O diretor iraniano Asghar Farhadi sabe trabalhar muito bem com as tensões subliminares desencadeadas por um acontecimento inesperado no seio da família. Foi assim com o seu filme "As Separações" (2011), que o tornou conhecido no mundo inteiro e lhe deu o Oscar de filme estrangeiro. Agora, ele volta novamente a tratar de um acontecimento traumático dentro da família no seu novo filme "O Apartamento", que saiu do Festival de Cannes com os prêmios de melhor ator para Shahad Hosseini, que faz o marido em busca de vingança, e roteiro (grande parte da crítica queria a Palma de Ouro para Farhadi).
O filme "O Apartamento" conta a história de um casal que tem que sair da antiga moradia, que foi danificada por conta de uma construção ao lado do prédio, para outro lugar. Eles vão morar de favor num apartamento de um conhecido que o alugava para uma mulher que se prostituía. O marido é professor de uma escola de adolescentes e a noite trabalha, junto com a esposa, como ator (eles estão ensaiando a peça A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller). Num certo dia, a esposa espera o marido voltar da escola para juntos irem ao teatro. A campainha da porta do prédio toca, ela libera a entrada, abre a porta do apartamento pensando se tratar do marido e vai tomar banho. Mas era um homem que tinha ido atrás da antiga moradora (todo o desenrolar do acontecimento dentro do apartamento não é mostrado para o telespectador).
O marido fica sabendo pelos vizinhos que sua mulher foi encontrada desacordada dentro do banheiro com ferimentos na cabeça. Ele, assim como o telespectador, tem poucas informações do que aconteceu. A mulher fica um tempo no hospital e volta para casa, mas não consegue esquecer o trauma. O marido é contaminado de outra forma, pois quer saber quem fez aquilo para punir o culpado. O diretor habilmente trabalha com as consequências desse acontecimento na vida daquele casal, que tenta, sem êxito, voltar a vida normal. A mulher acuada com os ferimentos no corpo e na alma de um lado, e do outro o marido, ultrajado pelo desejo de vingança como única possibilidade de restaurar a normalidade no seio da família novamente. Mas será que isso é possível? Essa é a pergunta que o belo filme de Farhadi faz sem encontrar respostas.