Linaldo Guedes
Uma obra que denuncia as atrocidades praticadas pelo Golpe de 64, através da ditadura militar no Brasil. Assim é “A Leste dos Homens”, livro do escritor Políbio Alves que será lançado amanhã, às 19h, no Centro Cultural Ariano Suassuna, localizado no Tribunal de Contas do Estado, em Jaguaribe. O lançamento contará com o documentário “Eis aí, o poeta!”, do multimídia Hélio Costa, e apresentação do professor, doutor em literatura, Milton Marques Júnior. “Escrevi esse romance para espantar os pesadelos, os fantasmas das noites de insônia. E também para não ser conivente com os crimes cometidos pela ditadura a serviço da servidão humana”, explica.
Em “A Leste dos Homens” tudo acontece numa velha cidade às margens de um rio poluído e de um porto com grande fluxo comercial. Para Políbio, a leitura da obra incomoda, sim. “É o texto do possível e do impossível, do desespero e da morte anunciada, do desassossego”. Segundo ele, “A Leste dos Homens” foi escrito para que ninguém possa desconhecer os tempos insanos do ciclo do terror, da aflição, do medo, da infâmia, dos assassinatos, do desespero, das feridas abertas na mente e no coração de milhares de pessoas, da dor e da tirania que se abateu sobre o povo brasileiro. Entre outras, as atrocidades que aconteceram no Varadouro, desde o início da fundação da cidade, depois, durante os assassinatos cometidos no estado Novo, mais adiante, nos anos 60 e 70.
“Aliás, sou um dos sobreviventes de toda essa barbárie. Os anos 60 poderiam ser o ano da minha morte porque fui sequestrado em 1º de maio de 1968. O que aconteceu comigo ocorreu com milhares de outras pessoas, cidadãos pacatos, filhos de um país democrático que continua a celebrar a injustiça social, manter ainda privilégios injustos de uma oligarquia financeira e empresarial como postulados de governabilidade”, revela. Em 1968, Políbio Alves foi preso no Rio de Janeiro após a Passeata dos 100 mil, realizada em represália à morte do estudante Edson Luiz de Lima Souto, assassinado dentro do Calabouço com um tiro à queima-roupa no coração, disparado pelo revólver do aspirante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Aloisio Raposo, no dia 28 de março de 1968. Por lecionar no Calabouço, ter o Edson Luiz como aluno, participar ativamente do suplemento literário da Tribuna da Imprensa, o único jornal que não apoiava a ditadura, Políbio foi considerado subversivo.
“A Leste dos Homens” foi traduzido para o espanhol e publicado em Cuba em novembro de 2016, agora sai em português, numa nova versão, pelo editor Rafael Rocha, da Inverta, Rio de Janeiro. A obra situa-se historicamente entre dois parâmetros distintos. Um, a ditadura no Varadouro. E o outro, a situação de Cuba nos últimos dias do governo de Fulgêncio Batista. No romance, há um momento em que os soldados queimavam todos os livros da biblioteca pública da cidade. Mas um deles, escapa da sanha dos agentes da repressão, dos destroços e das cinzas. “A leste dos homens é um arquivo específico dos tempos de chumbo no Brasil, leia-se Varadouro, e também em Cuba”, define.
Políbio diz que desacredita em escritor, poeta, ou qualquer outro artista que não seja o esteio da sociabilidade humana. “Por exemplo, se o meu texto nutrir no olhar do leitor algum engajamento, seja na prosa ou na poesia, juro, não é uma escolha consciente, mas uma dicção circunstancial”, acrescenta.
Nono livro de sua carreira literária, Políbio afirma que busca conciliar poesia e prosa com a mesma qualidade e senso crítico trabalhando a Literatura como arte, acima de tudo. “Estou com o pé na estrada há muitas décadas. Que começou ao dez anos, lá em Cruz das Armas, bairro onde nasci. O que resta dos mortos, conto, 1983, me conduziu ao patamar de escritor, na época eu tinha 42 anos. Enfim, nove livros publicados e outros amarelando nas gavetas, armários no meu escritório-exílio. Acho muito, até. Arthur Rimbaud e Augusto dos Anjos só publicaram um livro, apenas. Portanto, para não me envergonhar mais tarde, rasgo quase todos os meus manuscritos, esses, em fase de elaboração. Isso acontece quando identifico as impurezas das frases, dos parágrafos nas particularidades da palavra”, comenta.
Políbio se define como inimaginavelmente criterioso com o manuseio das palavras. “Jamais tive nenhuma pretensão de publicar livros em série, constantemente. Mas os que publiquei tenho a certeza de que posso dormir sossegado. A partir dessa premissa, dessa conotação orgânica de conhecimento, foi possível mergulhar sem nenhum pudor nas diversificações da escrita, proporcionado-me ir além do que poderia revelar, de pronto, no pântano das palavras. Assim, desse modo, recodificando o real diante do insólito, dos dogmas, dos abismos, da solidão e dos arroubos da memória”, argumenta.
A carreira literária de Políbio Alves fora do Brasil continua em plena ousadia. Seus livros o transformaram em Cidadão do Mundo. Eles fazem parte da Biblioteca Nacional José Martí (La Habana, Cuba), Casa das Américas (Cuba), Biblioteca Camões e Centro Cultural Brasileiro (Lisboa), Casa do Brasil (Madrid), Biblioteca Nacional da França (Paris), Biblioteca da Universidade de Reims (Champagne-Ardenne, França), Biblioteca do Centro Gulbenkien (Paris), Internacional Board of Examiners (IBE) - Edizione Universum (Frento, Itália), Salon du Livro et de la Presse - Varal do Brasil (Genebra, Suiça). Na Universidade de Reims (Champagne-Ardenne, França), seus livros estão sendo estudados em salas de aula, seminários e colóquios através da professora Dra. Roselis Batista Rale, filha do jornalista paraibano Oduvaldo Batista.