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Registro “ingênuo” da PB na Europa

publicado: 20/02/2025 11h47, última modificação: 20/02/2025 11h47
Registro “ingênuo” da PB na Europa

por Daniel Abath*

Obra de Tananduba que está entre as 97 selecionadas para a exposição virtual | Imagem: Luiz Tananduba/Divulgação

Desde que Henri Rousseau expôs no Salão dos Independentes, na Paris dos fins do século 19, a arte produzida por autodidatas, considerada ingênua, ou naïf, pelos críticos da época, ganhou legitimidade para adentrar os grandes salões artísticos. Nos últimos anos, um dos eventos de destaque dessa tendência é a Bienal Internacional de Arte Naif da Bulgária, realizada virtualmente desde 2021. Pela terceira vez consecutiva, o artista plástico paraibano Luiz Tananduba integra o evento como artista selecionado, com a pintura “Família”. A exposição virtual acontece entre os dias 22 de março e 22 de abril.

A Bienal teve sua primeira edição ainda durante a pandemia e manteve o formato virtual devido ao sucesso alcançado. “Eles viram o tamanho, a dimensão de divulgação da Bienal feita na época e perceberam que deu um impacto muito grande na imprensa”, lembrou Luiz.

Neste ano, o evento recebeu 450 obras de 159 artistas na fase inicial, mas, após duas etapas de seleção, apenas 97 obras foram escolhidas para compor a exposição definitiva. O prêmio final deve ser anunciado no dia 23 de abril.

O processo de seleção é minucioso e envolve críticos de arte e curadores de diversos países. Cada artista pode inscrever até três obras, mas apenas uma é selecionada para a exposição, e a escolha final se baseia em critérios técnicos e na adesão ao tema proposto pela Bienal, que neste ano abordou, de acordo com o artista, a questão da “atualidade”.

Em família

“Não existe coisa mais atual do que o ser humano e a família; tem toda uma representatividade do humano em torno de um objetivo maior”, refletiu o artista, cuja obra selecionada retrata uma cena bucólica em família.

As tintas acrílicas vivas sobre a tela revelam a ingenuidade de um mundo experienciado por oito crianças e um casal, cercados por árvores frondosas e coloridas, de troncos ondulados.

Nascido em Caiçara, Luiz Tananduba começou a pintar em 1985, aos 13 anos de idade, por influência de seu pai adotivo. Com suas cores vibrantes, sempre gostou de pintar o homem pastoril, em seu idílio campesino, e foram essas imagens que o levaram em 2021, 2023 e 2025 à Bienal da Bulgária, destacando não apenas a trajetória do artista. “Automaticamente, ela representa a arte naïf do estado, porque aqui tem muitos artistas talentosos”, afirmou.

O artista destacou ainda a importância de eventos rigorosos para o crescimento e a valorização da arte: “Eu gosto desses eventos assim, que sejam rígidos. Porque às vezes você pode estar se achando muito interessante e, de repente, não estar tão bom assim”, o que não vem ao caso com Tananduba.

A premiação da Bienal é dividida em duas categorias: os críticos escolhem os dois primeiros lugares, enquanto o terceiro é decidido por votação do público. “O difícil é ser selecionado. No momento em que você é selecionado, está em condições iguais a todos para ser premiado”.

“É uma felicidade participar de um evento como esse. Continuo em frente sem nenhuma pretensão e, sim, com objetivo”, concluiu.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de fevereiro de 2025.