Notícias

Literatura

Resgate da importância de Anayde Beiriz

publicado: 30/03/2023 12h22, última modificação: 30/03/2023 12h22
Hoje, em João Pessoa, Livraria A União promove a ‘Roda de Conversa’ em torno do legado vanguardista deixado pela escritora e professora paraibana
1 | 6
No começo do século passado, Anayde Beiriz (foto acima) era uma escritora de grande valor, além de professora de adultos e jovens em Cabedelo, numa época em que não era comum trabalhar com esse público. Foto: Reprodução.
2 | 6
Valeska Asfora. Foto: Adriano Franco/Divulgação
3 | 6
Ialmita Beiriz. Foto: Edson Matos.
4 | 6
Naná Garcez. Foto: Edson Matos
5 | 6
Edileide Vilaça. Foto: Acervo Pessoal/Facebook
6 | 6
Beatriz Gusmão. Foto: Acervo pessoal.
anayde_beiriz-foto-edson_matos  (21).JPG
1 - Valeska Asfora - Foto Adriano Franco Divulgação.jpeg
6 - Iitalmita Beiriz foto - edson_matos  (61).JPG
5 - Naná Garcez - foto edson_matos  (40).JPG
3 - Edileide Vilaça - Facebook.jpg
4 - Beatriz Gusmão - Acervo Pessoal.jpg

por Guilherme Cabral*

“Uma mulher que atravessou o tempo” é o tema do projeto Roda de Conversa que se realiza hoje, a partir das 17h, na Livraria A União, da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), instalada no Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa. Na oportunidade, a trajetória e o legado da escritora e professora Anayde Beiriz (1905-1930) deverão ser alguns dos aspectos tratados no evento, que será aberto pela produtora cultural e escritora Valeska Asfora, autora do livro Anayde Beiriz: a última confidência, e pela escritora Cyelle Carmem, esta última com a atriz Beatriz Gusmão e a jornalista Edileide Vilaça vão ler poemas e cartas de Beiriz. Ainda na ocasião, a diretora presidente da EPC, a jornalista Naná Garcez, entregará à família da homenageada a obra Paraíba na Literatura IV, publicação da Editora A União, que conta com perfil biográfico de Anayde Beiriz, assinado por Valeska Asfora.

Sobrinha de Anayde, Ialmita Beiriz elogiou a realização do projeto. “É sempre uma satisfação para a família Beiriz que eventos desta natureza aconteçam, pois ajudam a manter viva a memória de Anayde Beiriz. A família fica muito feliz em ver que, depois de tantos anos de fatos distorcidos, a história de quem realmente foi Anayde Beiriz venha sendo restaurada, se aproximando cada vez mais da verdadeira dela”, disse Ialmita, que representará a família Beiriz ao lado do outro sobrinho de Anayde, Mardônio Beiriz.

“A proposta para a Roda de Leitura ser abrigado na Livraria A União – a Casa da Literatura Paraibana, foi da escritora Valeska Asfora e ocorre em circunstâncias muito positivas, pois é mais um evento literário que vai ocorrer neste mês, que é dedicado às mulheres”, comentou Naná Garcez. “O evento irá resgatar a importância da figura feminina de Anayde Beiriz, uma escritora de grande valor, jovem e dinâmica, cuja trajetória Valeska Asfora reconta de maneira muito sóbria em seu livro. Isso é fantástico e é uma honra muito grande realizar o evento”, disse a diretora-presidente da EPC. A gestora acrescentou que a livraria tem sido espaço para lançamento de obras de autores paraibanos, ou radicados no estado, e que o próximo evento será de uma obra de André Aguiar em 18 de abril, que é o Dia Nacional do Livro Infantil.

Já Valeska Asfora comentou que o tema do evento é o mesmo título do artigo que publicou na coletânea Paraíba na Literatura IV, que reúne 20 perfis de escritores do estado e foi lançada em dois de fevereiro passado, data em que também se inaugurou o espaço físico da Livraria A União e a sua versão digital. “Mesmo tendo falecido em 1930, até hoje se fala em Anayde Beiriz, inclusive as novas gerações porque ela serve de referência para muitas mulheres, a exemplo da jovem Beatriz Gusmão”, apontou a escritora. “Então, eu usei essa expressão ‘atravessou o tempo’ porque é como se ela permanecesse viva, tanto no imaginário como referência até hoje. E, embora tenha se avançado muito, no conceito de feminismo, porque a época em que Anayde viveu, a década de 1920, não existia, ainda, o feminismo consolidado, esse conceito que a gente conhece hoje. E ainda hoje ela permanece como uma referência para as mulheres. Ela não era feminista, propriamente dita, mas era uma mulher que tinha atitudes, que superava limites, que era ousada”.

No bate-papo, Asfora vai falar sobre a pesquisa que realizou de 2016 a 2021 e resultou no seu livro, lançado pela Editora A União em 2022. “Eu me baseei em documentos, como cartas e correspondências, cedidas pela família, e escritos, poemas e contos, que ela publicou em jornais e revistas de Pernambuco, Pará e Rio de Janeiro. Foi uma pesquisa muito difícil, também realizada em instituições, porque o acervo de Anayde foi todo destruído pela polícia e muita coisa a família entregou para parentes que foram embora, porque a perseguição foi muito grande. O inquérito da morte de Anayde eu achei por acaso, no Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco, com a necrópsia e as cartas que ela deixou e onde revela que decidiu se suicidar por envenenamento, porque ela não tinha outra saída”.

Valeska Asfora ressaltou alguns aspectos do seu livro. “A obra mostra uma Anayde mais perto da realidade e reconheço que o mérito desse trabalho foi mostrar quem ela realmente foi e o que representa ainda hoje. Mostra que ela tinha uma produção literária de poemas e contos, apesar de estar no começo, e os publicava em jornais em Belém do Pará, Rio de Janeiro e, principalmente, em Pernambuco. Consegui traçar a trajetória de Anayde, do nascimento à morte, pontuando principalmente, a importância literária e como a mulher que rompia os limites impostos pelo patriarcado, na época”, comentou a escritora e pesquisadora.

Saindo das sombras

Durante a programação, a escritora Cyelle Carmen lerá alguns poemas de Anayde Beiriz e a artista Beatriz Gusmão, representando o Coletivo Cultural Anaydes, lerá dois poemas.

“Eu estava pesquisando sobre Anayde e fiquei muito feliz quando Valeska Asfora lançou o livro Anayde Beiriz: a última confidência. Esse evento vai relembrar a importância de Anayde para a Paraíba e que ficou tantos anos nas sombras, diante do que ela foi para a Paraíba”, comentou Cyelle Carmen. “As últimas publicações sobre Anayde foram os livros Anayde Beiriz: paixão e morte na Revolução de 30, de José Joffily, de 1980, e Anayde Beiriz - Panthera dos Olhos Dormentes, de Marcus Aranha, de 2005”.

Cyelle Carmen relembrou que Anayde Beiriz não era só uma escritora, mas também uma mulher que foi professora de adultos e jovens em Cabedelo, quando ninguém queria ensiná-los. “Ela propôs esse desafio e outro, que foi o da distância, pois viajava de trem, sem a comodidade de hoje, para ensiná-los na vila dos pescadores em Cabedelo, onde passava a semana hospedada na casa da tia, que morava lá. Anayde também rompeu vários padrões da época, como na maneira de se vestir, no tipo de corte do cabelo e participava de saraus, na capital, que eram frequentados principalmente pelos homens”, explicou a escritora.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 30 de março de 2023.