Na noite de ontem, a produção da Amazon Prime Video, Cangaço Novo, atingiu um feito inédito. Ela foi a primeira série a ter seu primeiro episódio apresentado no Festival de Cinema de Gramado. A exibição aconteceu em sessão especial no Palácio dos Festivais, fora da competição oficial. Outro marco importante para esse que é o maior investimento da gigante do streaming no Brasil acontece hoje, em João Pessoa. O Centerplex MagShopping exibe, às 21h, em sessão exclusiva para convidados, a pré-estreia do episódio inicial da série filmada na Paraíba e com nove atores e atrizes paraibanos no elenco. A partir da próxima sexta-feira (18) será a vez dos espectadores de mais de 200 países conhecerem a série de ação que quer mudar a forma que se enxerga o Sertão nordestino.
A expectativa é ainda maior para uma das estrelas de ‘Cangaço Novo’, a paraibana Marcélia Cartaxo. “Estamos muito ansiosos porque é uma produção internacional muito grande, e a primeira vez que ela acontece no país. Torço para que as pessoas gostem, que dê certo e que elas reflitam sobre o que estaremos falando em ‘Cangaço Novo’”, espera a atriz de Cajazeiras. “Foi muito bom participar desse projeto feito praticamente apenas com atores nordestinos. Fiquei muito feliz de poder trabalhar aqui perto, nesse cenário tão bonito do Nordeste”. As filmagens aconteceram entre agosto de 2021 a maio de 2022 nas cidades de Cabaceiras, Campina Grande, Pocinhos, Puxinanã, Queimadas, São João do Cariri, Boa Vista, Boqueirão e Conde. A produção conta com a participação dos paraibanos Luiz Carlos Vasconcellos, Joálisson Cunha, Buda Lira, Daniel Porpino, Dudha Moreira, Geyson Luiz, Vando Farias e Fabio Campos.
Com a presença de parte do elenco e equipe em João Pessoa, a pré-estreia acontece simultaneamente em Recife, Natal e Fortaleza. A produção dirigida pelo baiano Aly Muritiba e o paulista Fábio Mendonça conta a história de Ubaldo (Allan Souza Lima), um homem à deriva, descontente com a vida e precisando de dinheiro para cuidar de seu pai adotivo enfermo. Ele é um bancário sem memória de sua infância, que recebe uma herança que mudará para sempre os rumos de sua história. Na cidade fictícia de Cratará, ele se tornará o líder de uma perigosa gangue de assaltantes de banco, cumprindo o destino e o legado de seu pai biológico, um mítico cangaceiro. O personagem tem duas irmãs, Dilvânia (Thainá Duarte) e Dinorah (Alice Carvalho), e é herdeiro de um legado ligado ao cangaço.
Allan Souza Lima, protagonista da série, fez questão de ressaltar a parceria com a atriz paraibana em cena. “Tem artistas que pelo tempo de estrada e pela experiência que faz a gente entrar em cena com todo respeito. Marcélia Cartaxo é uma delas. Mas automaticamente isso cai por terra pela sensibilidade e humildade que ela tem em cena. No momento em que ela levantou meu braço em um dos episódios, eu já estava entrando em uma crise de choro há algum tempo. Marcélia Cartaxo é uma pessoa fantástica e de uma generosidade incrível”, afirmou o ator pernambucano, que pode ser visto na novela ‘Amor Perfeito’, da TV Globo.
Já Marcélia Cartaxo descreve sua personagem como uma mulher forte que tem voz ativa como uma líder social que ajuda a lutar pelas coisas mais básicas na vida das pessoas de sua comunidade. Ela passou por uma preparação para viver a personagem com Fátima Toledo, uma das mais requisitadas preparadoras de elenco do país. “Eu fiz uma semana de aulas com ela, e depois fomos para as pesquisas de prática. Foi muito gostoso e um trabalho muito intenso”, lembra Cartaxo. Ela não estará presente na pré-estreia de logo mais à noite porque está gravando ‘Guerreiros do sol’, a próxima novela do Globoplay, com previsão de lançamento para 2024. Mas ela comenta sobre a possibilidade de uma segunda temporada para ‘Cangaço Novo’. “Eles falam sobre isso, mas de forma ainda muito vaga. Estamos aguardando para ver como será a temperatura desse projeto. Depois é preciso ter uma outra reflexão”.
Com oito episódios, a intenção da série é fazer uma ligação entre o Sertão contemporâneo e o Sertão ancestral, sem a mitificação que a representação do Cangaço possui na tradição cinematográfica brasileira. O primeiro filme nesse estilo foi ‘O cangaceiro’ (1953), de Lima Barreto. Uma produção em que tudo é idílico e o cangaceiro é retratado como uma figura honrosa e quase heróica. “Estávamos interessados em um Sertão realista, naturalista, em que a gente vê um sujeito aboiando o gado vestindo um gibão de couro montado em uma honda biz, ouvindo João Gomes em uma versão de Beyoncé. Esse é um Sertão muito rico e que foi muito pouco mostrado. É um Sertão colorido, tem luz neon e caixinha JBL pendurada em jegue. Estávamos interessados nisso, nas figuras diversas e muito complexas”, conta o diretor Aly Muritiba. “Esse Sertão não tem mais nada daquela coisa que a gente vê, sem nenhum demérito - gosto muito da obra -, na obra de Guel Arraes. Esse é um Sertão de outra natureza”.
Outro ponto de ligação que a série traz para a cena é a transformação do papel feminino através do tempo. “No cangaço tradicional, a figura da mulher ocupava determinadas posições que são diferentes das que o imaginário tem. As mulheres não pegavam em ferro para dar tiro. Elas estavam limitadas às atividades das mulheres das décadas de 1920 a 1950. Elas não participavam dos combates. Isso dialoga diretamente com os desejos da nossa personagem Dinorah, que está inconscientemente querendo romper com esses padrões muito masculinos e normativos”, reforça o diretor Fábio Mendonça, que finaliza: “Esse período aqui na Paraíba foi transformador. Estou fazendo um produto nordestino em que os nordestinos se veem bem representados. Essa era minha preocupação desde o início”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 15 de agosto de 2023.