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Entre preces e amores, cantor e compositor paraibano resgata a espiritualidade como um todo em ‘Livrai-nos do Mal’

Pedro Indio Negro lança primeiro disco solo

publicado: 11/11/2022 00h00, última modificação: 29/12/2022 15h32
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Disponível a partir de hoje nas plataformas digitais, projeto do artista é composto por oito faixas autorais, passeando por expressões musicais afro-nordestinas - Foto: Foto: Rodrigo Barbosa/Divulgação

tags: PEDRO INDIO NEGRO , PEDRO INDIO , MÚSICA

por Gi Ismael*

Em 2008, a cantora Glaucia Lima gravava o DVD Zanzar, no Teatro Santa Roza, em João Pessoa. Na lateral do palco, seu filho Pedro Indio Negro, na época um adolescente tímido, de apenas 13 anos de idade, acompanhava a irmã Manu Lima nos backing vocals. Aquela foi a primeira vez em que Pedro subia em um palco. Agora, 14 anos depois, o artista reúne suas principais referências e vivências e as apresenta ao público com o disco Livrai-nos do Mal, seu primeiro álbum solo. 

Lançado hoje nas plataformas digitais, ele é composto por oito faixas autorais, passeando por expressões musicais afro-nordestinas, inspirado em artistas como Cátia de França, Jaguaribe Carne, Gilberto Gil e Baiana System. “O disco começou a ser gravado um mês antes do início da pandemia, em paralelo a uma campanha de financiamento coletivo idealizada por Ana Moraes para financiar os custos do disco”, contou Pedro.

“Com o início da pandemia, tanto a gravação teve que ser adiada quanto a campanha de financiamento, esticada. Apesar de ter sido horrível, isso também contribuiu para que eu maturasse melhor o que eu queria nesse disco, tirando e trocando algumas músicas, convidando Amorim pra ser o produtor/arranjador, e me deu tempo e confiança para eu mesmo fazer o arranjo de uma música e dar pitaco em outras”, continuou o músico.

A partir dessa prorrogação forçada e inesperada, Pedro Indio passou a convidar amigos e profissionais que já haviam trabalhado com ele. A parceria com Amorim, por exemplo, não começou com este disco. Os dois compõem o grupo Quadrilha, ao lado de Elon Barbosa e Guga Limeira, que assina uma das músicas do álbum junto com Hugo Limeira. “Na banda tem parte da Funkeria, parte da Flor de Pedra, parte da Quadrilha, parte da banda do Festival de Música da Paraíba, e assim vai”.

É como diz o título de um outro projeto de Pedro Indio: “Família é quem vem”. O grupo faz apresentações eventuais e é formado por seu irmão Bruno Miranda, a irmã Manu Lima e a mãe Gláucia Lima, há décadas um dos nomes mais fortes da música paraibana. O álbum de estreia de Pedro conta com uma música de Bruno e as vozes de Gláucia, invertendo a lógica de mãe e filho do começo desta matéria, e Manu como backing vocal. Livrai-nos do Mal foi gravado no mesmo estúdio onde seu pai, o cantor e compositor Pedro Osmar, gravou o primeiro álbum de canções do Jaguaribe Carne.

Por mais que remeta ao catolicismo, o título Livrai-nos do Mal resgata a espiritualidade como um todo. A “ijexá-funk-rock” ‘Pavão Real’, primeira faixa do disco, é uma boa síntese do conceito que rege essa estreia. “Todas as músicas fazem parte de um conceito específico de acesso religioso em que as entidades são conceitos abstratos de amor pautado na liberdade e na paciência, e da natureza manifestada em animais e elementos ‘irracionais’ como plantas e águas”, refletiu ele. “É como se tudo fosse prece. Quando eu falo de amor é prece e quando eu falo de natureza e mitologia, também”.

Segundo Pedro Negro Indio, os meses que antecederam o lançamento do disco foram bem corridos. Durante os setembro e outubro deste ano, ele se apresentou ao lado da cantora Ilessi em São Paulo, além de ter dividido o palco com os parceiros musicais Helinho Medeiros, Titá Moura e Quadrilha. “Está no ofício do artista viajar para oxigenar a sua produção artística, entrar em contato com outras realidades e ver o mundo para contar como ele é para a sua aldeia, senão o artista vira um cover de si mesmo”, disse.

No próximo mês de dezembro, Pedro Indio volta para São Paulo para participar de um concerto de Chico César em conjunto com a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (Osusp), fazendo trabalho vocal ao lado de outros sete cantores.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 11 de novembro de 2022.