Linaldo Guedes
Jornalista, coordenadora do curso de Comunicação Social da Faculdade Maurício de Nassau, doutoranda em Letras na Universidade Federal da Paraíba, Renata Escarião estreia em livro já premiada como autora. “Sandálias Vermelhas”, seu livro, foi vencedor do Prêmio José Américo de Almeida, promovido pela Fundação Espaço Cultural, em 2014, na categoria Romance. O lançamento da obra será nesta quinta (27), às 19 horas, no Espaço Mundo, na Praça Antenor Navarro, Centro Histórico de João Pessoa.
Antes de explicar o porquê do título “Sandálias Vermelhas”, Renata Escarião diz que escrever é uma ferramenta de expressão que lhe acompanha desde criança. “Tinha uns 9 anos quando comecei a escrever, guardo até hoje cadernos e mais cadernos que fazia de diário. Por isso sempre escrevi mais em prosa como forma de expressar sentimentos (inclusive turbulentos demais para uma criança...rsrsrs). Não sei ao certo quando veio o primeiro poema, só lembro bem como se tornou uma marca minha na escola, principalmente depois de ser publicada em um jornalzinho local”, recorda.
Escarião nunca se viu como escritora, apesar de não ter parado de escrever. Logo depois que se formou em jornalismo criou um blog, que repercutiu bem e lhe deu mais confiança. “Depois cancelei, porque achava muita exposição. As redes sociais também ajudaram a divulgar alguns escritos e o novo blog que criei há um tempo, o enladeirada.wordpress.com, eu levei mais a sério”, acrescenta.
Ser uma das contempladas no Prêmio José Américo de Almeida, admite, foi que lhe fez despertar para o fato de que suas palavras talvez tivessem mais força do que imaginava. “Nunca havia escrito ficção, confesso. Todos os meus textos anteriores tinham um caráter pessoal muito forte, eram baseados nos meus sentimentos, experiências e opiniões, e quando vi o edital da Funesc encontrei nele uma oportunidade para exercitar um novo estilo. Então comecei a escrever. Terminei a tempo de inscrever e quando o resultado veio, uns dois meses depois, fiquei surpresa. De todo modo, considerando quase três anos de espera pela publicação, só me senti de fato escritora quando abri a caixa e segurei o primeiro exemplar impresso com meu nome na capa”, comemora.
Apesar de ser metódica em tudo na vida, este romance seguiu a mesma linha dos demais escritos e foi espontâneo. A história e os personagens foram aparecendo página a página. Escarião detalha que começou a história por alguns desses textos para depois dar uma personagem a esses sentimentos e pensamentos. “Escrever só se aprende escrevendo (se é que se aprende) e toda essa 'prática' anterior amadureceu muito minha percepção”, ressalta.
Escarião teve a sorte de crescer em uma casa cheia de livros, com uma mãe apaixonada por literatura e muito incentivo na escola também. Alguns nomes da literatura brasileira a marcaram ainda na escola, como Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Drumond, entre outros. “Mas há um espaço especial para a que considero minha maior descoberta na literatura quando era adolescente e com cuja escrita me identifiquei e acredito que me influencia: Clarice Lispector. Para mim, Clarice dizia tudo que eu queria dizer, e o teor psicológico me lembrava muito o que eu escrevia. Continua na lista das preferidas”, afirma.
Passados três anos da premiação pela Funesc, ela ainda se sente surpresa. Quando recebeu os livros este mês, finalmente impressos, e viu lá seu nome na capa, ainda estranhou um pouco. O romance tem Alice como personagem principal. Será que Alice é alter ego de Renata Escarião ou vice-versa? A romancista responde: “Qual, na literatura, o limite entre a biografia e ficção? Há imparcialidade no jornalismo? Quanto de nós ou do que nos cerca é colocado em um texto, propositalmente ou não? Não há como dar uma resposta precisa. Convivamos com o mistério”. E por que o título “Sandálias Vermelhas”? Ah, só lendo o livro para entender, garante ela, que, no entanto, dá uma dica para nossos leitores: “As sandálias são objetos simbólicos na trajetória da personagem que tem representações variadas na história”.