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‘A Paraíba e seus problemas’

Seminário aborda o livro precursor

publicado: 20/12/2023 09h11, última modificação: 20/12/2023 10h54
Hoje, na Fundação Casa José Américo, em João Pessoa, haverá debates e lançamento de um ‘fac-símile’ digital
a paraiba e seus problemas © roberto guedes (1).jpg

Publicada em conjunto pela Eduepb e a Editora A União, a fortuna crítica ‘A Paraíba e seus problemas — Cem anos depois’ ganhará um segundo volume no próximo ano - Foto: Roberto Guedes

por Guilherme Cabral*

“O livro A Paraíba e seus problemas é atual, porque alguns desses problemas ainda não foram resolvidos, a exemplo do calado do Porto de Cabedelo e as estradas, que ainda não articulam devidamente a economia paraibana. É um livro seminal, porque serviu de base para José Américo escrever suas demais obras”. Foi o que disse o historiador José Octávio de Arruda Mello, que hoje participa, a partir das 9h, no auditório da Fundação Casa de José Américo, em João Pessoa, da mesa-redonda “Reedições da fortuna crítica – primeiras análises”.

O evento faz parte da programação comemorativa que começou ontem, na Livraria A União, na capital, com o lançamento de A Paraíba e seus problemas — Cem anos depois (Eduepb/Editora A União), fortuna crítica organizada por José Octávio e Lúcia Guerra, além do Glossário de A Paraíba e seus problemas (Mídia), de Socorro de Aragão.

Depois da mesa redonda, às 11h, haverá o lançamento do e-book da primeira edição de A Paraíba e seus problemas (Eduepb/FCJA) e da obra Dicionário do Governo Vargas: da Revolução de 1930 ao suicídio (7 Letras, 2023), organizada por André Barbosa Fraga, Mayra Coan Lago e Thiago Cavaliere Mourelle.

Durante a mesa-redonda, que tem coordenação da professora Lúcia Guerra, gerente de Arquivos da FCJA, José Octávio vai participar com mais uma expositora, a historiadora Rosa Maria Godoy. “Na minha fala, vou chamar a atenção para o fato de que algumas interpretações do livro A Paraíba e seus problemas são didáticas e precisam ser levadas às escolas, para que se discuta a Paraíba em bases mais realistas”, disse Octávio.

“Esse livro de José Américo é muito importante porque representa uma tentativa de visualização do Nordeste, porque até então, ou seja, na década de 1920, o Brasil era visto em termos de regiões Norte e Sul. A partir da Primeira Guerra Mundial, que terminou com o Tratado de Versalhes, onde o paraibano Epitácio Pessoa participou representando o país, foi aberto o caminho para a divisão do Brasil em aspectos sociais, culturais e em regiões geográficas, surgindo a denominação de Nordeste. A novidade do livro de José Américo não é exatamente sobre a Paraíba, mas focalizar a Paraíba no contexto da região Nordeste, aproveitando o impulso provocado pelos autores pernambucanos Gilberto Freyre e Agamenon Magalhães, que estavam trabalhando nisso”, ressaltou José Octávio.

Para o historiador, A Paraíba e seus problemas foi um livro precursor. “Muitas das teorias levantadas por José Américo nesse livro só vieram a ser consagradas 30 anos depois, como a questão do cangaço, antecipando que essa atividade era manifestação de banditismo social, coisa que o autor Eric Hobsbawm só viria a dizer em seu Bandidos. O livro de José Américo, com quase 800 páginas, é um grande livro, duro e não é fácil de ler. É por isso que nosso objetivo, durante o seminário, é procurar torná-lo compreensível por parte do público. É um livro que tem interpretação nova, com uma feição antroposociológica, que aponta os problemas, mas também sugere soluções”, afirmou Octávio.

Durante o seminário, será realizado o primeiro lançamento, fora do Rio de Janeiro, do livro Dicionário do Governo Vargas: da Revolução de 1930 ao suicídio. “Eu escrevi o capítulo que mostra a trajetória pública e política de José Américo de Almeida, mas com foco nas eleições presidenciais de 1937, quando José Américo é candidato a presidente da República contra Armando Sales, representante dos cafeicultores, e Plínio Salgado, da Ação Integralista Brasileira”, explicou o professor de História do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Jivago Correia Barbosa. “Mas a eleição não se realizou porque Getúlio Vargas instalou, em 10 de novembro de 1937, o Estado Novo, sob o argumento de que o Plano Cohen era um suposto plano comunista de tomada de poder e ele acusou a Aliança Nacional Libertadora”, comentou ele.

Jivago Correia vai coordenar, a partir das 14h, a mesa- redonda sobre “Reedições da fortuna crítica – análises mais recentes”. Os expositores serão Flávio Ramalho de Brito, que falará sobre “Gilberto Freyre e A Paraíba e seus problemas”; Neide Medeiros (“A Paraíba e seus problemas na visão de José Lins do Rego); Guaracy Medeiros de Assis (“A Paraíba e seus problemas: visão político-administrativa e socioeconômica”); e Solange Pereira da Rocha (“A miscigenação em A Paraíba e seus problemas).

Já a professora Lúcia Guerra informou que a versão digital de A Paraíba e seus problemas é um fac-símile. Quanto ao livro A Paraíba e seus problemas — Cem anos depois (Eduepb/Editora A União), a gerente de Arquivos da FCJA informou que foi feito um trabalho de pesquisa para mapear a fortuna crítica sobre essa obra de José Américo em todo o país. Para realizar tal tarefa se contou com o auxílio da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior do Estado, através da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq).

O professor Jivago Correia informou que, em 2024, será lançado o segundo volume de A Paraíba e seus problemas — Cem anos depois, reunindo textos inéditos de vários autores, com organização do próprio Jivago e do professor e diretor da Eduepb, Cidoval Morais. Ele observou que o trabalho vem sendo executado, em parceria com a Fapesq, por meio do projeto ‘A Paraíba e seus problemas’: Permanências e Transformações, do qual o professor Jivago Correia é o coordenador e cuja equipe ainda conta com Enzo Cabral, graduando em História pela Universidade Federal da Paraíba, Thayná Fernandes, graduanda em Letras pela UFPB, e a pesquisadora Ana Andréia Vieira, do Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR).

*Matéria publicada originalmente na edição impressa de 20 de dezembro de 2023.