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Phelipe Caldas lança livro de crônicas sobre o futebol

publicado: 12/07/2016 00h05, última modificação: 11/07/2016 20h35
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No livro intitulado "Além do futebol: paixões, dores e memórias sobre um jogo de bola", o jornalista reúne 70 crônicas que tratam do universo do futebol - Foto: Edson Matos

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William Costa

O jornalista Phelipe Caldas lança hoje o seu segundo livro, intitulado “Além do futebol: paixões, dores e memórias sobre um jogo de bola” (Ideia Editora). A apresentação da obra e a sessão de autógrafos acontecem, a partir das 19h, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa. O autor estreou em livro em 2007 com “Academias de Bambu”, um texto de recorte acadêmico sobre as relações boêmias e intelectuais que giram em torno de uma mesa de bar.

Em “Além do futebol”, Phelipe reúne setenta crônicas sobre a grande paixão da sua vida, o futebol, além de um texto extra sobre a vertente do esporte bretão que se tornou conhecida como “futebol americano”. Há crônicas inéditas e uma mais antiga, de 2012, mas a maioria, escritas entre 2014 e 2016, foi publicada no blog do autor –“Carrinho por Trás” – e no extinto “Jornal da Paraíba”, no qual ele trabalhou, principalmente, na editoria de Esportes.

Do ponto de vista de sua estrutura e conteúdo, o livro de Phelipe coloca o leitor diante de uma partida de futebol, na iminência de começar. A leitura inicia com os textos dos “comentaristas”, no caso, os professores Sérgio de Castro Pinto (orelhas) e Hildeberto Barbosa Filho (prefácio), prosseguindo com as considerações do cartola-técnico-locutor (o autor) sobre campeonato, estádios, árbitros, gandulas, equipes, craques, jogadas, torcidas e torcedores.

Não pode ter sido simples coincidência o fato de a primeira crônica do livro de Phelipe eleger a bola como protagonista. Afinal, ela que deu origem ao futebol e é a própria essência do jogo, notadamente no momento mágico em que, com humildade, rebaixa-se ao nível dos pés do craque, desvanece a forma física, para se consubstanciar na efêmera matéria espiritual do gol. A bola e o craque: “amor eterno”, “harmonia indissolúvel”, “magia indiscutível”.

Iniciado o “jogo”, Phelipe apresenta e detalha as latitudes técnicas, filosóficas, artísticas e existenciais do futebol.O esporte atravessa fronteiras de tempo e espaço e, transformando vidas (individuais e coletivas), toma a forma definitiva de arte e cultura. Assim formatado, empresta suas feições antropológicas, lúdicas e estéticas para a construção da identidade singular de um determinado povo, ou um segmento dele, como aconteceu com os brasileiros.

Por meio do futebol conhecemos também aspectos essenciais da personalidade e da biografia do próprio Phelipe, haja vista que, na condição de suprema paixão, o esporte permeia suas relações com o outro, pertença ou não ao núcleo da família, e isso desde a mais tenra idade. A densidade amorosa do livro manifesta-se, acima de tudo, na relação afetiva que o liga ao pai (hoje memória), ambos torcedores; dependentes incorrigíveis do “vício” chamado futebol.

Como está claro, óbvio e evidente, o futebol é o núcleo central do livro de Phelipe. No entanto, o autor o alarga de tal maneira, que, praticamente, nenhum assunto relacionado ao esporte lhe escapa à memória prodigiosa, perspicaz e atenta. A primeira ida ao estádio (com o tio), os jogos assistidos ao lado do pai, os jogadores e as jogadas inesquecíveis, as glórias das conquistas e os traumas dos rebaixamentos, as brigas das torcidas... E por aí vai.

Phelipe é um contador de histórias nato. Narra na primeira, mas não raro muda de pessoa ou “incorpora” um personagem, para melhor expressar aspectos emocionais. É o caso de “Sublime amor”, um texto comovente sobre um trabalhador que sobrecarrega a jornada para ganhar um bilhete de acesso ao estádio que ajudou a construir, e depois o entrega ao filho, para que este realize por ele o “sonho sagrado” de assistir um jogo de Copa do Mundo.

Um campeonato é feito de jogos memoráveis (no bom e no mau sentido), assim como uma partida tem momentos sublimes (o gol de letra), eletrizantes (a bola na trave) e frustrantes (o pênalti perdido). Do mesmo modo, no livro de Phelipe há textos criativos e bem escritos, como “Do lado de lá da pátria” (sobre um heroico torcedor da zona rural) e “O mundo em um botão” (sobre o futebol de botão), e outros, digamos assim, de menor densidade narrativa.

O excesso de advérbios de modo (palavras com o sufixo “mente”) e a intercalação, ainda insatisfatória, de períodos breves e longos, comprometem a leveza e a concisão que se espera da crônica. Percebe-se que, em alguns casos, o autor poderia esmerilar mais a frase, substituindo palavras ou suprimindo vogais e artigos. Filigranas que emprestam certa aspereza ao tecido narrativo, mas que serão facilmente removidas pelo potencial criativo do autor.

Bom técnico que é, Phelipe aperfeiçoa-se a cada livro, ou seja, a cada partida jornalística e literária (ou as duas coisas juntas, como acontece com seu livro de crônicas) que dirige. Portanto, nos próximos jogos, saberá escalar palavras-craques, tecendo períodos e parágrafos inventivos, até o texto final primoroso. Será o seu gol de placa, no minuto final da partida, como ele gosta. Na arquibancada, encerrada esta partida, torcemos já pelo próximo jogo.