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Romance que nasce de momentos traumáticos

publicado: 31/07/2024 09h38, última modificação: 31/07/2024 09h38
Fernanda de Castro fala de seu novo livro, “Eu Gosto Mesmo É da Contradição da Noite”
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Autora uniu a experiência vivida em um sequestro a eventos fictícios | Foto: Wanezza Soares/ Divulgação

por Daniel Abath*

Emília adora listas e escreve tudo o que lhe vem à cabeça no quadro branco de seu quarto. Sensível, é amiga íntima da noite e, caso fosse possível, viveria somente durante o intervalo do crepúsculo. Mas a noite guarda absurdos e reviravoltas indigestas, traumáticas, como o ser vítima de um sequestro em família e a estranha angústia de que tudo acaba da pior maneira possível. Assim é o enredo de Eu Gosto Mesmo É da Contradição da Noite, romance new adult de Fernanda de Castro Lima, lançado em junho deste ano, em São Paulo, pela editora Astral Cultural.

"Eu percebi que eu precisava colocar isso pra fora. Eu precisava transformar isso numa história vivida por outras pessoas"
- Fernanda de Castro Lima

Externar os eventos reais de uma fatídica noite de assalto, entrelaçados a eventos fictícios na narrativa, despontou como uma vontade e uma necessidade por parte da autora, já que ela vivera algumas daquelas situações. “E não vou te dizer que foi um processo terapêutico, porque eu entendo que estou muito bem resolvida com alguns desses acontecimentos que eu vivi. Mas de certa forma eu percebi que eu precisava colocar isso pra fora. Eu precisava transformar isso numa história vivida por outras pessoas”, explica.

Fernanda de Castro, autora de As Dez-Vantagens de Morrer Depois de Você (2019) e coautora de Eu Chamo de Amor (2021), confessa que não costuma seguir um processo convencional de escrita. Muitas vezes as ideias surgem a partir de uma primeira frase que ela escreve, como foi o caso em Eu Gosto Mesmo É da Contradição da Noite. “Esse livro veio um pouco do título, que inicialmente não era o título”, conta, explicando que a primeira frase da história acabou virando o título por uma certa indefinição após o término da obra.

Devires noturnos

Momento de agitação e diversão, mas também de reclusão e solidão. Na noite, Emília, protagonista da obra, enxerga diversos contrapontos, afinal é durante uma noite que tudo acontece na história, inclusive o sequestro. “Quando a gente vive essas situações muito extremas é algo que de fato você para pra analisar um pouquinho e você fala: de fato, tudo poderia ter sido diferente, eu poderia ter morrido ou alguém que eu amo muito poderia não estar mais aqui”, comenta Fernanda.

A autora afirma que a sua intenção com o livro foi a de transmitir um pouco da experiência do sequestro que vivenciou, marcado por uma absurda ansiedade e temores irracionais. “Passa um milhão de coisas na cabeça e passa enquanto está acontecendo aquilo tudo. A sensação é sempre de que não está acontecendo. Alguém vai me dizer que é só um sonho, que eu vou acordar, que está tudo bem. É uma sensação um pouco assim de que você não está vivendo e, ao mesmo tempo, que você está vivendo tão intensamente aquele momento”, relata, relembrando a rapidez com que tudo aconteceu e os variados tipos de reação apresentados por cada um dos envolvidos, personificados no livro.

Noite de músicas e recomeços

Apesar do sequestro emergir como mote da obra, a noite em suas contradições também traz o doce perfume das paixões adolescentes. Convidados a entrarmos na cabeça de Emília e enxergarmos tudo sob a sua perspectiva, vemos que os acontecimentos daquela noite desencadeiam boas lembranças e muita música romântica tocada por Daniel, amor platônico de Emília e amante do violão.

Esse é justamente um atrativo especial do livro: as canções que aparecem na história existem de verdade, para além das páginas. Uma playlist foi desenvolvida exclusivamente para a história por Fernanda e seu companheiro, o músico Christopher Finney. Um QR Code direciona os leitores para um site com todas as faixas disponíveis, na ordem de sua aparição no enredo. “A gente estava bem no início do relacionamento e um dia, de uma mensagem de WhatsApp dele, (veio) essa música que ele tinha escrito pra mim. Eu achei aquilo tão incrível que eu falei, ‘poxa, eu quero aproveitar um dia pra poder colocar numa história’”, lembra a autora, ressaltando que o recurso imersivo surgiu de onde menos se esperava, tal como o querer viver muito mais coisas, recomeços, apesar das sombras de uma noite digna de esquecimento.

EU GOSTO MESMO É DA CONTRADIÇÃO DA NOITE
- De Fernanda de Castro.
- Editora: Astral Cultural. 224 páginas.
- R$ 49,90.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 31 de julho de 2024.