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Produção francesa será exibida nesta 4ª na FCJA, na capital

publicado: 12/12/2017 20h05, última modificação: 12/12/2017 20h12
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Cena da comédia dramática que retrata a convivência de um casal por 45 anos, dirigida por Nicolas Bedos - Foto: Divulgação

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Guilherme Cabral

Primeira obra do autor e roteirista francês Nicolas Bedos e produzida em 2017, o longa-metragem intitulado 'Monsieur & Madame Adelman' será exibido em sessão única - e gratuita - nesta quarta-feira (13), a partir das 17h, na sede da Fundação Casa de José Américo (FCJA), localizada na cidade de João Pessoa. Na ocasião, o filme será comentado pelo crítico Andrés von Dessauer, que vai bater um papo com o público. “O filme é um ‘must’ para todos que querem casar, estão casados ou querem se divorciar”, garantiu ele para o jornal A União.

“O fato de um diretor sair com seu primeiro longa-metragem na vida com tanta qualidade é muito raro. A obra bateu recorde de permanência em um dos melhores cinemas nacionais, o Reserva Cultural, na Avenida Paulista, em São Paulo. Ao dividir o filme em capítulos e epílogo para retratar a vida de 45 anos de um casal e, assim, ganhar fluidez, o diretor consegue entrar na estrutura de um livro e, desta forma, fazer um linque com um dos argumentos: a literatura”, ressaltou Andrés Dessauer, referindo-se a 'Monsieur & Madame Adelman', cujo enredo mescla os gêneros da comédia dramática com o romance.

Dessauer ainda observou outros aspectos importantes em 'Monsieur & Madame Adelman', no qual o diretor Nicolas Bedos também é protagonista e já tinha atuado em outros três longas, inclusive o filme intitulado 'A Datilógrafa'. “Mostrar as passagens do tempo nas expressões faciais dos atores não representa um problema intransponível ao staff de maquiagem quando da produção de um filme; já reduzir uma vida longa a duas horas de projeção é um desafio aos cineastas, aos roteiristas, aos editores etc., e representa a prova de que a sétima arte consegue, dependendo dos recursos, resolver essa demanda. Dividir o tempo linear em capítulos, sempre de olhos nos articulados, é uma solução frequente e, neste longa, bem executada”, disse ele.

“O fio condutor - objeto da obra, uma máquina de escrever, já empregada, com sucesso, na recente película 'Trumbo' (Jay Roach, 2016) – abre a sequência temporal da saga familiar. Essa máquina conecta duas pessoas com aspirações literárias complementares e se transforma, no final, em computador, evidenciando a passagem do tempo. Além das atividades mencionadas, Bedos é, na vida real, criador de trilhas musicais, portanto as partes auditivas, em harmonia com o roteiro cativante, fazem com que a história do casal possa ser considerada uma das melhores películas da safra de 2017. O andar da carruagem na montanha russa da vida dos dois ganhou, assim, sustentação que poucos filmes conseguem”, comentou Dessauer, que também teceu elogios à edição do filme. “Merece aplausos, pois os cortes foram executados de forma cirúrgica, conectando, por exemplo, em sequências rápidas e de forma original, três mortes: de um cão, de uma ave e o suicídio da mãe-sogra Adelman”, disse o crítico.

Dessauer ainda observou que a linearidade do tempo ocorre sempre em flashbacks, mas garantiu que isso não leva o espectador ao tédio. “Além de outro fio condutor, o entrevistador, Bedos introduziu vários ‘pulos de gato’, criando, assim, agilidade e leveza para a obra, não poupando situações hilárias. Nesse sentido, o psicólogo, nas sessões do M. Adelman, sempre muito paciente com as ladainhas do cliente, transforma-se, quando em estado terminal, em um indivíduo revolto. Isso, justamente, na parte trágica da película”, justificou ele.

“Diante dos 45 anos de vida do casal, o espectador talvez possa concluir que, por bem ou por mal, um casamento só pode ser duradouro se existe algum grau de dependência entre as partes. Justamente, o fator de complementaridade faz um casal ser casal e se distinguir daquelas parcerias que só coexistem debaixo do mesmo teto. Como nenhuma relação está privada das fases em que as frustrações e as insatisfações derrubam um passado romântico, Bedos não se privou de mostrar esse vazio”, observou Andrés Dessauer, para que no centro da ação está a determinação incondicional de Madame Adelman, personagem encarnada pela atriz Doria Tillier, cuja performance considera “ótima”.

Na opinião de Andrés Dessauer, Adelman é mais do que o simples retrato de uma longa vida em conjunto. “A intenção do cineasta é passar uma rasteira no espectador e mostrar que tudo que os sentidos percebem, não necessariamente, é real. A plateia se encontra, desde o início, em uma cilada, ao deduzir que tudo é como aparenta ser. Algumas ótimas obras da cinematografia, conseguiram, justamente, dar uma virada nos últimos minutos, causar espanto e, com esse efeito, garantir bilheterias. Se existisse a classificação “rasteira” para definir as produções cinematográficas, obras como o argentino 'O Segredo dos seus olhos', o italiano 'Youth', o mexicano 'Não Aceitamos Devoluções' e outras tantas poderiam fazer parte dessa família. De fato, a inversão da pessoa autora dos livros, em Adelman, só ocorre no final”, disse ele.