Lucas Silva - Especial para A União
Dando continuidade a série “Espaços do Espaço Cultural”, na semana passada fizemos um tour pela Gibiteca Henfil que é considerada pelos admiradores e amantes dos HQs, um point das histórias em quadrinhos contada por seus personagens favoritos, entretanto, essa semana o nosso próximo destino será um equipamento bem mais antigo, que durante toda sua história convida corriqueiramente o público a viajar entre a ficção e realidade. Sim, estou falando do Cine Bangüê.
Por ser um espaço que contém muita rotatividade, o cinema do bangüê não possui horários específicos, mas segue uma programação mensal que aborda temáticas escolhidas pela sua curadoria. Os ingressos para estas atividades custam entre R$ 5 meia-entrada e R$ 10 inteira.
“Nosso processo de curadoria teve como objetivo promover a diversidade de conteúdos na programação, mas priorizando o cinema nacional acima de tudo. Temos filmes para diversos perfis de público: temos programação para os cinéfilos, para o público infanto juvenil e também temos um longa paraibano em cartaz, ressaltando a importância de trabalhar a formação do público para o nosso cinema local”, disse a vice-diretora do Cine Bangüê, Virgínia Duan.
Além disso, Duan ressaltou ainda que o cine bangüê sempre funcionou com sessões regulares pagas, mesmo quando estava no antigo local. Dessa forma, foi apenas ampliado o número de sessões e horários, para poder oferecer maior diversidade de acesso ao cinema.
Fundado inicialmente em dezembro de 1982 e batizado com o nome de uma das obras do escritor paraibano José Lins do Rego, o Cine Bangüê, aparelho que levou e que continua a levar gerações a seu espaço, reabriu suas portas novamente no último mês de fevereiro, mais especificamente no dia 19.
“Um dos maiores sucessos de bilheteria do Bangüê acho que foi o Buena Vista Social Club de Wim Wenders e Ry Cooder, filme exibido em sessões contínuas, durante vários fins de semana, aparentemente para uma mesma enorme plateia cativa. Mas também houve casos esdrúxulos, como o da exibição de Dogma (Kevin Smith, 1999), um filme completamente fora do cardápio artístico do cinema, e, que, no entanto, lotou suas dependências com uma multidão de jovens, todos vestindo preto, de modo a, vistos de certa distância, como os vi, configurarem uma enorme nuvem escura”, disse o crítico João Batista de Brito.
Desse modo, de lá para cá o novo equipamento vem dando continuidade a um ciclo de ações e parcerias audiovisuais paraibanas, além de levar ao público uma programação diversificada, que muitas vezes não está disponível nos circuitos comerciais. Possuindo 120 lugares e exibindo obras audiovisuais através de uma telona de tamanho 9,0 x 3,77m, o Bangüê traz ao público uma programação abrangente que proporciona formação à população.
Com 33 anos de muitas histórias, a sala de cinema do Espaço Cultural possui agora um novo ambiente, podendo ser considerado por alguns apreciadores como o novo “Cine Bangüê 2.0”. Para o crítico de cinema e literatura João Batista de Brito, que acompanha o desenvolvimento da telona há um bom tempo, o Bangüê foi um dos primeiros cinemas de época construídos na cidade.
“O Bangüê surgiu numa época em que os cinemas de João Pessoa, digo os cinemas com calçada e endereço, já estavam fechando suas portas, ou se vendendo a programas de karatê ou pornô, como os velhos e saudosos Rex e Plaza, no centro da cidade. Os três do meu bairro (Sto. Antônio, São José e Jaguaribe) já nem existiam e acho que nenhum bairro da cidade tinha mais cinema nessa época”, recontou um pouco da história do Bangüê o crítico João Batista de Brito.
Ainda em entrevista ao jornal A União, João Batista de Brito contou um pouco de sua relação com o Banguê. “Eu e o Bangüê, digo o velho Bangüê, tivemos um caso de amor. Acompanhei de perto a sua programação e as suas atividades desde sua criação em 1982. Na condição de espectador e, inevitavelmente, também na condição de crítico”, acrescentou.
Uma das últimas e mais importantes intervenções que aconteceram durante o seu período de reforma foi a instalação da nova tela de projeção, que agora tem o formato cinemascope, que na verdade é o mesmo modelo utilizado nas salas oficiais de muitos cinema brasileiros. A moderna tela microperfurada comporta até filmes em terceira dimensão (3D) e está equipada com um projetor digital 2k e som 7.1.
Segundo a diretora da unidade audiovisual Cristhine Lucena, essa mudança e reestruturação do espaço já era um desejo antigo da classe audiovisual e de alguns gestores do cinema que passaram pela Funesc. “Diante de um panorama favorável de aumento da produção de cinema local e com a realização de uma reforma de grande porte no Espaço Cultural em 2012, percebemos que seria um bom momento para retomar a ideia de construir uma sala com a estrutura adequada de um cinema”, disse Cristhine.
Já para João Batista de Brito, estamos com um novo Bangüê, confortável, elegante, de projeção impecável e dimensões ideais. “Só posso me alegrar com esse privilégio, aspiração de tanto tempo, não só minha, mas de todos os pessoenses que amam a sétima arte”, destacou contente.
Atividades que acontecem juntamente ao Cine Bangüê: - Uma das atividades que acontecem simultaneamente ao Bangüê é o Tintin Cineclube. Dando início às suas atividades no ano de 2004, dentro das instalações e em parceria com a Aliança Francesa de João Pessoa, o tintin cineclube exibia filmes franceses e brasileiros em 16mm. Mas, foi em 2016, após muitas mudanças de local, que o filho pródigo retornou à casa fazendo com que a Funesc reinaugurasse seu cinema, dentro do Cine Bangüê.
Nesses 12 anos de atuação, o cineclube tornou-se uma referência na difusão audiovisual em João Pessoa e na Paraíba, buscando manter-se como um canal aberto para o diálogo da produção brasileira e paraibana com a produção mundial de todos os tempos, especialmente de curta-metragem.
Em sua atividade de exibição coube sempre um espaço para apoiar a produção local através de lançamento de filmes, bem como o apoio às atividades de formação, uma vez que se entende como parte essencial deste processo, tanto para o público em geral como para aqueles que se veem estimulados a produzir a partir do visionamento e das conversas em torno dos filmes exibidos.