado. “Eu era somente uma criança, mas tomei a decisão mais importante da minha vida. Aquela era a minha chance, a minha grande oportunidade”, conta.

Os oito anos que ele passou na Escola Bolshoi o transformaram para sempre. “Se não fosse essa escola, a probabilidade de eu ser mais um nas estatísticas de violência era muito grande. Até hoje, tenho uma relação de carinho muito forte com a equipe do Bolshoi”, afirma.

Em 2021, quando começou a escrever a própria história, Geovan foi selecionado entre 18 bailarinos do mundo para participar da 25a edição do Festival International Solo Tanz Theater, na Alemanha (realizado de forma remota, por causa da pandemia). Único brasileiro a participar do evento, saiu de lá premiado. Depois, fez uma turnê pela Alemanha e pela França.

Hoje, Geovan é chefe da Divisão de Dança da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope) e professor do Centro Estadual de Artes da Paraíba (Cearte).

Os ingressos estão à venda digitalmente através do link (R$ 40, inteira, e R$ 20, meia).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 02 de abril de 2024.