Ela vem de uma família portuguesa e ficou conhecida nas décadas de 1980 e 1990 pelos diversos sucessos que emplacou nas novelas nacionais. Seu nome, Maria de Fátima Gomes Nogueira, foi-lhe dado por uma madrinha lusitana, devota de Nossa Senhora, mas, como no início de sua carreira as cantoras tinham nomes muito parecidos, ela e seu produtor decidiram rebatizar-lhe com um nome único e forte. Nascia a cantora Joanna, atração de hoje, às 18h30, no Teatro Paulo Pontes do Espaço Cultural, pelo Projeto Seis e Meia. A abertura fica por conta da cantora Adriana Costa.
“A música de certa forma sempre esteve em meu caminho. Venho de uma família de músicos e de um pai apaixonado por fado. Lembro das vezes que ficava admirando seu dedilhar no violão ou no cavaquinho. Era um homem dócil quando se deparava com a música, o que destoava da forma rígida na nossa educação! Acabei deixando o curso de Administração e troquei por um violão. Nunca mais fui a mesma pessoa, sabia que esse seria o meu destino”, revela a cantora, hoje também um dos principais nomes da música católica no país.
Joanna abre uma série de apresentações de artistas nacionais no estado neste mês. Alcione, amanhã, no Teatro Pedro do Reino; Lulu Santos, amanhã, no Spazzio, em Campina Grande, e sábado, no Pedra do Reino; Simone, dia 15, no Intermares Hall, em Cabedelo; Vanessa da Mata, também dia 15, e Edson Gomes, dia 16, no Caminhos do Frio, em Remígio; e Fábio Jr., dia 23, no Pedra do Reino.
A voz das novelas
A cantora faz questão de ressaltar que compor e cantar é para os fortes, já que a palavra cantada tem o poder de emocionar as pessoas e, como ela mesma afirma, acrescer de sentimentos a vida dos outros. Apesar de cantar MPB, ela pontua que a vastidão de títulos do universo musical a faz sentir-se à vontade para cantar as mais diversas canções. Tanto que a compositora e intérprete é famosa por suas parcerias com artistas como Roupa Nova, Maria Bethânia e Martinho da Vila.
E como não lembrar delas, as novelas? Joanna guarda com muito carinho na memória de sua trajetória um lugar todo especial para as 25 trilhas sonoras que embalaram os programas televisivos dos anos 1980, 1990 e início dos anos 2000. “Momentos”, primeira canção que a fez despontar como cantora e compositora fez parte da antológica “Coração Alado” (1980–1981), novela de Janete Clair voltada à liberdade e aos direitos das mulheres. Mas foi mesmo ao longo dos 215 capítulos de “A Padroeira” (2001–2002) em que mais ouvimos o canto potente-suave de Joanna, no tema de abertura. “É um canal importantíssimo de divulgação e te proporciona uma visibilidade sem tamanho. A minha música, por ser de cunho romântico, sempre se encaixou muito bem em muitos personagens. Sorte minha”, diz, rindo.
Amanhã, sem talvez
Para Joanna, a música brasileira é detentora de várias nuances; rica e surpreendente, sendo considerada a melhor do mundo. “Quanto à nova MPB, vejo com muito bons olhos essa geração rica em informações e poesia. Estou fazendo um trabalho exatamente com as moças da MPB. A primeira é Roberta Campos. Gravamos a canção ‘Quando te vi’, de Ronaldo Bastos. Foi um encontro abençoado, brevemente estará tocando nas rádios”, conta.
O show de hoje resgatará canções dos clássicos da MPB, a exemplo de Chico Buarque, Moraes Moreira, Guilherme Arantes, Renato Teixeira, Roberto Carlos, Caetano, Flávio Venturini, Lô Borges, entre outros. A agenda da artista já vem sendo fechada, com presença confirmada para Rio de Janeiro e Belém (no Círio de Nazaré), no mês de outubro, e uma viagem em novembro a Portugal, onde fará espetáculos em Lisboa e no Porto.
Entre os projetos para o amanhã, nada de talvez. Em janeiro do ano que vem, Joanna estreia o show comemorativo dos 45 anos de carreira, em São Paulo, além de um projeto paralelo, o “Joanna e Elas”, no qual realiza duetos com várias cantoras da nova MPB. Ela confessa admirar a longevidade do seu próprio trabalho: “Às vezes me pego pensando como Deus foi bom em me proporcionar tanta alegria através da minha voz e dela ter se tornado um lenitivo em tantas vidas. Hoje as carreiras são meteóricas e ilusórias. Sou de uma geração que suou muita a camisa para chegar onde estou! Só gratidão!”.
Conhecida pela discrição sobre a vida pessoal, ela afirma estar vivendo um momento “de boa, feliz”. Católica convicta, Joanna já se apresentou para o papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, no Rio de Janeiro, e comentou no podcast “Papagaio Falante”, de Sérgio Mallandro e Renato Rabelo, sobre seu casamento com a cantora católica Karen Keldani, com quem vive há cinco anos. As duas, inclusive, já chegaram a se apresentar juntas em alguns projetos musicais.
Afora o canto, a artista dedicou-se brevemente ao violão clássico em busca de uma melhor desenvoltura nas composições, seu instrumento de fé, mas diz que ultimamente tem flertado com o piano. “A gente muda todo tempo, é necessário que assim seja. É salutar para o crescimento enquanto artista. Eu tenho uma escola, que foi a noite, que me deu esse lastro, ser polivalente. Embora meu trabalho seja conhecido como romântico, trafego em águas tranquilas por outros gêneros. Até gosto, por mostrar a versatilidade do meu trabalho”.
Do alto do palco, a cantora espera que o público sinta e absorva o grande carinho e respeito a ele dedicados, bem como sua paixão pelo Nordeste. Definindo-se como uma espécie de mensageira da alegria e crente na predestinação dos indivíduos, Joanna considera que a música modifica vidas: “Cura, traz bálsamo, traz equilíbrio. Deixa no coração das pessoas aquilo que eu acredito da forma mais sincera e pura que é o meu combustível! A música é a arte de curar a alma!”, declama.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de agosto de 2024.