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Seca histórica em musical paraibano

publicado: 19/04/2024 11h50, última modificação: 19/04/2024 11h50
Espetáculo ‘1932, o que Aconteceu?’ estreia, hoje, para o grande público na Usina Cultural Energisa
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O drama da seca de 1932 no Ceará é o cenário para a peça do Coletivo 32, criado para lançar a nova montagem | Foto: Larissa Taboza/Divulgação

por Esmejoano Lincol*

Que eventos marcaram o Brasil no ano de 1932? O direito ao voto foi finalmente conquistado pelas mulheres. A Revolução Constitucionalista contra o governo de Getúlio Vargas eclodiu no estado de São Paulo. E um sinistro acontecimento: a seca de 1932, que afetou diversos estados da região Nordeste, mas de forma mais contundente o Ceará, produzindo neste ínterim consequências desastrosas. A peça 1932, o Que Aconteceu?, da diretora pessoense Letícia Rodrigues, tenta remontar os acontecimentos daquela fatídica data sobre o olhar singular da música e do teatro de revista. A primeira apresentação pública do espetáculo, que está há alguns meses participando de mostras locais, será hoje, às 20h, na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa.

A seca de 1932 inspirou alguns registros literários quase que contemporâneos à tragédia, a exemplo de Vidas Secas, de Graciliano Ramos – talvez o mais célebre trabalho sobre o ocorrido. Na ocasião, mais de 70 mil pessoas foram isoladas em campos de concentração do interior do Ceará, na tentativa desumana de conter a migração das populações beradeiras rumo à capital, Fortaleza.

1932, O Que Aconteceu?

- Do Coletivo 32. Texto baseado em trabalho de Marcos Barbosa. Direção: Letícia Rodrigues.
- Hoje, às 20h
- Na Usina Cultural Energisa (Av. Juarez Távora, 243, Tambiá, João Pessoa)
- Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), antecipados na Sympla.

Para escrever sua nova peça, Letícia se inspirou na pesquisa de mestrado desenvolvida pelo professor e dramaturgo cearense Marcos Barbosa, intitulada “Curral Grande: construção de um texto dramatúrgico abordando o isolamento de flagelados no Ceará durante a seca de 1932”, defendida em 2003 e editada em livro quase uma década depois, dentro da qual foi elaborado um espetáculo teatral. O trabalho de Marcos inspirou outras montagens, como aquela realizada pelo coletivo baiano de teatro Ponto Zero, em 2014.  

Para produzir a peça, os atores e a diretora decidiram fundar o Coletivo 32 – numa referência ao ano e ao título do espetáculo. Com o grupo consolidado, a pesquisa para 1932, o que aconteceu?, foi realizada em dois meses, ao passo que os ensaios com o elenco, formado pelos atores Denis Almeida, Juliane Ramalho, Taizé Lima e Juciene Fernandes, consumiram outros três meses. O figurino e a direção de arte foram concebidos de forma coletiva pela diretora e pelos atores; Letícia também assina a maquiagem da peça. O estudo do tema foi feito por Denis e o roteiro foi elaborado por Juliane, com contribuição dos demais colegas. Por ser um musical, os artistas serão acompanhados por Chris Maurício, que além de cantar estará tocando violão e teclado.

Teatro como denúncia

A artista pontua que a existência desses campos de concentração no Ceará ainda é pouco conhecida do grande público. O assunto não é amplamente discutido nas aulas de História em escolas, por exemplo. Para que os pessoenses possam saber um pouco mais sobre o percurso tortuoso dos flagelados cearenses, Letícia projetou um espetáculo com audiodescrição (sendo, portanto, acessível para deficientes visuais) e com outros elementos que vão além da imagem e do som.

“Tentaram apagar essa chaga da nossa história. Acredito no teatro das possibilidades, o teatro invasivo, onde o público poderá sentir tudo. Fiz questão que tivéssemos também cheiros familiares durante a encenação “, detalha a artista.

Conhecida por seus trabalhos com comédia, sobretudo ao lado de seu irmão, Romilson Rodrigues (com quem firma a dupla de personagens Diet e Light), a diretora quis dar a este assunto complexo e espinhoso alguma leveza. “Não queria uma obra caótica ou mórbida, de muito sofrimento. Optei por trazer um pouco de humor da época. Criamos uma peça com formato de teatro de revista da seca. Algumas das cenas que chamam atenção são os comerciais da época, como o da Loção Brilhante. Quem usaria loção onde existia seca?” detalha Letícia.

Os integrantes do Coletivo 32 projetam para breve a concepção de outras obras em conjunto – o próximo, “será mais um musical”, adianta Letícia. Apesar da leveza com que conduz esta e as futuras peças do Coletivo, Letícia acredita que a denúncia sobre a seca de 1932 precisa ser chamativa para o público. “Acredito que João Pessoa mereça mais espetáculos de caráter documental. Mas para esta peça, mudei o título de A Grande Seca para 1932. Essa alteração aguça o público a pesquisar mais sobre o que aconteceu naquele ano”, finaliza a diretora.

Através do link, acesso o site de venda dos ingressos para a peça

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de abril de 2024.