Notícias

trajetória

Pedro Osmar, em carne e música

publicado: 08/07/2024 10h31, última modificação: 08/07/2024 10h31
Lenda viva da cultura paraibana, que completou 70 anos, reflete sobre sua carreira
1 | 4
Em 1980, com o irmão Paulo Ró | Fotos: Arquivo A União
2 | 4
em 1983, com Braulio Tavares, Flavio Eduardo, Paulo Machado e Jarbas Mariz
3 | 4
Em 1992, com Chico César
4 | 4
Em 2001, fazendo o que faz melhor: uma vida de música e encontros
1980_ 19840803 pub_ Pedro Osmar e Pedro Ró.jpg
19830109_ Pedro Osmar_ Braúlio Tavares_ Flávio Eduardo_ Paulo Machado e Jarbas Mariz.jpg
19920105_ 19960123_ 19970118_ foto Ernane Gomes_ Chico César e Pedro Osmar.jpg
20010324 pub_ foto Hélder Pinto.jpg

por Esmejoano Lincol*

Esse foi o começo do Jaguaribe Carne, mítico grupo pessoense de música experimental que reuniu, em formações diversas, além dos irmãos Pedro e Paulo, artistas paraibanos em começo de carreira, que viriam a ganhar destaque dentro e fora de nosso estado nas décadas seguintes, como Chico César, Escurinho, Totonho e Paulo Negão. O nome remetia ao movimento antropofágico do modernismo brasileiro. “Essa carne é a carne cultural. Eu também me encantei muito pela música contemporânea que outros independentes faziam naquela época e pelo poema processo”, enumera o artista, citando, por último, um movimento de vanguarda em voga a partir do fim dos anos 1960.

O grupo se apresentava em circuitos populares de música, junto a escolas, universidades, sindicatos de trabalhadores e associação de moradores. O período de efervescência musical e social do Jaguaribe coincidia com o momento político do Brasil àquela altura, ainda sob a égide do regime militar. “Quando os movimentos se reuniam para protestar, a gente estava junto. E algumas de nossas canções viraram hinos, como ‘Lá vem a barca’ e ‘Boi cavalo de tróia’, esta última, Elba gravou”, detalha o pessoense.

“Não valho tudo isso”

O Jaguaribe Carne foi a gênese do movimento Musiclube da Paraíba, coletivo criado no fim da década 1970 e que trazia, além dos membros do Jaguaribe, outros grandes artistas de nossa terra, como Cátia de França, Adeildo Vieira e Milton Dornellas. Na época, Pedro tocava na banda de Zé Ramalho e decidiu largar seu posto para voltar a João Pessoa e trabalhar em prol da música de sua terra natal. “Todo esse pessoal já tinha música no sangue, cantando, tocando e compondo. Quando se encontraram comigo e com Paulo, a nossa criatividade deslanchou “, explica. 

Foi a partir do selo Musiclube que Pedro e Paulo conseguiram gravar seu primeiro disco, de maneira independente: Jaguaribe Carne Instrumental, lançado em vinil, em 1993. Raro, hoje, o LP é comercializado por pequenas fortunas: no Discogs, site catalográfico de álbuns musicais, a cópia disponível está à venda por R$ 1.400. “Não valho tudo isso. Na época, nós cobrávamos apenas R$ 10 por cada LP. Por R$ 1.400 eu jamais compraria”, brincou Pedro.

O artista diz que acompanha a nova geração que compõe, atualmente, o cenário musical da Paraíba e assevera que os artistas estão “botando para quebrar”. Ele ainda atesta que a situação deles hoje junto aos palcos é muito melhor do que era quando ele começou, nos anos 1970.

“Principalmente na divulgação. Eles tocam muito por aí, pelo estado todo. Os filhos e os netos de muitos colegas estão nessa lida, e eu estou gostando muito do que eles estão fazendo”, alegou.

Futuro

“Eu quero tirar uma foto ali, junto daquele cocar” disse Pedro ao fotógrafo Leonardo Ariel, apontando um dos adornos do carnaval tradição de João Pessoa pendurados no teto do Espaço Cultural.

“Eu adoro isso aqui, mas não saio no carnaval por ser muito tímido”, nos confidenciou. Sua timidez também quase impediu que ele nos contasse sobre seu novo projeto. “Estou produzindo meu novo disco. Vai se chamar Isabel — Sete Cirandas e Um Apito. Não tem previsão de lançamento, mas até dezembro ele deve pintar por aí”, finalizou Pedro Osmar.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 07 de julho de 2024.