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MÚSICA

Pelas ruas de Sapé

publicado: 22/06/2024 10h11, última modificação: 25/06/2024 10h11
O trio Alumiô lança no YouTube um “álbum visual” com clipes que mostram a relação das integrantes com sua cidade natal
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Acima: cenas do álbum visual do grupo. Na foto ao lado: Bianca Dias, Xande Viajante e Felipe Silveira, em cima, formam a banda de apoio; Ester Nascimento, Bianca Dias e Jamylli Ferreira, embaixo, são o trio Alumiô | Fotos: Natália Di Lorenzo/ Divulgação
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por Esmejoano Lincol*

Rua Urbano Guedes, no Centro de Sapé. Há quem diga que mesmo os moradores da cidade não conhecem esse logradouro pelo nome oficial. “Tabaco da Burra”, o apelido famoso e jocoso que o endereço ganhou, é o berço do grupo paraibano Alumiô, formado por Bianca Costa, Ester Nascimento e Jamylli Ferreira. Depois de estrear, no início do mês, seu primeiro compacto – “Avuá”, disponível em todas as plataformas digitais – as três artistas acabam de lançar, no YouTube, um álbum visual homônimo, que conta com três das canções incluídas no disco – “Embolada feminista”, “Eu vou dançar esse coco” e, claro, “Tabaco da Burra”.

Mas, afinal, por que a rua tem esse nome? Quem nos esclarece a dúvida é Jamylli. A principal “teoria” remonta ao antigo cabaré que funcionava na região: “As pessoas que vinham dos sítios montados em burrinhas deixavam os animais amarrados na frente desse lugar. Os burros faziam suas necessidades ali, onde o cheiro era forte, e, assim, a rua foi ganhando esse apelido”. O clipe, dirigido pela fotógrafa paraibana Natália di Lorenzo, percorre espaços de Sapé que são conhecidos e importantes para o Alumiô.

Infância eclética

Bianca Costa teve uma infância eclética: ela elenca Tim Maia, Djavan, Caju e Castanha e Alcione como alguns dos cantores mais executados nos aparelhos de som da família. Sobre seu primeiro trabalho, ela revela que ficou surpresa com a recepção positiva do público. “Depois desse lançamento, eu percebi que a singularidade que demos a esse disco é o que cativa quem nos ouve. Tratamos de empoderamento feminino e de regionalidade”, disserta.  

O contato com a população de Sapé durante as filmagens foi “mágico”, segundo a artista. “As pessoas passavam e ficavam muito curiosas. Quando contávamos o que estavam fazendo, se encantavam por estarmos gravando este clipe. Uma dessas pessoas nos agradeceu por estarmos valorizando a cidade, levando o nome de Sapé para longe”, detalha. Bianca revela que, durante as gravações do clipe, estreitou laços com a cabeleireira Cláudia, mulher trans que conhecia apenas de nome. Através desse contato, pôde tomar ciência de sua luta para ser reconhecida e respeitada.

Embolada feminista

Apesar de ter nascido em João Pessoa, Ester Nascimento vive desde a primeira infância em Sapé. “Uma das minhas memórias favoritas da minha cidade natal é do carnaval, com as ala ursas passando. É uma cultura muito presente aqui em Sapé. Lembro de ver os ursos dançando, e o batuque dos treme-terra (instrumento usado pelos meninos da ala ursa), que chega a fazer palpitar o nosso coração “, explica.

A Feira da Brasília, um dos locais visitados pelo Alumiô, ambienta o clipe da canção “Embolada feminista”, que é, de acordo com Ester, uma das mais potentes do disco: “Eu só dou a quem eu quero”, diz a letra. “É incrível cantar essa música nos shows e ver do palco as mulheres se divertindo e ao mesmo tempo fazendo uma expressão de ‘nossa, é muito verdade o que essas meninas estão cantando’. ‘Embolada’ tem muito do que eu acredito e defendo como mulher”, assevera Ester.

A música como ofício

Os primeiros contatos de Jamylli Ferreira com a música vieram a partir de seus tios. Um tocava em trios de forró. “O outro sempre tinha vários instrumentos em casa. Ficava fascinada, horas e horas mexendo no violão, até que, vendo meu encantamento, ele me deu um de presente”, evoca a artista. Apesar de ter recebido incentivo de seus pais, ela conta que ambos levaram um susto quando perceberam que a música seria de fato o seu ofício. “Tive de ser muito firme para que as pessoas vissem que eu levo minha arte muito a sério, me impor dessa maneira me fez conseguir o respeito e aceitação das pessoas à minha volta”, pondera.  

Mesmo precisando sair de Sapé, junto de suas amigas, para seguir a carreira que sonhou, ela rememora com carinho dos tempos em que vivia na rua Urbano Guedes. “Minha avó me ouvia, pequeninha, falar que ia ter uma banda. Ela sorria com sua doçura, germinando os sonhos de uma criança”, nos conta. Do novo compacto, ela destaca “Andorinha”, música que não foi incluída no vídeo recentemente lançado, mas que ajudou a dar nome ao primeiro disco do grupo. “Ela fala de como mulheres amam mulheres. De maneira intrépida, correndo mundos, enfrentando barreiras, abrindo caminho para o amor passar”, declara Jamylli.

 Das fotos para os clipes

Diretora do álbum visual, Natália di Lorenzo, conheceu o grupo depois de ir a dois shows do Alumiô no início deste ano. “Vi que elas estavam curtindo algumas coisas no meu Instagram de vez em quando, e já fui logo pensando ‘eita, vem aí’, relembra. E veio mesmo”.

Convidada para fotografar o ensaio do disco do trio, ela recorda que visualizou, de imediato, o roteiro dos clipes de algumas das canções do Avuá. “Já fui logo dizendo a Bianca que eu queria fazer os vídeos, nem que tudo saísse de graça, pois tinha curtido demais as músicas e via muito potencial no trabalho delas”, afirma a fotógrafa.

Através do link, confira o álbum visual do Alumiô

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de junho de 2024.