Música, circo e teatro, narrados e encenados com bom humor, em formato de poesia e cantoria. À luz do candeeiro e arraigado às manifestações culturais nordestinas de antigamente, o novo espetáculo da Cia. Mulinga, Quando o Circo Se Alumia, traz todo o encanto nostálgico das noites circenses dos sertões seculares, em duas sessões para escolas públicas hoje, no Teatro Ednaldo do Egypto, em Manaíra, hoje, às 9h e 14h30. Em novembro, o espetáculo será apresentado para o grande público, no Teatro Santa Roza.
Tudo começou quando a companhia de teatro resolveu realizar uma pesquisa histórica sobre o circo, lançando o olhar investigativo para a comicidade própria da cultura paraibana e nordestina. “Buscamos artigos, livros, esses registros — que não são fáceis, porque você não tem delimitado por região como era isso antigamente”, afirma o ator Luís Eduardo, que dá vida ao palhaço Bambam no palco.
O processo ainda contou com entrevistas — sobretudo com Taioquinha, o palhaço mais antigo da Paraíba, em atividade no circo Águia Dourada. Somada a isso, a abdução imaginativa fez com que o grupo concebesse como seria se a rotina de produção da trupe tivesse de se adequar às condições estruturais do picadeiro de 100 anos atrás (ou até um pouco mais).
Toda a proposta estética, atenta à precariedade dos circos de outrora, tal como a inexistência de energia elétrica nas zonas rurais, foi influenciada pelo estudo. “Na parte de conteúdo mesmo, de como eram feitas as piadas e o que apresentavam os artistas, tudo isso foi matéria-prima pra gente fazer esse espetáculo”, clareia o ator.
Além do elenco, composto por Irla Medeiros (palhaça Cacatua) e Luís Eduardo, a peça conta com preparação corporal de Ademilton Barros, cenografia de Tina Medeiros, figurinos de Tainá Macêdo e iluminação comandada por Eloy Pessoa.
“São dois grandes artistas e já trabalham com palhaçaria há bastante tempo. Foi um processo muito gostoso, de trocas colaborativas. Fui propondo alguns caminhos, como a questão da sombra”, afirma a diretora da peça, Nyka Barros, em menção indicial à chama do candeeiro, elemento central à premissa.
Sortuda é o qualificativo usado por Nyka para descrever sua condição diante do convite para a direção de Quando o Circo Se Alumia, tendo em vista serem a palhaçaria e a bufonaria linguagens com as quais a atriz vem pesquisando academicamente desde 2010.
Toda a trilha é tocada ao vivo, orquestrada por Eron Melo, sanfoneiro convidado. Natural de Queimadas e radicado em Campina Grande, Eron, inclusive, é veterano das tocadas em circo interioranos, de lona furada, em sua cidade natal, agregando vivências coincidentes ao enredo.
Nyka faz questão de ressaltar a presença das escolas junto ao espetáculo: “Pra gente é muito importante esse processo de estar com as escolas públicas, já que o acesso à arte é um direito de todas as pessoas. As crianças poderem acessar de maneira gratuita um espetáculo profissional, dentro de um teatro com toda a estrutura adequada. Então, pra gente é uma alegria muito grande quando conseguimos fazer essa ponte, porque acreditamos muito no poder da educação através da arte”.
O projeto Acenda o Candeeiro, o Circo Chegou foi realizado com recursos do Governo Federal, por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) 2024, em edital executado pela Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 17 de Outubro de 2025.