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Completando 133 anos de história neste ano, Teatro Santa Roza será o tema de bate-papo com mulheres que estiveram à frente da sua gestão

Santa Roza: memórias de uma casa de cultura

publicado: 02/06/2022 08h58, última modificação: 02/06/2022 08h58
2022.05.11_teatro santa roza © roberto guedes (110).JPG

Foto: Roberto Guedes

por Guilherme Cabral*

Um dos mais importantes equipamentos culturais da Paraíba, as reminiscências do Teatro Santa Roza, no centro da cidade de João Pessoa, vai além das paredes, cortinas, assentos e o palco por onde passou vários espetáculos e artistas. O aspecto humano, de gestão, será o assunto na primeira edição da roda de bate-papo, que será realizado gratuitamente hoje, a partir das 19h, no próprio teatro.

O evento presencial integra o projeto ‘Memórias do Santa Roza’, promovido gratuitamente ao público pelo Curso Livre de Teatro do próprio equipamento, que é vinculado ao Governo do Estado da Paraíba. O debate terá as participações de Itamira Barbosa, como mediadora, e das ex-gestoras Zezita Matos e Fabíola Moraes, além da atual diretora, Adriana Pio. Elas são as únicas mulheres que, até agora, estiveram à frente dessa instituição, que completará 133 anos de história no mês de novembro.

“A ideia de realizar o evento surgiu em conversas que mantive com a direção do teatro”, disse Caio Ceragioli, coordenador do Curso Livre de Teatro do Santa Roza. “Trata-se de um projeto para falar sobre histórias, memórias e funcionamento do Teatro Santa Roza, com o objetivo de servir como espaço de partilha e aprendizagem, com a participação de trabalhadoras e trabalhadores paraibanos, ou que estejam radicados ou radicadas no estado, em um processo de salvaguarda e fortalecimento da cultura teatral na Paraíba”, justificou ele.

Caio Ceragioli antecipou que, durante o evento de hoje, a gestão do teatro será o tema principal abordado. “Ao longo da história, somente três mulheres atuaram como diretoras do Santa Roza, o que caracteriza a predominância masculina, durante esses mais de 130 anos. Então, vamos reuni-las para que esse aspecto seja conhecido pelo público e que mais mulheres passem, no futuro, a ocupar cargos de liderança não apenas no Santa Roza mas também em outros equipamentos culturais”, frisou ele.

O bate-papo será dividido em três blocos. No primeiro, cada convidada vai falar sobre suas respectivas experiências à frente do Santa Roza. Em seguida, as três participantes vão responder a perguntas mais específicas, elaboradas por alguns dos 26 alunos – entre jovens e adultos – que estudam no Curso Livre de Teatro. Na última parte, questões poderão ser livremente feitas pelo público para Adriana Pio, Zezita Matos e Fabíola Moraes.

“Adriana Pio deverá falar, por exemplo, sobre alguns aspectos de sua gestão, como o trabalho durante a pandemia da Covid-19. Zezita Matos poderá falar, também, a respeito de como foi sua gestão, além da carreira como atriz. E Fabíola Moraes, como também é professora, conversar sobre seu trabalho na formação de artistas. O nosso objetivo é resgatar essas memórias para conhecimento do público”, comentou o coordenador, que pretende continuar realizando periodicamente mais edições do projeto.

Zezita Matos foi a primeira mulher a assumir a direção do Teatro Santa Roza, o que ocorreu de 1982 a 1984, durante a gestão do então governador da Paraíba, Wilson Braga. A atriz fez uma avaliação muito positiva desse período. “Recebi o convite de Ednaldo do Egypto e de Raimundo Nonato Batista. A princípio, fiquei em dúvida se aceitaria, pois era um desafio muito grande. Mas aceitei e foi uma experiência muito boa”, contou a atriz.

Uma das atividades no trabalho administrativo e pedagógico de Zezita Matos foi direcionado para a Escola de Ballet, por exemplo. “Coloquei o balé dançando na rua, não só na frente do Teatro Santa Roza, como também no Ponto de Cem Réis, numa ação que contei com o apoio da então coordenadora da Escola de Ballet do Santa Roza, Janine Marta Coelho”, relembrou a artista. “Os familiares vinham para os locais e quem passava podia assistir livremente. Outra coisa é que todo dia, às 17h, artistas como Fernando Teixeira vinham para o Santa Roza conversar sobre teatro e cinema, criando assim um ponto de encontro. Eu também abri uma galeria de arte nas dependências do teatro para exposições e criei um clube de mães, para receber as mães das alunas que vinham estudar ballet e ficavam na porta da sala olhando, desagradando a professora, pois atrapalhavam. Então, durante as aulas, as mães iam para uma sala onde aprendiam atividades como bordado e tricô”, elencou a ex-gestora.

Zezita Matos considerou inexplicável a sensação de ter sido a primeira gestora mulher do Teatro Santa Roza. “A oportunidade chegou de repente, mas pude dar conta do recado. Abri caminho para outras mulheres. Assim como também chegou a oportunidade para ser, atualmente, a primeira mulher a presidir a Academia Paraibana de Cinema”, contou a atriz.

Atual diretora do Teatro Santa Roza, cargo que exerce há sete anos e seis meses, Adriana Pio informou que pretende falar sobre sua experiência como gestora do equipamento. “Para mim, é uma honra poder dirigir esse teatro histórico e tão importante para a cultura paraibana e que completará 133 anos de existência no próximo dia 3 de novembro. No início, sentia o preconceito, por dirigir um equipamento que por tanto tempo foi gerido por homens. A turma ficava olhando, como a perguntar quem é essa mulher que chegou para assumir a direção. As mulheres lutam muito para poderem ser ouvidas e respeitadas num universo majoritariamente masculino. Era estranho, mas agora isso não é tanto mais”, garantiu a administradora. “Quando assumi o cargo, fui percebendo a importância histórica do Santa Roza. Ser diretora é bem desafiante pois, além da gestão do equipamento, tem todo o entorno para lidar, numa área frágil e de muitas carências no Centro Histórico da cidade", comentou Adriana Pio.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 2 de junho de 2022