Hilton Gouvea
Já viu alguém dialogar com Ernest Hemingway como se fosse ao vivo? No ambiente artístico-literário da Livraria do Luiz (Galeria Augusto dos Anjos, Centro), o cronista Augusto Paiva, faz isso de forma convincente. Se o problema é conhecer, profundamente, Augusto dos Anjos, o professor Milton Marques Junior, doutorado em letras pela UFPB, desenrola isso com habilidade. Mais: em cada mesa desse café literário, além dos livros uma surpresa aguarda o visitante. Por exemplo, a exposição de Arte Naif, de Babá Santana, ocorre pioneiramente hoje, na galeria de arte do estabelecimento, sob a coordenação de Augusto Moraes.
Para Hildeberto Barbosa Filho, poeta, crítico literário, Mestre e Doutor em Literatura Brasileira, a Livraria do Luiz merece um livro, mas, com certeza, não será ele que irá escrevê-lo. “Aqui, em Filipéia de Nossa Senhora das Neves, temos uma José Olympio à nossa disposição, sempre aberta aos sortilégios dos que cultivam a leitura como uma ração diária de delírio, descoberta e espanto”, diz. E acrescenta: “nas manhãs de sábado senta-se às mesas daqui uma grei de artistas e intelectuais que faz da literatura coisa viva, concreta e cotidiana”. O poeta e escritor Políbio Alves, endossa esta afirmação.
“É uma livraria exceção à regra, sem ater-se à existência de mais um depósito de livros”, depõe o intelectual. “Ela continua sendo uma jovem senhora, exatamente sedutora, imortalizada na Galeria Augusto dos Anjos, pertinho do Ponto de Cem Réis, no Centro Histórico da capital”. Detalhista, Políbio declara que, “principalmente aos sábados, a Livraria do Luiz discute de tudo: das picuinhas cotidianas às vicissitudes literárias”. Outra: se o assunto é psicologia e espiritualismo, fale com o clínico – psicólogo Douglas Muniz e discuta o tema exaustivamente.
Milton Marques Junior me lembra de quando iniciou o espontâneo ajuntamento de intelectuais na Livraria do Luiz. “Os Sábados Literários começaram com a preocupação de artistas, poetas e professores, que idealizaram a revitalização do ambiente, a iniciar pela Galeria Augusto dos Anjos, que recebeu merecedora reforma do poder público. Ricardo e Janaína, donos da livraria, acolheram com satisfação as reuniões da cultura e o resultado é o que vemos atualmente: uma maravilha”. Milton frequenta o local há 40 anos e não deixou mais de ir por lá desde o lançamento de Epigrammaton, um livro de poemas satíricos de sua autoria.
De acordo com Milton, o comparecimento aos Sábados do Luiz é espontâneo e quem falta sente ter faltado e os amigos lamentam sua falta. Ainda como informação de Milton, “na Livraria do Luiz sempre estão as presenças sistemáticas de Antonio David, o Poeta da Imagem, do professor e folclorista José Nilton, do poeta, professor e ambientalista Giovanni Seabra, do desembargador José Fernandes, do romancista José Ronald e do cronista maior e mestre de todos Gonzaga Rodrigues. Sem citar as figuras indefectíveis de Paulo Emmanuel, do poeta e pesquisador Irani Medeiros e das artistas plásticas Valéria Antunes e Célia Gondim.
Os Sábados do Luiz tomaram fôlego e, agora, geraram a revista Tamarindo. Foi o primeiro passo para revitalizar o ambiente nostálgico do Pavilhão do Chá, como ponto de extensão das reuniões culturais da livraria, sendo a primeira realizada em 28 de setembro deste ano. Também são figuras de cadeira cativa na Livraria do Luiz o poeta e repentista Oliveira de Panelas, o documentarista Hélio Costa, o escritor José Nunes, o advogado-escritor José Caitano de Oliveira e o contador e advogado Mário Fernando Saraiva. Denilson Oliveira, habitualmente chega lá às 16h30. Nesta hora também aparece o dentista Ivan Falconi, para cantar modinhas.
Luiz Carvalho da Costa, ao fundar a livraria, em 1972, se preocupou em difundir a cultura local. “Ele morreu em 2008, mas cumpriu o principal objetivo da sua filosofia de trabalho“, conta o filho dele, Ricardo Emanuel, responsável por algumas adaptações implantadas no ambiente: a exposição de arte e o café literário, que dinamizaram o “point” de intelectuais mais frequentado, hoje, no Centro de João Pessoa. Os lançamentos de livros aos sábados se tornaram muito concorridos.