Uma paixão iniciada na época da graduação ganhou contornos profissionais com o tempo. Anos depois, Uns Cartuns, primeira publicação do escritor Roniere Leite Soares voltada para o universo do desenho, foi enfim lançada.
Formado em Desenho Industrial entre os anos de 1991 e 1995 e nascido em Campina Grande, o cartunista é também colunista de A União — publica quinzenalmente artigos para a página Memorial, sobretudo sobre música e literatura (língua), áreas de sua predileção.
“O curso de Desenho Industrial hoje é chamado mais de curso de Design. A gente tinha essa consciência no tempo, mas hoje reativou-se esse termo”, lembra ele, apontando a área de Desenho de Produto como pertinente à sua formação.
A maioria dos cartuns foi criada no período em que o artista estava concluindo a graduação, em 1995 – apenas cerca de 12 desenhos do livro, constantes nos apêndices, antecedem a época do curso. A motivação partia quase sempre dos fatos do dia a dia, em suas observações do cotidiano. Mas há vários espectros de abordagem que os textos do Memorial deixam entrever.
Na página 53 do livro, por exemplo, Beethoven (1770-1827) participa de uma prévia carnavalesca, enquanto o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) passeia em seu trenzinho caipira (na pág. 120). Afora a pegada musical, as questões sociais também são desenhadas, como em um episódio de uma sopa de meia (pág. 38), grevistas com descamisados (pág. 58), além de criações dedicadas ao viés metalinguístico.
Roniere Leite também já havia contribuído em outras ocasiões com o Diário da Borborema e com uma revista do município de Esperança. “Mas eu acho que foi falta de oportunidade, porque naquele tempo as coisas não eram como hoje”, ele afirma.
“Hoje, a gente tem muito acesso à informação. Inclusive foi uma das dificuldades de expandir meu trabalho, porque não tinha nem computadores naquele tempo, imagina a internet, ou softwares ou a pegada mais atual da inteligência artificial como a gente tem nas mãos hoje em dia. Os tablets para fazer desenhos digitais, vetorizados ou mapeados a bits — era tudo feito à mão livre, de forma muito artesanal”.
Outro quesito marcante em sua produção vem da influência que teve do quadrinista e jornalista campinense Fred Ozanan, no tempo em que morava no distrito de Boa Vista, Zona Rural de Campina Grande — Roniere viveu no distrito até os 27 anos de idade. Com a ajuda de Ozanan e de outro amigo, que sempre que podia levava para ele charges recortadas de jornais, a vontade de desenhar foi aumentando.
“Quando estava com mais experiência de traçado e até experiência de vida — em detectar as leituras da realidade cotidiana — eu comecei a fazer esses registros, mas não os publiquei. Fiz apenas exposições, como cito no próprio livro e deixei guardados para publicar depois”.
No fim do ano passado, o autor publicou a obra Cartapácio Mnemônico de Instâncias Poéticas (Centro Editorial IHCG, 430 páginas), seleta de poemas escritos em um período de 36 anos (1988-2024). Aos 54 anos e trabalhando como professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) na área de Engenharia, ele afirma o interesse em realizar outros projetos na seara dos traços.
“Eu tive o grande prazer de ter tido a contribuição no prefácio de Fred, um camarada que eu admiro e que tem toda uma história conhecida, premiada nacionalmente e internacionalmente, já reconhecido no Brasil como um dos nossos grandes cartunistas”, destaca Roniere.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 14 de dezembro de 2025.

