Ele ingressou na atividade política muito cedo, iniciando aos 18 anos de idade como vereador na cidade de Borborema, antigo distrito do município de Bananeiras, na região do Brejo da Paraíba. Nos anos 1990, começa a atuar na área das letras. “Jornalista sem jornal, advogado sem constituinte e um político sem mandato, a tribuna que perdi no parlamento, eu transferi para os meus livros. Tomei gosto pela literatura quando fiquei sem mandato, em 1994, e passei a escrever e publicar livros, pois neles encontrei o caminho para participar do debate político, sem ter mandato”, confessou o jornalista, escritor, historiador, advogado e presidente da Academia Paraibana de Letras, Severino Ramalho Leite, que hoje comemora 80 anos de idade.
“O que costumo dizer é o seguinte: minha vida foi mais dedicada aos outros do que a mim porque, se eu tivesse dedicado a mim, pelo menos deixaria um patrimônio para a minha família. Meu maior patrimônio são os filhos, a família, os netos, que me acompanharam nessa vida pública, mas tenho os olhos voltados para o futuro. Estou chegando a esse momento com satisfação, pois sempre procurei agir pelo outro e, se não fiz o bem, o mal, com certeza, não fiz a ninguém”.
Para ele, a data do aniversário é motivo de alegria para toda a sua família: filhos, netos, genro, noras, irmãos e sobrinhos, bem como para os fiéis amigos. “São os irmãos que escolhemos. Tive mais do que pedi e recebi mais do que mereci. Estou com saúde e sendo útil para instituições como a Academia Paraibana de Letras (APL) e o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP), que me acolheram em seus quadros”, afirmou Ramalho Leite, que também integra a Academia Bananeirense de Letras e foi deputado estadual e federal, além de ocupar outros cargos públicos.
"Presidir a Academia é administrar excesso de inteligência e vaidade e escassez de recursos" Ramalho Leite
Eleito em 2013 para a cadeira nº 7, da Academia Paraibana de Letras, Ramalho Leite é o atual presidente da entidade, cargo que assumiu no ano passado, e continuará exercendo até setembro de 2024. “Não pretendo disputar a presidência novamente, pois sou defensor da renovação. Presidir a Academia é administrar excesso de inteligência e vaidade e escassez de recursos”, disse ele, que também já esteve à frente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. “Aguardei a oportunidade que desejava para disputar as vagas na APL e no IHGP, pois meu amigo Dorgival Terceiro Neto ocupava as duas cadeiras, sendo que no IHGP era a de nº 45. Era o meu desejo intrínseco de preservar a memória de Dorgival. O detalhe de tudo isso é que fui candidato único nessas duas ocasiões”, comentou ele.
Ramalho Leite prefere se identificar mais como jornalista. Ele lembrou que estava prestes a se aposentar da vida pública, depois de exercer cargos na gestão de dois governos, os de Cássio Cunha Lima e Ricardo Coutinho. “Resolvi voltar ao jornalismo e ganhei espaço nos jornais O Norte, Correio da Paraíba e, principalmente, A União. A partir dos meus textos publicados vieram os livros, que passaram a ser a tribuna que havia perdido no parlamento, e lancei 11 obras, sendo a primeira em 1997, de memórias e que tem o título Dá Licença, Um Aparte, e o mais recente, em 2022, como se encerrando o discurso, Era o que Tinha a Dizer, contendo um resumo da minha vida, como uma autobiografia, mas os fatos que narro são da história recente da Paraíba”.
No momento, Ramalho está organizando a obra Pequenas Histórias para Quem Tem Preguiça de Ler as Grandes, mas sem previsão de lançamento. “E, a convite do desembargador Marcos Cavalcante, da coordenação de cultura do Tribunal de Justiça da Paraíba, trabalhar numa obra sobre a história da Comarca de Bananeiras”, informou ele.
Ao revelar que gosta muito de história, Ramalho Leite observou que alguns de seus livros têm uma característica. “Eu procuro os fatos mais pitorescos, que às vezes não constam dos livros escolares, a respeito de nobres paraibanos, as amantes dos imperadores e por uma razão muito simples: por falar de quem já faleceu não receberei reclamação e nem direito de resposta”, disse ele.
Transparência e eficiência
Como gestor público, Ramalho Leite atuou, por exemplo, como secretário de Controle da Despesa Pública da Paraíba. “Fiz o controle dos contratos e convênios, melhorando em muito o relacionamento do governo com a sociedade, dando maior transparência aos atos do governo. Toda licitação, contrato e convênio tinha que passar pela secretaria e quem não prestasse contas ficava no cadastro negativo. Depois, na PBPrev, fizemos um trabalho inovador. Os aposentados recebiam suas contribuições num cubículo localizado na cidade baixa, em João Pessoa, e transferimos o atendimento para uma sala, na sede da PBPrev, com ar condicionado e serviço de café da manhã. Quando deputado estadual, fiz projeto que equiparava a pensão da viúva ao salário do falecido, como se vivo estivesse, com o pagamento imediato da pensão da viúva, que levava de 30 a 60 dias para ser feito. A Assembleia Legislativa aprovou, mas o então governador rejeitou, mas depois reenviou com seu nome, mas o projeto foi de minha autoria. O radialista Luiz Otávio me apelidou de o ‘deputado das viúvas’, porque eu tinha essa fama de ser amigo das viúvas”, disse ele.
No entanto, Ramalho Leite apontou que sua melhor experiência foi ter sido, após o mandato como deputado federal, diretor de crédito rural do Banco do Nordeste, na cidade de Fortaleza (CE), designado pelo então presidente da República, Itamar Franco. “Nesse banco, com atuação do Nordeste até o Norte de Minas Gerais e todo o polígono das secas, pude ajudar, de agosto de 1993 até início de 1995, a Paraíba e deixar o estado no terceiro lugar na aplicação do Fundo de Financiamento do Nordeste. Houve liberação de recursos para projetos de cooperativas, impulsionando esse setor na Paraíba. Isso provocou ciúme no então governador de Pernambuco, Joaquim Francisco, tendo reclamado que isso só ocorreu porque era um paraibano que estava no cargo. Fiquei feliz com essa queixa do governador, porque o meu objetivo estava sendo atingido”, comentou ele.
Como gestor público, ele contou que sempre com transparência e procurando a eficiência. Nunca tive uma conta desaprovada em qualquer órgão fiscalizador, seja estadual ou federal. O poder só me serviu para beneficiar os que mais precisavam. Houve uma época que, na minha casa, éramos dois os gestores. Minha esposa, Marta, prefeita por três vezes do município de Bananeiras, ex-deputada e primeira paraibana a ocupar a primeira suplência de senador, por igual, jamais obteve a desaprovação de quaisquer de suas contas. Podemos dormir em paz. Como muito orgulho, posso proclamar, já somos quase sessenta anos de ficha limpa”, garantiu Ramalho Leite, que nasceu no distrito de Camucá, atualmente cidade de Borborema, antigo distrito de Bananeiras.
Na ocasião em que celebra seus 80 anos de idade, Ramalho Leite também demonstrou agradecimento pelo apoio de sua família, ao longo dessa trajetória. “Casei com 15 anos e dona Marta tinha 15 anos. Fui um pouco ausente como pai, porque, em vez de levar meus filhos para se divertirem, saía para campanhas em eventos. A felicidade é que, nas minhas ausências, Marta Ramalho foi quem cuidou de todos. Os filhos foram o patrimônio que primeiro construí. Tracei seus caminhos e lhes abri a porta do aprendizado”.
Na última quarta-feira (dia 4), Ramalho recebeu o Título de Cidadão Pessoense na Câmara Municipal da capital, propositura do vereador Milanez Neto, pelos relevantes serviços prestados à cidade. “Está aí um título que eu desejava para mim, pois amo essa cidade e com afinco a servi”, pontuou ele, que também possui os títulos de cidadão dos municípios de Solânea, no Brejo, e de Juru, no Sertão paraibano.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 05 de outubro de 2023.