por Guilherme Cabral*
Do ponto de vista das instituições museológicas, instituições de preservação da memória, de salvaguarda do patrimônio, a Paraíba vive hoje um momento inédito em que se tem, sob a responsabilidade do Governo do Estado, sete instituições públicas destinadas a essa missão”, afirmou Pedro Santos, presidente da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, que está realizando, até o próximo domingo, atividades gratuitas ao público, dentro da programação da 20ª Semana Nacional de Museus, encabeçada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), cujo tema deste ano é “O Poder dos Museus”.
Hoje, amanhã e na quinta-feira, o professor universitário Daniel da Hora, curador da exposição sobre seu avô, batizada de Abelardo da Hora: Vida e Obra, guiará o público em visita ao memorial recém-inaugurado do artista pernambucano na Funesc. Nos três dias, ele comentará a trajetória de um dos mais importantes nomes da arte expressionista brasileira, sempre das 10h às 11h e 15h às 16h.
A gerente do Memorial Abelardo da Hora (MAH), Maria Botelho, informou que no local existem 215 obras, a exemplo de esculturas, gravuras e cerâmicas, o que corresponde a mais de 20 toneladas de acervo do artista pernambucano. “O professor Daniel da Hora, que elaborou o projeto expográfico, é o curador da exposição de longa duração e neto de Abelardo da Hora, vai narrar para os visitantes a vida e a carreira de Abelardo, através das obras. É um acervo de importância internacional, através do qual Daniel terá condições de contar a história e a trajetória artística de Abelardo da Hora”, disse ela.
O objetivo da visita guiada é tornar conhecida toda a multiplicidade do artista, morto em 2014. “Ele é mais conhecido pelas esculturas de mulheres em grandes dimensões, mas a sua obra era variada em temas, como também na técnica”, explicou Daniel da Hora. “Além de esculturas, ele criou desenhos com temas sociais, a exemplo da fome, miséria e violência e, na área da cultura popular, danças de Carnaval. Ele também produziu gravuras, cerâmicas e tapeçarias”, disse o neto, natural de Recife (PE) e professor de artes na UFPB.
O presidente da Funesc ainda observou que o evento acontece num bom momento. “Nós temos o Memorial Abelardo da Hora, na Fundação Espaço Cultural, e o Museu da Cidade de João Pessoa, ambos inaugurados recentemente pelo governador do Estado, João Azevêdo; o Museu do Artista Popular, que foi requalificado pelo governador; o Museu José Lins do Rego, também na Funesc; o Museu Casa de José Américo, que fica na orla da capital; temos também, na cidade de Patos, a Casa-Museu da Fundação Ernani Sátyro, e teremos, ainda, o Museu da Polícia Militar, que brevemente será entregue pelo governador; há, também, em João Pessoa, o Museu da História da Paraíba, que vai funcionar no Palácio da Redenção e que está se preparando para receber essa nova instituição”, enumerou o gestor.
O evento começou ontem, com duas palestras: “Museologia social e comunitária na Paraíba: poder, lutas e resistências”, com Átila Tolentino, e “Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil”, com Fernanda Pitta. “Historicamente, os museus têm sido associados a espaços elitizados e atrelados às identidades e memórias coletivas de grupos politicamente hegemônicos. Mas, como um movimento relativamente recente, grupos sociais que não se viam representados nesses espaços têm se apoderado dos museus para conformar suas memórias coletivas e identidades culturais em primeira pessoa. É o caso dos museus comunitários existentes na Paraíba, como o Vivo Olho do Tempo, o Museu Quilombola do Gurugi, o Museu do Patrimônio Vivo da Grande João Pessoa, o Memorial das Ligas e Lutas Camponesas e, o mais recente deles, o Museu Paraibano da Cultura Afro-brasileira e Indígena, criado na semana passada. São instituições museológicas que, por meio da resistência, atrelam suas memórias coletivas às demandas e às lutas sociais que defendem. Essa resistência também é uma outra forma de poder, que se utiliza do museu para as suas pautas políticas e para a valorização das suas identidades culturais”, disse Ítalo Tolentino.
Museu Zé Lins e FCJA
Na próxima quinta-feira (19), nos turnos da manhã e tarde, o Museu José Lins do Rego, localizado no Espaço Cultural, promoverá palestras sobre “O Poder dos Museus: Por entre o passado, o presente e o futuro”. Quem abrirá a programação, às 9h, será a professora da UFPB e líder da Rede de Pesquisa e (In)Formação em Museologia, Memória e Patrimônio (Redmus), Luciana Costa. Às 14h30, a mestranda em Artes Visuais da UFPE, Eva Caroline de Sena Castro, que também é membro da Redmus da UFPB, falará a respeito do mesmo assunto.
A gerente do Museu José Lins do Rego, Maria do Carmo Diniz, também ressaltou a importância do evento. “O museu tem muito poder, porque, além de guardar a memória, divulga a cultura, alimenta a educação e o conhecimento e, por isso, o tema da Semana dos Museus é bastante sugestivo. As pessoas precisam acabar com a ideia de que museu é para guardar coisa velhas, antigas, porque o museu se atualizou”, comentou a gestora do equipamento.
Na sexta-feira (20), será realizada, a partir das 16h, no Auditório 1, mesa de debate sobre “O poder dos museus: tecendo redes e diálogos para a construção de um devir museal na Paraíba”, com participações de Marisa Rodrigues (Reumus), Luciana Costa (Redmus) e Sandra Valéria Félix de Santana (Rem-PB).
Também na capital, a Fundação Casa de José Américo (FCJA) irá integrar a pauta: na quinta-feira, às 9h, haverá a abertura oficial da exposição, com registros fotográficos de ações do Museu Casa de José Américo, que indicarão relações de poder. Já no sábado (dia 21), das 9h às 10h, haverá uma ação educativa, com apresentação de Teatro de Fantoches, voltada para o público infantil, sobre a vida do patrono José Américo de Almeida. A atividade integrará o projeto da Feira dos Aromas.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 17 de maio de 2022