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Saudação ao popular

publicado: 13/09/2024 09h29, última modificação: 13/09/2024 09h29
Canção autoral paraibana é tema de concerto que reúne a Sinfônica da UFPB e a Pequena Orquestra Popular
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Dez artistas participam hoje, entre eles: Adeildo Vieira, Escurinho, Uaná Barreto, Nathalia Bellar e Gláucia Lima

por Daniel Abath*

Duas orquestras e 10 artistas da música autoral paraibana, juntos, dividindo um mesmo palco em uníssono. A Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Paraíba (OSUFPB) e a Pequena Orquestra Popular (POP), também da UFPB, se apresentam hoje, às 20h, no Parahyba em Concerto, na Sala de Concertos Radegundis Feitosa, da UFPB. Com entrada gratuita e por ordem de chegada, o evento consiste em uma homenagem à música independente da Paraíba, representada no concerto pela participação de Adeildo Vieira, Erick, Escurinho, Glaucia Lima, Guga Limeira, Jéssica Cardoso, Ju Fábia, Nathalia Bellar e os irmãos Rudá e Uaná Barreto.

O coordenador da POP, Chico Santana, explica que o concerto foi pensado desde o ano passado, quando a OSUFPB lançou um edital de seleção para propostas artísticas que seriam executadas na programação de 2024. A partir da submissão de um projeto da POP, o coordenador da OSUFPB
e maestro do concerto, professor Carlos dos Santos, afirma que passou-se a uma fase de levantamento e seleção de compositores vivos, residentes na grande João Pessoa, e que possuíssem algum tipo de ligação com a UFPB.

A OSUFPB é uma orquestra profissional de cordas, dotada ainda de uma trompa e um clarinete, formada por músicos experientes no âmbito da música de concerto. Já a POP é composta por estudantes de graduação, pós-graduação e extensão da UFPB, boa parte deles com trabalhos relevantes na música popular, inclusive junto a algumas das atrações do concerto. Em sua “cozinha”, ou seção rítmica, a POP conta com bateria, percussão, piano, contrabaixo elétrico, guitarra e violão, além de instrumentos de sopro e das vozes dos cantores e cantoras da orquestra.

Entre o erudito e o popular

O conhecimento prévio de Chico acerca dos trabalhos dos músicos Uaná e Rudá Barreto foi o pontapé inicial para unir a orquestra erudita e a popular na noite de homenagens. “O processo de seleção dos artistas foi uma proposta inicial com Uaná e Rudá, a partir do conhecimento deles e da atuação como músicos independentes na Paraíba. Aí a gente abriu o diálogo com algumas sugestões que eu trouxe e o Carlos também participou desse diálogo”, comenta Chico, que pensou não apenas nos contemporâneos, mas também nos predecessores de importante atuação na música paraibana, como Adeildo Vieria e Escurinho.

“Esse contato possibilita uma troca de conhecimentos musicais que enriquecem ambos os grupos. Para a POP, o contato com esse ritmo rápido de preparação, com um alto grau de exigência musical, acrescenta no desenvolvimento técnico, instrumental e profissional de seus integrantes. Para a OSUFPB, é sempre importante ampliar e atualizar seus conhecimentos e o contato com os integrantes da POP. Este repertório possibilita isso”, declara Carlos.

A Pequena Orquestra Popular possui tanto uma proposta de acolher estudantes de música quanto ex-estudantes de música da UFPB, além de professores da instituição e, claro, a comunidade não acadêmica. O músico Escurinho, aluno de licenciatura em Música, considera que a relação de proximidade com a universidade é fundamental para a articulação de projetos como esse. “A maioria dos músicos da orquestra são meus colegas da universidade, a maioria deles conhece minha música, a minha relação de produção sempre atualizada com a música paraibana”, afirma o músico.

“Desde o início, em 2022, a POP atua como um projeto de extensão, o que é muito importante e muito caro para a gente; isso de abrir para musicistas que tenham formação, que não são da universidade, e botar todo mundo junto para tocar. Então esse é o desafio no sentido de que são duas orquestras que têm diferentes graus de experiência musical. Então o desafio é botar essas duas orquestras juntas para tocar, entre aspas, de igual para igual”, assevera Chico.

Para Adeildo Vieira, outro homenageado da noite, a OSUFPB se caracteriza por entender que não há duas músicas (erudita e popular), mas uma só música que pode ser trabalhada com formações diferentes. “A formação que todo mundo considera como erudita, a OSUFPB coloca a serviço do popular também”, frisa o compositor, atento à importância da proposta quanto à desmistificação e à popularização daquilo que é produzido em âmbito acadêmico.

ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFPB E PEQUENA ORQUESTRA POPULAR
- Hoje, às 20h na Sala Radegundis Feitosa (Centro de Comunicação, Turismo e Arte, UFPB, João Pessoa)
- Entrada franca.

Homenagem histórica

Uaná Barreto detalha que ele, o irmão Rudá e o professor Carlos foram os responsáveis pelo arranjo do concerto. Além de organizador, Uaná também é homenageado pelo evento e tocará duas músicas ao piano. O músico esclarece que já houve outros concertos com temáticas populares dentro da OSUFPB, mas essa é a primeira vez que a orquestra dispõe de um concerto temático abarcando diversos compositores da música paraibana.

O recorte histórico é apontado por Uaná como um dos critérios fundamentais à elaboração do projeto. “É um concerto que vai realmente enaltecer a música produzida na Paraíba. A gente espera que seja a primeira de várias edições. Está bem bonito, bem legal”, afirma.

“Eu fiquei profundamente emocionado e me senti muito contemplado, mas não pessoalmente. Eu me senti contemplado por fazer parte de uma cena que é tão exuberante, né? E que artistas da nova geração conseguem compreender uma linha histórica desse processo que a gente vive hoje”, confessa Adeildo.

Para ele, a escolha por artistas já conhecidos do público e de músicos mais jovens só engrandece ainda mais o evento. “Há uma contemplação histórica num único concerto. Há um adensamento conceitual nesse concerto e eu acho de profunda felicidade”.

De acordo com o maestro da OSUFPB, este será o segundo encontro entre as duas orquestras, um prelúdio para possíveis movimentos futuros: “O primeiro ocorreu em junho deste ano, no São João. Esperamos que essa parceria se repita na próxima temporada, inclusive promovendo uma turnê por outras cidades do estado e da Região Nordeste. Precisamos de apoio e patrocínio para que isso ocorra. Então estamos na expectativa de buscar tais recursos”, conclui Carlos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de setembro de 2024.