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Principal grupo de teatro de bonecos da PB completa 20 anos de atividades

publicado: 23/10/2016 00h05, última modificação: 21/10/2016 20h36
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José Valério, Artur Leonardo, Amanda Viana, Thaisy Santos e Anderson Santana fazem parte da formação atual do grupo - Foto: Divulgação

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Guilherme Cabral

Principal grupo artístico da Paraíba, até porque é o único organizado que trabalha especificamente por meio da animação com bonecos, a Cia Boca de Cena - cuja sede se localiza no bairro de Mandacaru, na cidade de João Pessoa - completou no último domingo, 16 de outubro, duas décadas de existência. E, como não poderia ser de outra maneira, seus integrantes comemoraram a data com a apresentação - a convite - naquele mesmo dia, do espetáculo intitulado Colcha de Retalhos, durante a festa para as crianças promovida pela comunidade do Distrito Mecânico, situada no Varadouro, também na capital. “Depois que criamos o grupo houve um grande avanço para a arte bonequeira no Estado, pois, com a abertura de espaço para a nossa companhia, também ajudamos a divulgar outros brincantes. O mais emblemático, ao longo desse período, foi o grande crescimento dessa atividade que obtivemos e o reconhecimento por parte do poder público”, disse Artur Leonardo, um dos fundadores e diretor artístico, ao fazer, para o jornal A União, um balanço da trajetória até agora percorrida. “E, para o futuro, queremos crescer mais”, garantiu ele.

Criada no dia 16 de outubro de 1996 por Artur Leonardo e Eurismar Cavalcante, que depois deixou o grupo, a Cia Boca de Cena, além de ser um grupo artístico - o qual, ao longo do tempo, contou com a participação de várias pessoas, consideradas amigas e que colaboraram voluntariamente - é uma instituição não governamental especializada na animação com bonecos. Os seus integrantes também realizam pesquisas em várias áreas do conhecimento, com o objetivo de promover o desenvolvimento da arte bonequeira em sua diversidade. E, ainda, já fizeram vários intercâmbios culturais com outros grupos de teatro de bonecos nacionais e internacionais, a exemplo do Mamulengo sem fronteiras, do Distrito Federal, e alguns do Sul da Alemanha.

No âmbito patrimonial, a Cia Boca de Cena, por meio do trabalho de coordenação de pesquisa de Amanda Viana, que é atriz e produtora do grupo, também deu suporte, em âmbito da Paraíba, no trabalho de registro do teatro de bonecos como patrimônio cultural do Brasil. “Depois de 11 anos de espera, finalmente o título de patrimônio foi oficializado e nós nos sentimos orgulhosos de termos feito parte deste processo”, confessou ela para A União. “Na educação, desenvolvemos o Projeto Bonecos na Escola, que tem por objetivo levar arte popular do teatro de bonecos para dentro do ambiente escolar, possibilitando o acesso direto de crianças e adolescentes ao universo artístico e didático, desenvolvido pela Cia em seus espetáculos”, disse, ainda, a integrante da Companhia, atualmente composta por cinco membros, sendo os demais José Valério (ator e técnico em montagem), Thaisy Santos (atriz e assistente de produção) e Anderson Santana (assessor de comunicação e designer gráfico).

Tamanho comprometimento da Cia Boca de Cena - que, ao longo dessas duas décadas, já ultrapassou 30 montagens, incluindo o próprio Colcha de Retalhos, que estreou em 2004, O Auto de Babau, Iê Malungo e, o mais recente, Tem Boi no Algodão, todos sob a direção artística de Artur Leonardo - em defesa de tal manifestação artística rendeu vários frutos. Nesse sentido, o grupo ganhou prêmios em âmbito nacional, a exemplo do Myriam Muniz de Teatro, em 2008; o Artes Cênicas na Rua (2012) e o Artes na Rua (2014), todos pela Funarte e Ministério da Cultura, como também o de Melhor Espetáculo na Festa Internacional de Teatro (Fita), realizado na cidade de Angra dos Reis (RJ), em 2008. E, recentemente, o de 1º lugar no Prêmio de Boas Práticas, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pelo exemplo de ação de salvaguarda para o teatro de bonecos popular do Nordeste, através do Projeto Benedito e João Redondo Pelas Ruas da Cidade.

“Com 20 anos de história, fica até difícil relatar quantos e quais os projetos já realizamos. Mas vou citar os mais recentes. Com o Bonecos na Rua, circulamos por mais de 20 comunidades de João Pessoa, levando o teatro de bonecos para dentro das comunidades onde o poder público não conseguia chegar. Ganhamos o Prêmio Myriam Muniz com este projeto; com o Bonecos na Rua – Aulas Espetáculos, avançamos para mais comunidades, levando espetáculos e aulas espetáculos sobre a diversidade do teatro de bonecos popular; com o Benedito e João Redondo pelas Ruas da Cidade – 1ª, 2ª e 3ª Etapas, que é um projeto contínuo, ganhador de dois prêmios nacionais pelo seu poder de salvaguarda para com o teatro de bonecos popular da Paraíba, realizamos um trabalho que envolve circulação de espetáculos, visibilidade dos mestres bonequeiros, mapeamento cultural, gravação de documentário e aulas de educação patrimonial e ganhador do Prêmio de Boas Práticas do Iphan”, destacou Amanda Viana.

Apesar de ter uma trajetória bem sucedida, o Boca de Cena ainda enfrenta percalços. “Nossa principal dificuldade se encontra na manutenção da Cia. Sabemos que esta não é uma dificuldade só nossa e que a maioria dos grupos de teatro também passa por problemas parecidos. Porém, nós vivemos apenas de teatro de bonecos, não somos funcionários públicos. Em alguns momentos pessoas do grupo precisaram sair para prestar serviço em órgãos públicos, mas a célula, como dizemos aqui, sobrevive da arte que produz”, disse, ainda, a diretora de produção e atriz da Companhia.

“Um desafio diário e com a atual situação política deste País, acredito que somos realmente loucos. Não temos qualquer perspectiva de crescimento, no âmbito da política cultural. Tudo que foi construído e conseguido, nesta área, corre o sério risco de desaparecer e não cremos em dias melhores, por um bom tempo. Nossas atividades são mantidas, em sua maioria, por editais públicos, não temos qualquer patrocinador. Agora estamos buscando alternativas de manutenção, com projetos que visem o contato direto com o público. Não acreditamos que haja continuidade no desenvolvimento das políticas culturais vigentes”, acrescentou Amanda Viana, assegurando que o grupo já pensa no futuro, apesar da conjuntura. “Vamos continuar na caminhada, seguindo o ritmo de sempre, e, em breve, a Cia Boca de Cena terá sua sede própria, mas não vamos divulgar, ainda. Temos como metas, para 2017, mais uma montagem, a continuação dos projetos Bonecos na Escola e Benedito e João Redondo pelas Ruas da Cidade, além da circulação dos espetáculos Iê Malungo e Tem Boi no Algodão pelo interior do Estado”, garantiu ela.