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Sandra Belê anima arraial no Miramar

publicado: 21/06/2024 09h52, última modificação: 21/06/2024 09h52
Cantora faz show hoje no Loca como Tu Madre, com clássicos do forró evocando a própria infância em Zabelê
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Sandra Belê prepara um novo álbum e deve lançar um single ainda neste ano | Foto: Divulgação/Kate Joenne

por Esmejoano Lincol*

Zabelê, município do Sertão paraibano: uma “pequena grande” cidade, com pouco mais de dois mil habitantes, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É de lá que vem a cantora e compositora Sandra Belê, nascida Elisandra Roméria da Silva. A filha de dona Maria Ivete e de seu Pedro Mucuri decidiu carregar em seu pseudônimo artístico parte do nome de sua localidade natal, como homenagem à sua terra. Prestes a completar 25 anos de carreira, ela celebra as festas juninas com um show hoje, em João Pessoa, a partir das 21h: o Arraial com Sandra Belê chega ao palco do bar Loca como Tu Madre, no bairro de Miramar. Os ingressos, a partir de R$ 20 mais 1 kg de alimento, podem ser adquiridos no site Sympla.

A apresentação de logo mais trará clássicos do forró, acompanhados por Lucas Carvalho na sanfona, Thiago Melo na zabumba e Zi Ramos na percuteria. O repertório evoca a infância de Sandra em Zabelê, período em que acompanhava o pai, sanfoneiro, nas apresentações em circos e quadrilhas. “Meu pai me ensinou a ouvir as grandes canções da música nordestina. Me inspirava quando tocava sua sanfona e, com ela, ele fazia as festas de São João”, conta Sandra, sobre Pedro Mucuri.

Adornada de flores e vestida a caráter, ela mesma dançou em muitos dos arraiás puxados por seu pai. “O que mais me faz sorrir quando lembro das festas são os intervalos no meio da quadrinha. Nesse momento, o cavalheiro deveria presentear a dama com um refrigerante”, recorda ela, com carinho. A mãe dela, rendeira, também lhe trouxe muita vivência sobre cultura popular. “Ela tem muita força e sabedoria. Me criou fazendo renda renascença, que é nosso ouro puro”, diz a artista, sobre Maria Ivete. 

Imersa na música desde o berço, começou a cantar e compor ainda muito jovem. Antes de completar 20 anos, ingressou como vocalista da banda Millenium, criada por encomenda pela Prefeitura de Zabelê. “Eles pagaram o professor Petinha de Monteiro para nos dar aulas de música. E eu estava lá, dando os meus primeiros passos”, revela Sandra. Foi por meio da banda que ela começou a circular com seu trabalho em outros municípios de nosso estado — principalmente Campina Grande, onde passou a morar anos depois.

Mas esse não foi o único deslocamento motivado pela carreira. A artista reside hoje em João Pessoa, mas chegou a passar uma temporada em São Paulo. A saudade do estado natal falou mais alto, e ela tomou a decisão de voltar para a Paraíba. “Tudo isso foi em busca da solidificação da minha arte. Não foi difícil sair de Zabelê, pois os sonhos nos estimulam. Mas também nunca me afastei de vez. Sinto falta mesmo é da minha família. Não é fácil ficar longe dela”, confessa.

Sandra Belê
- Hoje, às 20h
- No Loca Como Tu Madre(R. Joaquim Avundano, 62, Miramar, João Pessoa)
- R$ 30 (1o lote) e R$ 20 + 1 kg de alimento (lote social), antecipados na plataforma Sympla

Fazendo Ariano na TV

Passados cinco anos de carreira — segundo ela, contados a partir do ano em que recebeu o seu primeiro cachê, em 2000 —, estreou o seu primeiro trabalho solo, o CD Nordeste Valente. “O repertório era cheio de músicas incríveis do chamado ‘lado B’ da música tradicional nordestina. Tem até Sivuca nele. O encarte é bilíngue e cheio de afetos”, detalha Sandra, sobre o trabalho. Desde então, foram lançados mais um compacto e três álbuns. O último deles, Cantos de Cá, chegou às plataformas digitais em 2020. “Este não tem canções minhas, trago outros autores e autoras paraibanas. Ainda quero levá-lo para o Brasil inteiro — e além dele”, projeta Sandra. 

Ao longo de sua trajetória, a artista estreitou laços com a dramaturgia, primeiro com o monólogo autoral Maria do Barro. Tempos depois, ela participou de uma audição promovida pela equipe do diretor Luiz Fernando Carvalho. Aprovada, ela foi convidada a integrar o elenco da minissérie A Pedra do Reino, adaptação do texto homônimo de Ariano Suassuna, levada ao ar pela TV Globo em 2007. “Passei três meses vivendo essa experiência. Tive dois papéis na minissérie: uma cangaceira e uma vidente. Foi um aprendizado para a vida”, pontua. 

Seu trabalho como compositora segue firme na atualidade. Ao lado da colega Ana Regina Limeira, Sandra foi agraciada com o segundo lugar da sétima edição do Festival de Música da Paraíba (FMPB), no início deste mês. Participando pela quarta vez do evento, sua canção “Negro poder”, interpretada no palco pelo cantor Afrosonoro, se aprofunda nas origens de povo preto. A ideia partiu de Ana e que foi finalizada por Sandra.

Na final do FMPB, após o resultado, Sandra dedicou o prêmio aos seus ancestrais — alguns deles citados por suas autoras na letra da música: “A bênção, vó Mera / A bênção, Mãina / A bênção, vó Preta / E a preta Lia de Itamaracá / Meu Pai Benedito / Pai João, Pai Francisco / Saravá pretos velhos / Da nossa Mãe África”. “Certa vez enviei uma canção minha, mas ela não entrou. Depois entendi que não era hora. Festivais dessa natureza fortalecem o trabalho da composição”, opina.

Celebrando este momento importante de sua carreira, a artista de Zabelê projeta o lançamento de um novo compacto, fruto de edital de fomento da Lei Paulo Gustavo: Sussuarana já está sendo gravado e tem produção do músico pessoense Helinho Medeiros. “Vai sair nem que seja um single, ainda neste ano! É um presentaço para mim e para o público que me acompanha”, finaliza Sandra.

Através do link, acesse o site de venda de ingressos

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 21 de junho de 2024.