Guilherme Cabral
Esta sexta (21) será marcada por dois eventos importantes no cenário cultural e político em João Pessoa. Durante o dia, à tarde, show das Diretas, com apresentações de diversos artistas no Ponto de Cem Réis reivindicando eleições para a presidência da República. À noite, no histórico Teatro Santa Roza, show de lançamento do CD “Quem Vem lá?”, de Pedro Osmar, referência quando se fala em Música Popular Brasileira a partir dos anos 1970, artista de talento e uma espécie de “guerrilheiro cultural”. O show começa às 20 horas, com ingressos sendo vendidos a R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia). No palco, Pedro estará acompanhado dos músicos Marcelo Macedo, Uaná Barreto, Michel Charles, Uirá Garcia, Guegué Medeiros e Paulo Ró.
O álbum “Quem Vem Lá?”, com dois CDs, traz uma retrospectiva das canções autorais de Pedro Osmar e também das parcerias, começando a partir dos anos 1970, com a música “Brincando de Saci”, feita quando o artista ainda era semi-interno da creche da antiga Legião Brasileira de Assistência (LBA) junto com seus irmãos. “É um disco de muitos significados, fazendo um giro pela minha vida pessoal e profissional. São 32 canções autorais, a maioria já divulgadas e gravadas por artistas como Elba Ramalho, Lenine, Amelinha, Xangai, Zé Ramalho e outros amigos músicos ao longo dos últimos trinta anos”, explica.
Ao falar sobre a sonoridade de “Quem Vem Lá?”, em comparação com trabalhos anteriores, Pedro Osmar afirma que este é um disco simples, bem mais popular, apesar de não ser comercial, “cuja missão é mostrar e revelar o conteúdo de minhas músicas com letras para as novas gerações”.
Missão que não parece assim tão difícil, já que Pedro Osmar cada vez mais vem virando referência para as novas gerações musicais. Ele acredita que neste momento está numa fase de uma objetividade necessária, em que as canções e sua rítmica regional brasileira (ciranda, bumba meu boi, coco, baião etc) é valorizada. “Na verdade, é um disco que eu me contive muito em gravar, resisti até onde pude já que eu considerava que minha voz era muito feia e desafinada, mesmo eu sabendo que não era verdade”, relata.
Essa, digamos, “cisma” com sua própria voz só durou até encontrar pela frente os músicos da “Família Medeiros” (Xisto, Helinho e Guegué) que lhe ajudaram a entender a importância do autor gravar suas próprias músicas. O resultado desse debate entre músicos amigos começou no CD “Vem no Vento”, produzido no “Estúdio Peixe-Boi”, do músico Marcelo Macedo, de João Pessoa. Já “Quem vem lá?” foi todo gravado em São Paulo, numa produção cooperativa entre a Lamparina Rosa (Guegué Medeiros), o Estúdio Nheengatu (Marcos Alma) e os músicos apoiadores na capital paulista.
Lançar um álbum em um tempo onde as pessoas quase não mais valorizam o objeto disco pode parecer loucura. Não para um artista como Pedro Osmar, que sempre construiu sua carreira à margem do mercado musical. “Sou do tempo da fita cassete! Lancei muita coisa do Jaguaribe Carne em fita cassete no começo dos anos 80. Depois, para o LP foi um pulo. Lançamos o disco Jaguaribe Carne - Instrumental, que teve mil capas diferentes para o mesmo disco, feitas por vários artistas nordestinos e moradores de Jaguaribe, Mangabeira e Lucena, que participaram de oficinas domésticas específicas para a construção da arte dessas capas. Depois chegamos ao CD, que é uma mídia com a qual me acostumei e que gosto muito. Mas, sinceramente, não gosto desse “puxincói” da indústria, que nos coloca diante de uma variedade de produtos de provocação consumista”, desabafa, deixando claro não estar interessado em participar dessa corrida mercadológica onde o objeto CD está sendo canibalizado. “Acho uma palhaçada industrial! Hoje o LP está voltando ao mercado, num despropósito sem tamanho. Vôte!”, exclama.
Já que esta sexta-feira marca o reinício da caminhada pelas Diretas Já, nada como falar de revoluções, através da música. Isso é possível? Pedro Osmar historia que as revoluções foram inventadas pelo homem para fazer avançar politicamente e culturalmente a máquina social dos países, para resolver os impasses criados pelas elites. “A Semana de Arte Moderna é, para mim, uma revolução importante na cultura brasileira em consonância com o que acontecia nos países da Europa. Há até um livro lançado no Brasil, de Gilberto Mendonça Teles que conta essa história -“Vanguarda europeia e Modernismo brasileiro”, que é bem interessante sobre essa didática”, comenta. Para o artista, a cultura tem ajudado, sim, nesses processos revolucionários. “Eu procuro me inserir nessas aberturas que são fundamentais para a vida política de minha música”, defende.