Guilherme Cabral
Cinquenta anos de poesia condensadas em um único livro. Trata-se de uma tarefa que o próprio autor admite estar sendo “exaustiva”, não apenas porque ainda continua selecionando o material, como também pelo trabalho de garimpar, em clima de retrospectiva, esse longo período, durante o qual escreveu - e publicou - algumas centenas de poemas. Mas é nesse projeto, o de lançar, no próximo ano, a nova obra - que já possui o título definitivo, Folha corrida, e terá alguns textos inéditos - que o poeta paraibano Sérgio de Castro Pinto se encontra debruçado e não foge do desafio, pois com ela pretende marcar o transcurso de duas datas representativas, ambas em 2017: as cinco décadas de carreira literária e os 70 anos de idade, que se completarão no dia 25 de abril.
“Estou escolhendo os poemas mais representativos de cada fase da minha carreira literária, que compreende desde 1967 a 2016. A obra ainda terá uns quatro ou cinco poemas inéditos, que não havia aproveitado no livro A Flor do gol, de 2014, como, também, pelo menos outro, que não figurou de O Cristal dos verões, de 2007”, antecipou Sérgio de Castro Pinto para o jornal A União, acrescentando que selecionou, por exemplo, A Bomba, integrante da 1ª edição de A Ilha na ostra, de 1970. Ele também vai inserir, em Folha corrida - que deverá ser publicado pela editora Escrituras, de São Paulo, a mesma que lançou seus livros mais recentes - uma fortuna crítica, contendo trechos que poetas, críticos e ensaístas já escreveram, ao longo do tempo, sobre a sua obra.
Castro Pinto esclareceu o motivo de ter escolhido Folha corrida. “Tinha em mente vários títulos, nenhum que me agradasse: Homens, bichos & coisas, Breves dias sem freio, No Septuagésimo assalto, Inventário, Invenções... De tanto dar trato às bolas, surgiu este, que me agradou e também à família e aos amigos. É um título que pode parecer sarcástico, jocoso, mas esse volume, de apenas 218 páginas, com mais de 100 poemas, condensa toda uma vida dedicada à poesia, desde quando eu me lancei em livro até os dias atuais, quando já estou me aproximando do exercício findo”, disse o autor, que, se possível, pretende lançá-lo em abril de 2017. Ele ainda informou que incluirá, em sua nova obra, o prefácio que o escritor e jornalista José Nêumanne Pinto produziu para Zôo imaginário e os que os críticos João Batista de Brito e Hildeberto Barbosa Filho redigiram para A Flor do gol. A capa da obra, inclusive, já foi encomendada ao artista plástico Flávio Tavares, que tem colaborado na criação de desenhos a partir do segundo livro publicado pelo poeta.
Embora esteja prestes a comemorar seus 50 anos de poesia e sete décadas de vida, Sérgio de Castro Pinto confessou que produziu poucas obras, em comparação com outros autores. Ele disse, em tom de justificativa, demorar para escrever e lançar seus livros. “Alguns não passam pelo meu crivo, pois não acho que estejam à altura para serem publicados”, comentou o escritor, acrescentando - de forma bem humorada - que, quando está criando seus poemas, costuma mais rasgar o papel e jogar na cesta do lixo do que guardá-lo. No entanto, admitiu que, em outras situações, consegue retomar a poesia e continuar trabalhando-a.
Indagado pela reportagem sobre uma avaliação da atual cena poética no Estado, Castro Pinto respondeu de maneira positiva, embora tenha preferido não mencionar nomes, para evitar esquecimento de algum autor. “A poesia paraibana é muito forte e louvo, sempre, o Correio das Artes, por ser um espaço para a divulgação de novos autores, além dos veteranos, e propiciar a troca de conhecimento entre os autores da Paraíba com outros do País”, disse ele. A propósito, essa publicação do jornal A União recebeu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1981, quando ele era o editor, prêmio por ter sido o suplemento que melhor divulgou a cultura brasileira, ao longo do ano anterior.
Natural da cidade de João Pessoa, Sérgio de Castro Pinto publicou, no total, os seguintes livros: Gestos lúcidos (1967), A Ilha na ostra (1970), Domicílio em trânsito (1983), O Cerco da memória (1993), A Quatro mãos (1996), Zôo imaginário (2005), O Cristal dos verões (2007) e A Flor do Gol (2014), todos de poesia. Já na área do ensaio, ele lançou Os Paralelos insólitos (1996), Longe daqui, aqui mesmo – a poética de Mario Quintana (2000), A Casa e seus arredores (2006) e O Leitor que eu sou, em 2015, ano em que também gravou o CD Muito além da Taprobana e de Pasárgada, contendo cerca de 80 de seus poemas selecionados.